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René Queiroz

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quarta-feira, março 03, 2010

Proposta de Tasso não é séria

O garoto volta da escola com uma nota baixa e o pai, ao ver o boletim, aplica-lhe um tapa na cara:
- Isso vai nos custar duas semanas de fome, seu fio-duma-peste.
O professor, ao corrigir provas dos alunos, terá a responsabilidade de fazer essa ou aquela família passar mais fome que a outra. Não, a proposta de Tasso, definitivamente, não é séria. Não há sentido em vincular o bolsa família ao desempenho dos alunos. Até porque as escolas brasileiras, sobretudo das regiões pobres onde há ampla cobertura do bolsa família, não possuem sistemas de avaliação confiáveis. Enquanto voava em seu jatinho, Tasso, desesperado para ganhar visibilidade fácil, imaginou o estratagema mais eleitoreira possível: propor o aumento do bolsa família. Para não ser acusado de populista, no entanto, teve essa idéia estapafúrdia, tipica de um homem distante da vida simplória das pessoas comuns, de atrelar o aumento do benefício ao desempenho do aluno. Falta pão para o povo? Ora, que comam brioches!
A senadora Ideli Salvati foi a única com bom senso para detectar o absurdo da proposta. A criança sofrerá pressão emocional. Não sei se Ideli percebeu que o professor também sofrerá pressão. Nunca mais corrigirá provas com a isenção necessária. Cada questão corrigida numa prova corresponderá a um valor pecuniário do qual ele privará o aluno, o qual por sua vez irá odiar o mestre, insensível à sua lamentável situação familiar. Muitos professores, compassivos, irão dar somente dez para todos os alunos, para ajudar suas famílias a receberem um pouco mais de dinheiro.
Enfim, serão criadas uma série de distorções, de vícios, de pressões, que apenas contribuirão para denegrir o bolsa família. Além disso, põe o programa em evidência, o que não é saudável. Apesar do tamanho, um programa social deste tipo deve oferecer discrição às famílias que o recebem, pois sempre é uma prova de pobreza extrema. Por isso o cartão é tão bom. Uma vez eu viajei ao nordeste, nos tempos fernandistas, e vi, diante do Banco do Brasil (ou Caixa), uma enorme fila formada na praça de uma cidadezinha do interior. Perguntei a alguém e fui informado que se tratava da distribuição do bolsa escola, o programa social que os tucanos alegam ser o pioneiro do Bolsa Família. Era uma vergonha. Sob um sol escaldante, as donas de casa eram obrigadas a esperar horas a fio para recolher um montante não superior a 15 reais. A humilhação era chocante, porque as senhoras ficavam expostas a todo mundo que passava, que não podia deixar de sentir pensa de quem realizava um sacrifício tão imenso para receber uma quantia tão ínfima. Os tucanos são alienados. Não tem experiência nem imaginação para se colocarem no lugar das pessoas pobres e, portanto, continuamente as prejudicam. Privatizam a telefonia mas não pensam em impor regras impeçam as companhias de cobrar preços abusivos. Privatizam estradas mas lavam as mãos quanto ao preço dos pedágios. Um projeto de lei, assim como a própria lei, possui um espírito. O Bolsa Família deu certo e se tornou um dos programas sociais mais bem sucedidos no mundo porque tem um espírito nobre, simples e objetivo. Visa combater a fome e a miséria extrema, e ao fazê-lo, ajuda a ativar economias antes paralisadas. Qual o espírito da idéia de Tasso? Melhorar a vida das miseráveis populações nordestinas? Melhorar a educação? Não, o cinismo é tanto que os tucanos mesmos confessam que se trata de uma manobra para vincular o nome do partido ao Bolsa Família.
Miguel do Rosário

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