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René Queiroz

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terça-feira, setembro 13, 2005

Severino é filho do PSDB

Um ex-secretário de Estado dos EUA é o autor da famosa frase sobre o ditador Anastácio Somoza: “It’s a sun of a bitch, but it’s our son of a bitch”. No Brasil, Severino é o "Somoza" da burguesia que o elegeu. Agora que não serve mais, querem o cargo de volta.
A burguesia não tem partido, já nos ensinava Gramsci. Usa os partidos e os políticos, conforme lhe interessem em cada momento político, afim de garantir a reprodução da sua lógica de maximização dos lucros e de hegemonia dos seus valores na sociedade. Da mesma forma que o império se vale de quem cumpra com os seus desígnios. O ex-secretário de Estado norte-americano Foster Dulles, no governo Eisenhower, é o autor da famosa frase sobre o ditador Anastácio Somoza: “It’s a sun of a bitch, but it’s our son of a bitch”.
A burguesia brasileira se valeu de uma malta de aventureiros e corruptos, conforme lhe foram funcionais para derrotar a esquerda e garantir a continuidade do poder. Foi assim com Jânio Quadros, para derrotar o nacionalista general Henrique Lott. Foi assim com a ditadura militar, para derrotar a esquerda. Foi assim com Collor, para derrota a esquerda. Foi assim com Severino Cavalcanti, para impor derrota ao governo Lula.
Depois, passada a circunstância, quando já não tem mais utilidade ou caso se torne um aliado incomodo, a burguesia se desfaz dos bonecos que criou e inflou, jogando-os no lixo, até mesmo tratando de demonstrar que não tinha nada com isso, como se tivessem sido invenções da natureza ou do acaso. Foi assim com Jânio, com a ditadura militar, com Collor, e agora com Severino.
Este foi um candidato articulado pelos tucanos, com FHC na cabeça. Um Pigmaleão do mal, lançado, apoiado e votado pelos tucanos – a começar por esse ex-comunista, Alberto Goldman, que agora finge que não tem nada a ver com esse engendro. Os tucanos colocaram um vice de confiança deles, do PFL, e diziam abertamente que seria o poder atrás do trono e, caso chegasse a hora, assumiria no lugar de Severino. Ieda Crusius, Artur Virgilio, Zulaiê Cobra – todos brindavam a vitória contra o governo, elevando Severino a presidência da Câmara de Deputados.
Agora se comportam como o tipo que foi pego roubando um “porco”, com o bicho nos ombros e que faz gesto de surpreso: “Tirem esse bicho daí.” As marcas digitais do crime apontam para os dedos dos tucanos. Se a imprensa tivesse um mínimo de decência, reconstituiria os votos que elegeram a Severino e publicaria a lista, para que a cidadania pudesse saber quem joga com a republico conforme sopra o vento.
Os mesmos mentores das denúncias contra a corrupção, aqueles que privatizaram o patrimônio publico a preço de banana, os mesmos que querem retornar ao poder para dar continuidade a esse processo, privatizando a Petrobras, o Banco do Brasil, a Eletrobrás, a Caixa Econômica Federal, cumprindo o compromisso que assumiram com o FMI, quando quebraram o país pela terceira vez em seu governo, são os que geraram o monstro de Severino Cavalcanti e agora querem jogá-lo na lata do lixo, de onde o tiraram, porque já lhes serviu e agora se torna aliado incômodo.
Severino sempre foi conhecido como corrupto. Mas era “their son of a bitch”, o corrupto – um dos tantos – de plantão no PSDB. Não serve mais e deve ser descartado. Outros aventureiros se candidatam a terem seus 15 minutos de glória. Como dizia o cartaz no casamento do filho de César Maia: “Não procriem”. É necessário castrar os tucanos, antes que povoem de novo o poder de Severinos.

Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".

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