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René Queiroz

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domingo, fevereiro 06, 2005

laboratório para uma análise mais profunda

O Big Bosta Brasil é, ou não é um jogo? Até que ponto os participantes estão dispostos a abrir mão de príncipios, opiniões, preferências e laços externos para colocar as mãos em um milhão de reais? A peneira seletiva que escolhe os candidatos se mostra muito eficiente em trazer à casa pessoas com disposições distintas: o primeiro time faz de tudo para sobreviver aos paredões, desde intrigas e confabulações, até mentiras deslavadas que são confrontadas nas transmissões globais; enquanto o segundo grupo é formado por aqueles que, aparentemente, tentam preservar uma conduta compatível com seus valores familiares, devido ao temor de uma exposição para com o público, mas que quando percebem algum perigo à sua permanência na casa passam a agir de forma semelhante aos “jogadores”. O intuito do BBB é esse: transpor qualquer tipo de barreira individual, levando a pessoa sempre ao limite do que pode ser considerado certo ou errado.
A quinta edição do BBB está servindo de laboratório para uma análise mais profunda da relação entre os indivíduos e as atividades que exercem. Para nós, um consultor de informática, uma cabeleleira, um engenheiro, um jogador de futebol, um professor universitário, dentre outros profissionais, podem ter lá seus percalços e, com certeza, serão julgados pelos telespectadores. Entretanto, um médico jamais pode cometer tais erros, sob a pena de ser execrado em praça pública. E o curioso: o principal jogador do BBB 5, aquele que arma, confabula e mente regularmente, é um cirurgião geral. O doutor se considera uma pessoa “cabeça quente”, que briga em quase todos os lugares que frequenta. Enfim, o perfil que todo brasileiro espera que o seu médico não possua. Algumas manifestações públicas, inclusive, já foram feitas através das lentes da Globo, e os entrevistados mostraram-se chocados com o participante do interior de São Paulo.
Realidade brasileira: os cursos de medicina, sempre um dos mais concorridos do País, são frequentados em sua grande maioria por estudantes oriundos de escolas particulares, ou seja, pela elite brasileira, e nas instituições de nível superior ingressam apenas os que podem pagar mensalidades estratosféricas. Portanto, os nossos profissionais são, em teoria, pessoas abastadas, que tiveram facilidades em sua formação educacional e cultural. Isso costuma trazer certo preconceito das camadas menos favorecidas da sociedade, que vêem a classe médica como um grupo de “mimados” sem sensibilidade social. Antes de ser médico, o profissional da área de saúde, pela importância de sua atribuição, tem que ser um amigo e conselheiro. Tanto que costumamos nos referir a eles como “ meu médico; seu médico ”. Em muitos casos a relação não se limita apenas aos consultórios...
E aparece no BBB um doutor com fama de brigão e mentiroso, que declarou ser capaz de qualquer coisa pelo prêmio de um milhão de reais... Até que ponto a ambição do médico Rogério interfere em sua conduta como um profissional?
Artigo assinado por Artur Salles Lisboa de Oliveira
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