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terça-feira, novembro 02, 2004

politica

QUESTÃO DE ORDEM
MAURO SANTAYANA
29/10/2004
A rinha e a arena
A população começa a ver na Polícias Federal mais qualidades do que defeitos. E uma dessas qualidades é a de não se curvar à suposta importância de certas pessoas. Assim foi com a prisão de Duda Mendonça numa rinha e a apreensão de documentos de Daniel Dantas e Carla Cicco.
A Polícia Federal não é uma corporação de santos guerreiros: de vez em quando se descobrem escândalos envolvendo alguns de seus integrantes. Mas a população começa a ver na instituição mais as suas qualidades do que os seus defeitos. E uma dessas qualidades é a de não se curvar à suposta importância de certas pessoas. Assim foi com a prisão do Sr. Duda Mendonça em uma rinha, assim foi com a apreensão de documentos da empresa Kroll, do Sr. Daniel Dantas e da Sra. Carla Cicco.
Tanto em um caso como no outro, trata-se de fazer valer a lei. Não cabe à Polícia discutir se a lei é boa ou má; cabe-lhe velar para que seja aplicada. Maquiavel que, ao contrário do que se pensa, era intransigente defensor da ética política, adverte que se aceitarmos a violação da lei (ele fala especificamente da Constituição) por uma razão justa, teremos que aceitá-la por qualquer outra razão. A lei proíbe briga de galos: que a lei seja cumprida. O Sr. Mendonça, em nome de sua notoriedade, queixou-se, e disse que não fazia nada de mais. Fazia, sim: violava a lei.
No caso do Sr. Dantas não se trata de uma peleja de galináceos, mas de uma disputa de predadores de grande porte. O Sr. Dantas surgiu no mercado financeiro com o mesmo apetite com que os gaviões caem sobre os ninhais de passarinhos. Em poucos anos, com o controle de parcelas minoritárias de capital, conseguiu meter-se em todos os negócios rendosos do País, mas, sobretudo, dos rendosos negócios da privatização dos últimos dez anos. Tal era a sua desenvoltura no governo passado que foi um dos últimos convivas do Sr. Fernando Henrique no Palácio da Alvorada. Já nas vésperas da posse de Lula, o presidente o recebeu, para um jantar a dois. Não se sabe do que trataram, mas, naquelas horas, como se divulgou, o eminente sociólogo cuidava de alicerçar o Instituto que leva o seu nome, e passava o chapéu entre os seus amigos.
Não interessa ao povo brasileiro saber quem tem razão na disputa entre a Telecom Itália e a Brasil Telecom, embora tudo indique que o banqueiro baiano tenha dado uma rasteira em seus sócios peninsulares. Dar rasteiras era prática usual entre os privatizadores, conforme as conversas telefônicas gravadas entre o Sr. Mendonça de Barros e o Sr. Ricardo Sérgio. Não interessa, porque, na realidade, eles se uniram para adquirir o imenso patrimônio que adquiriram a preço de banana. Para nós não há, essencialmente, diferença entre os srs. Dantas e Demarco.
Alguma coisa está realmente mudando neste País, e graças à aliança entre o Ministério Público e a Polícia Federal. Cometem-se exageros? Cometem-se. Mas, na defesa do interesse nacional e do patrimônio público, é preferível o exagero, que pode ser corrigido pela Justiça, do que a omissão dos tempos recentes. A Polícia Federal, com seus atos, está dizendo a todos que, diante da lei, não há amigos do Príncipe (como é o caso de Duda), nem milionários (como é o caso de Dantas).
O famoso bandoleiro Antonio Silvino dizia que nunca vira na cadeia ninguém com mais de cinqüenta mil reis no bolso. Já estamos começando a vê-los.

Mauro Santayana, jornalista, é colaborador do Jornal da Tarde e do Correio Braziliense.

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