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René Queiroz

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sábado, outubro 28, 2006

A ética, Lula e a moral

A questão exemplar para os que se situam na base da pirâmide social, pelo que vemos, é a ética e não a moral. O que está em tela efetivamente, além de toda retórica tantas vezes enganadora e dos engodos tantas vezes proclamados como verdade absoluta, é a necessidade real de cada um poder se alimentar todos os dias, ter o emprego para que se sinta como cidadão, possa constituir uma família, ter os filhos na escola e a garantia da saúde na certeza do viver.
Estas são as razões pelas quais a ética predomina sobre a moral. Só assim podemos compreender o fenômeno político e social que parece se desenhar no País, constatado numericamente pelas pesquisas dos principais institutos, além da inapelável voz das ruas nessas últimas semanas: Lula vencerá o segundo turno e se reelegerá para mais um mandato na Presidência da República.
As revoltadas elites, que, na sua maioria, preconizam a moral são, em geral, as mesmas que sonegam o Imposto de Renda, dos que pagam propina ao Judiciário, dos que ligam pontas negociais através dos lobbies, dos que recebem comissões em transações indecorosas e se acobertam fazendo severas críticas à moralidade.
Certamente o presidente Lula não será o bode expiatório desta realidade conjuntural e nefasta que precisa ser combatida pelas instituições para que a ética e a moral possam andar lado a lado dignamente na vida deste País e de seus cidadãos.
A sociedade brasileira dá sinais evidentes de não querer um País onde a ética seja dos mais humildes e a imoralidade dos mais abastados. E as urnas deverão sacramentar este desejo coletivo no pleito de domingo que vem.
Ao longo de muitas décadas e praticamente durante todos os governos dos últimos anos, a ética era apenas um emblema formal das elites brasileiras que proclamavam as desigualdades sociais como um quadro de Portinari.
Nesta campanha presidencial, no entanto, o tema ganhou visibilidade incomum nos discursos e nos debates eleitorais dos candidatos, mas igualmente nos escritos e declarações de setores da intelectualidade e da mídia, embora cercado de sombras e, não raramente, de preconceitos e equívocos perversos.
O emprego, por exemplo, era uma contingência econômica e não uma razão de sobrevivência e dignidade humana, ou seja, um fator essencial de conquista e afirmação da auto-estima cidadã. O analfabeto era uma conseqüência de um país empobrecido; a moradia, um sonho a ser alcançado apenas pela classe média; e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma sigla do conhecimento quase restrito da intelectualidade nacional.
A moral sempre foi uma questão da honra da classe média e dos abastados, já os mais humildes na sua maioria a praticam, diariamente, ao pegar o transporte para o trabalho, cuidar da família e servir de exemplo para os demais.
Certamente os mais humildes sequer têm renda para declarar, não sonegam impostos através do tão decantado caixa dois, não subfaturam e, na lisura das suas vidas, não necessitam de pagar propina seja ao Judiciário, a sanguessugas ou aos mensaleiros.

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