Outro mundo no discurso e na prática
Emir Sader tem razão: é hora de reduzir a retórica e intensificar a ação. Mais do que isso: como propõe o socialista francês André Bellon, é hora de fechar o discurso, concentrá-lo no que realmente importa, a luta contra o império dos ricos, nos espaços concretos. Esses espaços são o de cada município, de cada fábrica, de cada escola, e em cada país. E convém, sem desmerecer as reivindicações dos grupos interessados, entender que enquanto se dispersam os pobres na luta em favor dos gays e dos negros, da ecologia e do afrouxamento dos exames para o ingresso na universidade, os ricos cerram fileiras no que realmente lhes interessa: o controle do mundo mediante os instrumentos financeiros de pressão.
Para construir um novo mundo possível, é necessário construir cada rua possível, cada bairro possível, cada município possível. E esta ação começa a ser urgente, diante do monopólio que os poderosos exercem sobre a ciência e a técnica.
Astúcia capitalista
Uma das astúcias do capitalismo é o de administrar bem até mesmo os protestos, e deles recolher seus lucros. O movimento hippie começou a desmoralizar-se quando as grandes grifes passaram a produzir t-shirts com a imagem dos Beatles e de Che Guevara. O mesmo ocorre hoje quando os meios de comunicação se dedicam tanto à questão do homossexualismo. É a mesma astúcia que levou Wall Street, mediante os texanos, a cooptar, para a direita, personalidades como Colin Powell e Condoleeza Rice. E como estamos relembrando a libertação dos prisioneiros de Auschwitz (pelos comunistas soviéticos, convém registrar), não nos esqueçamos de que não faltaram judeus que, cooptados, colaborassem com os nazistas, no varejo da violência dos campos de concentração e nos grandes negócios durante a ascensão de Hitler.
É o que está ocorrendo agora em Davos, quando se fala tanto no combate à fome e à miséria do mundo. Ao assumir o discurso de Lula e de outros, os poderosos irão administrar o movimento e, ao administrá-lo, dominá-lo. Qualquer economista menor será capaz de demonstrar que, com a alta produtividade agrícola de hoje, e seus enormes excedentes, não é difícil resolver o problema da fome crônica do mundo, mediante modestas taxas tributárias a serem recolhidas nos países ricos. As operações necessárias à aquisição, armazenamento, embalagem e distribuição de tais alimentos serão um excelente negócio para os ricos.
MAURO SANTAYANA
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