Brasil apóia a farsa do Haiti
A aliança estratégica de Lula com Bush passou dos limites desta vez O Brasil enviará 1.100 militares ao Haiti. A tropa vai liderar a força internacional de paz (integrada por contingentes estadunidenses, franceses, canadenses e dos países do Caribe) que vai atuar no Haiti, na chamada "segunda fase da ajuda multinacional", aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. "O presidente Lula disse que o Brasil fica honrado com essa indicação e que está à disposição das Nações Unidas tanto para o envio de tropas como para o comando", disse o porta-voz da Presidência, André Singer, quinta-feira, dia 4 de março. Qual o significado do papel que o Brasil é levado a assumir, do ponto de vista de sua estratégia de política externa? Para responder, é necessário identificar os interesses de outros países sobre a região, em particular o jogo dos Estados Unidos. Não por acaso, a revolta no Haiti eclode agora, quando Washington aumenta as pressões sobre a Venezuela e multiplica as ameaças de invasão de Cuba. O Haiti ocupa um lugar central no mapa geopolítico do Caribe: é o cenário ideal para uma base militar permanente dos Estados Unidos. Nem é preciso teorizar muito sobre o asunto. Basta olhar o mapa. Além disso, a localização do Haiti permite o controle mais eficaz do narcotráfico. Como observa o economista canadense Michel Chossudovsky , desde que o Euro tornou-se uma moeda de referência internacional, uma boa parte dos narcodólares tornou-se narcoeuros, assim contribuindo para enfraquecer a hegemonia mundial da moeda estadunidense. A criação de uma eventual "narcodemocracia" no Haiti, sustentada pela Casa Branca, garantiria aos barões de Wall Street o controle do "corredor da cocaína" produzida na Colômbia e vizinhos. Claro que o povo do Haiti tem suas razões para revoltar-se: fome, miséria, brutalidade policial. O Departamento de Estado de George Bush soube aproveitar-se do repúdio generalizado a Jean-Bertrand Aristide, para patrocinar um golpe de Estado, enviar os seus soldados ao país e garantir a posse de um novo governo, mais eficaz e útil aos propósitos da Casa Branca. Nesse quadro geral, o Brasil é chamado a liderar a "força multinacional de paz". Guardadas as devidas diferenças, e feitas todas as ressalvas, o Brasil sentiu-se "honrado" por fazer parte da grande farsa, tanto quanto a Polônia, ao aceitar liderar uma parte das "forças de paz" que ocupam o Iraque, como reconhecimento pelo apoio sem hesitação que o país deu à invasão de Bagdá (os outros dois "líderes" são os Estados Unidos e a Grã-Bretanha). Os diplomatas do Itamaraty não podem alegar "desconhecimento" dos óbvios objetivos estratégicos dos Estados Unidos, nem da participação da CIA na articulação do golpe que depôs Aristide. Caso o façam, que peçam demissão por incompetência. Por quê, então, o Brasil aceitou um papel tão infame? A resposta está nos objetivos estratégicos da política externa de Lula, que vê o Brasil como uma potência regional, com vocação para liderar um bloco do Terceiro Mundo, no quadro da economia globalizada. O norte dessa estratégia, o eixo que dá coerência ao conjunto das ações diplomáticas do Brasil, é a obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (no caso da Polônia, para manter a nossa analogia, a cartada é outra: Varsóvia procura mostrar-se um parceiro "confiável" de Washington, no quadro da disputa entre Estados Unidos e Alemanha pelo controle da Europa central, cuja vocação "natural" é ser zona do euro). Assim, em nome de supostos "interesses de Estado", o governo brasileiro aceita coonestar um golpe de Estado promovido pela CIA. E mais: finge acreditar, de forma totalmente ridícula, que de fato vai "liderar" uma força multinacional... Impossível, nesse ponto, não parafrasear o nosso grande poeta Castro Alves, em seu "Navio Negreiro": "Existe um governo que a bandeira empresta/Para cobrir tanta infâmia e cobardia"...
José Arbex Junior
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