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René Queiroz

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quinta-feira, julho 29, 2010

Serra no fio da navalha



Não há profissão mais fácil do que dar conselho a candidato. Quando as urnas são abertas, os conselheiros desaparecem e o candidato paga a conta.
Penso nisso quando leio críticas a guinada conservadora de José Serra que, desde a escolha do vice Indio da Costa, passou a promover ataques frontais a Dilma Rousseff, associou o PT ao MST e às Farc e assim por diante.
Nem todas as críticas fazem sentido do ponto de vista eleitoral.
O candidato do PSDB enfrenta a candidata de um presidente com 70% de aprovação popular. Um apoio nesse patamar costuma ter uma forma gelatinosa, onde ideologias distintas e até contraditórias ficam escondidas num clima difuso de felicidade geral, onde se encontram velhos malufistas e jovens comunistas, a fina flor do conservadorismo financeiro e sindicalistas aposentados.
Ao apresentar um punhado de críticas firmes e duras ao governo, Serra com certeza irá arrebanhar apoio de um eleitorado conservador, sem candidato próprio, que se encontra desmobilizado, sem motivação, e que hoje diz que pode até votar na candidata de Lula em função do bom estado da economia, do baixo desemprego — mas pode pensar de novo caso seja colocado diante de um adversário com uma postura clara de oposição.
A pergunta é saber se, ao oferecer um discurso conservador a um eleitorado que se sentia órfão de um concorrente para chamar de seu, Serra não irá perder uma massa de votos que vinha cultivando com a tese de que não era um candidato de oposição nem de mudança, mas que só pretendia continuar e melhorar a obra de Lula.
As pesquisas mostram que essa estratégia produziu frutos. Garantiu apoio de 30% dos eleitores que definem o governo Lula como bom e ótimo.
O risco era manter o candidato estagnado um pouco acima dos 35%, onde se encontra há meses — enquanto a adversária não deixa de emitir sinais de que pode ultrapassá-lo.
O risco da nova estratégia é perder eleitores. É claro que, com o passar do tempo, os ataques a Dilma vão se transformar em ataques a Lula e isso pode tirar votos de Serra.
Se Serra perder um terço desses lulistas-tucanos, Dilma pode levar a eleição no primeiro turno.
O candidato tucano tem um cobertor curto e caminha sobre o fio de uma navalha.
Do blog de Paulo Moreira Leite

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