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sábado, novembro 06, 2004

QUESTÃO DE ORDEM

QUESTÃO DE ORDEM
MAURO SANTAYANA
5/11/2004

A derrota do PT foi a vitória do PT
A grande lição de São Paulo e de Porto Alegre é a de que, em política, o compromisso com as idéias costuma ser mais forte do que o compromisso com a conveniência. Se o partido for capaz de examinar a sua história, é possível que venha a recuperar a sua bandeira ideológica. Mas isso parece agora difícil.

A derrota do PT foi a vitória do PT: a grande lição de São Paulo e de Porto Alegre é a de que, em política, o compromisso com as idéias costuma ser mais forte do que o compromisso com a conveniência. Sendo assim, o PT que surgiu, na realidade brasileira, com a mensagem do inconformismo, manifestou o seu desagrado com o PT que, chegando ao poder, tornou-se conservador, a fim de evitar os riscos da coerência. Se o partido for capaz de examinar a sua história, é possível que venha a recuperar a sua bandeira ideológica. Mas isso parece agora difícil.
O ajustamento psicológico dos trabalhadores ao poder tem precedente histórico importante: a metamorfose de certos dirigentes, tanto na União Soviética quanto nos países que se tornaram socialistas depois da Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, o documento mais importante do movimento de 1968 em Praga foi o informe ao Congresso dos Escritores tcheco-eslovacos, redigido por Ludvík Vaculík (pronuncia-se va-tsu-líque), sob o título de “O Conceito Marxista do Poder”.
No papel redigido por Vaculík se mostra como o conforto e a pompa do poder alteram a visão do mundo de alguns dos velhos trabalhadores. Não há receita contra essa enfermidade, a não ser a vigilância permanente do partido. Mas os dirigentes costumam também infeccionar o partido, mediante a corrupção de muitos de seus quadros. Isso ocorreu na União Soviética, sob Stálin, e voltou a ocorrer, de forma fatal, sob Gobartchev.
Isso não ocorre no governo Lula, mas é fora de dúvida que muitos se deixaram encantar pelas luzes do governo. Por isso, o partido vem perdendo seus militantes mais aguerridos, que buscam alternativa à esquerda, e seus simpatizantes, que, desencantados, passaram a votar em partidos que se identificam no centro ideológico (embora sejam todos conservadores ou neoliberais). A derrota em São Paulo e em Porto Alegre, e o resultado eleitoral de Fortaleza, advertem o partido para que recupere a sua identidade ou a ela renuncie. Se renunciar aos seus ideais de há 25 anos, o PT terá que disputar com os tucanos o espaço da social-democracia, identificada por Lenine como a fiel gerente da burguesia.
Esse é o dilema do PT, depois da derrota em São Paulo e em Porto Alegre. Muitos advogam renovação no comando partidário, de forma a substituir o núcleo duro do PT, constituído de paulistas e gaúchos, por nova direção, que atenda à realidade federativa do País. Isso poderá recuperar o pensamento político do PT, mas não parece fácil reduzir, no comando partidário, a presença dos paulistas, que fundaram a agremiação. A menos que haja franca insurreição partidária, com a aquiescência de Lula, e que se realize um congresso extraordinário, a fim de definir formalmente a linha ideológica do partido e o seu programa de governo. Essa linha ideológica e esse programa continuam sendo os de seu compromisso histórico, posto que não foram derrogados por uma convenção ou congresso. Mas a atual direção partidária vem exigindo fidelidade aos novos caminhos, delineados a partir das alianças de governo. Muitos petistas querem a realização do encontro, de acordo com as normas conhecidas, para que o partido aceite a coabitação com a direita ou a rejeite de maneira clara e definitiva.

A los militares...Ainda não são muito claras as versões para a saída do ministro Viegas. Fontes bem informadas indicam que o desencontro entre o embaixador e os militares precede o episódio da nota infeliz do Centro de Comunicações do Exército. Os militares gostam de obedecer, mas de obedecer aos que sabem mandar. Sua religião é a da ordem hierárquica e, segundo algumas informações, que já circulavam em Brasília, faltava a Viegas as qualidades de mando. O ex-presidente da Argentina, Arturo Illia, resumiu bem as coisas, ao afirmar que “a los militares o se les mandan, o se los obedecen”. Ao que parece, Viegas não sabia mandar, nem estava disposto a obedecer.
Na sugestão de texto constitucional oferecida por Thomas Jefferson aos revolucionários franceses havia um artigo (ao que parece, o segundo) determinando que toda autoridade militar estivesse submetida a uma autoridade civil. Mas, no Brasil, esse cuidado não houve, desde o início da vida independente: a monarquia sempre deu poderes políticos aos militares, desde que Pedro I os mandou reprimir os revolucionários da Confederação do Equador, concedendo-lhes, entre outras, a prerrogativa de julgar os insurrectos. Contemporâneo preocupado dos fatos, Bernardo Pereira de Vasconcelos advertiu que aquele era um grave precedente – e a História confirmou os seus temores.
Resta saber como agirá José Alencar. De todo modo, parece não ter sido boa a experiência de um Ministério da Defesa. Talvez tivesse sido melhor deixar a cada arma o seu próprio ministério. É de se lembrar o que fez Juscelino, ao comprar um porta-aviões: enquanto a Marinha e a Aeronáutica discutiam quem deveria pilotar as aeronaves, ele pôde construir Brasília.

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