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René Queiroz

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segunda-feira, outubro 03, 2011

Parece que ele está certo!

Lobão:  Cantor, compositor, músico, escritor e apresentador de televisão. Foi baterista do Luis Melodia, da Marina Lima, fundou a Blitz e inventou a expressão “cicatriz no cerebelo”. Entre otras cositas más.
“MPB, essa sigla já é uma merda. Ela é carregada de tantos estigmas. Porque é um mistério. O que é MPB? Quem pode ser enquadrado em MPB? Porque surgiu como uma sigla nos anos 60 como música uni­versitária de protesto, e acabou se tornando uma sigla que abarcou conceitualmente, mas não geograficamente, a música brasileira. É muito elitista. Eles procuram uma genealogia, ‘quem vai ser o novo’... Eu acho isso um fascismo.Tem um outro Noel Rosa? Pra que num novo Noel Rosa? Tem um novo Jimi Hendrix? Não tem. Um novo Bob Dylan? Claro que não. Pô, você acha que vai ter um novo Lobão? Não vai ter. É uma idiotice. Agora, eu fico meio grilado com a inteligência brasileira porque ela não permite que as pessoas legais mesmo sejam se­quer questionadas. Por exemplo, essa nova MPB. Pô, tem o Cascadura, tem os Vespas Mandarinas, o Turbo Trio, tem uma porrada de coisa que não tá inserida nisso que eu considero que é importante. Principalmente numa situação em que o artista hoje em dia tem que fazer tantas concessões pra existir que ele não vai ser nada. A tendência é que ele não vai ser nada. Mesmo tendo a maior coragem do mundo, o cara não tem condição de florescer hoje. Eu vejo isso por pessoas sensacionais que eu mesmo quis lançar e que eu sinto que são condena­das. Uma cara talentoso de vinte anos está condenado no Brasil, condenado a não ser nada.
O Cachorro Grande, por exemplo, eu adoro eles. São meus amigos. É o melhor show de rock ‘n’ roll do Brasil. E é muito triste dizer isso, mas eles tão conde­nados também. A carreira deles na indústria fonográfica parece ser downgrade, e não por culpa deles, porque eles são bons pra caralho, mas porque neguinho não sabe ouvir esses caras.
Quando você tem uma audiência que está despencando no seu nível de qualidade auditiva, não vai ter ninguém bom lá na frente. Porque aquilo vai representar o que é a audiência, e a audiência é uma merda. O Brasil é um arraial agrobrega. Nunca foi tão ruim como é agora. Então pra quem tem um pouco de honestidade e um pouco de talento, a pior coisa é estar no Brasil atualmente.Você tem que ser puto, inofensivo e cínico. E sem talento, ainda por cima. O Brasil é uma monotonia. Ou você tem o agrobrega ou você tem a Ivete Sangalo. Nada mais existe. E isso é muito aterrador. Esse Restart, o Cine, isso sempre existiu. Não é rock, é boy band. É uma coisa fabricada pra um público que ainda não menstruou. Agora, o Luan Santana é mais grave, porque vem aquela coisa da tarja ‘universitária’. Você pensa só, com o nível de educação péssimo, com todos os ENEMs sendo reprovados, e você tem o ‘forró universitário’, o ‘sertanejo universitário’, e tudo da pior qualidade. As pessoas não entenderam que esse é um sintoma muito sério, cara, de alguma coisa que está muito errada. A gente está num país que tá morto, cara. A nossa cultura tá morta.
Você deve ter percebido nos últimos anos esse ufanismo MPB, essa divas da MPB, mas não teve um artista que vingou. Não teve um artista que virou um Chico Buarque. Porque não tem. Porque o Chico Buarque já era ruim, e as pessoas não entendem que o Chico Buarque era deficiente, ele pensa errado, ele escreve mal. Ele é uma merda. E as pessoas acham ele um gênio. A mesma coisa você aplica ao Caetano e ao Chico, que tem momentos um pouco melhores, muito poucos, mas eu não entendo como as pessoas achar que aquilo é o nosso orgulho, a nossa cara, a nossa representatividade. A gente só vai criar vergonha na cara quando se olhar no espelho e ‘ih, que merda’. Aí, pode ser que a gente pare de aplaudir o pôr do sol, pare com a micareta, A gente não vai mudar nunca. A gente é fadado a ser um país de sombra, um país medíocre, dos subúrbios do terror.
As pessoas fazem uma sociedade classe C, e você acaba virando classe C. Eu fui pra Londres entre­vistar o Sting há cerca de um ano, tudo muito chique. Aí fui lá num restaurante e o cara gostou de mim, sentou e descobriu ‘ah, você é do Brasil? Peraí’. Levantou e foi lá botar uma música. Ivete Sangalo, cara...” 

revista NOIZE setembro 2011

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