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René Queiroz

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sábado, outubro 07, 2006

Cenas de sectarismo explícito

Cenas de sectarismo explícito
I. Em 1954, no marco das mobilizações de denúncia contra a corrupção e seus desdobramentos do governo de Getúlio, de que os comunistas participavam, Almino Afonso – o digno e combativo dirigente da esquerda brasileira nas últimas décadas – teve um estranho sentimento quando, no largo São Francisco, viu chegar uma manifestação contra o Getúlio, com um bando de mulheres quatrocentonas, o mais representativo da oligarquia paulista (a Daslu da época).Nesse momento Almino começou a se perguntar se o PC estava mesmo do lado certo. Imediatamente em seguida ao anúncio do suicídio de Getúlio, o povo saiu às ruas do Rio de Janeiro e um dos seus principais alvos foi a sede do jornal do Partido Comunista. A sensibilidade política dos dirigentes comunistas – possivelmente sob o impacto da extraordinária carta-testamento de Getúlio, apontando para os verdadeiros inimigos do povo, o imperialismo em primeiro lugar – mudaram sua posição.Alvo de uma brutal campanha de denúncias, com um forte tom golpista, Getúlio esteve no limite do impeachment, de que o salvou o suicídio, a carta e a mobilização popular. A direita estava pronta para assumir o governo, com um movimento militar, quando o suicídio reverteu tudo, desfez o mal-entendido da aliança da esquerda com a direita.
II. Começo dos anos 30, Alemanha: os comunistas caracterizavam a social-democracia como “braço social do nazismo”, uma espécie de quinta coluna do nazismo dentro do movimento operário e da esquerda. Os social- democratas diziam que o comunismo e o nazismo eram apenas variantes do totalitarismo, no fundo a mesma coisa.Resultado: divididos, os partidos de esquerda facilitaram a ascensão do nazismo, que não teve eqüidistância, nem neutralidade: reprimiu ferozmente ambos e se consolidou no poder por muito tempo, graças à incapacidade da esquerda de distinguir um aliado tático de um inimigo fundamental, de distinguir as fronteiras entre o campo da esquerda e o da direita (as análises de Trotsky em Revolução e contra-revolução na Alemanha são o melhor modelo de crítica do papel nefasto do sectarismo e do ultra-esquerdismo).
III. A China maoísta, divergindo do modelo soviético e da política externa da URSS, caracteriza a esta como tendo retornado ao capitalismo. Como vivemos na época imperialista do capitalismo, uma potência capitalista é imperialista. Assim, a URSS seria imperialista. Como teria um disfarce socialista, a chamavam de social-imperialista. Como os EUA seriam o imperialismo decadente e a URSS o imperialismo ascendente, este seria o mais perigoso. O que autorizaria a alianças com o imperialismo decadente contra a URSS. Favoreceram o isolamento e a derrota da URSS, que teve efeitos negativos para todo o campo da esquerda no mundo.São cenas de que a esquerda deveria tirar lições na hora de caracterizar as forças em presença, os enfrentamentos de classe e seu alinhamento – se quer ser considerada esquerda, frontalmente oposta à direita.
Postado por Emir Sader às 12:17

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