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René Queiroz

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domingo, julho 31, 2005

Século XXI

Perplexidade.
Essa é a sensação de quem vive a instabilidade do mercado de trabalho neste início de século. Profissões surgem e desaparecem com extrema rapidez; novas exigências são colocadas para aqueles que se candidatam a uma vaga; empresas passam por mudanças radicais na relação com seus empregados. O mundo globalizado dita regras que há poucos anos seriam consideradas heresias administrativas. O jovem enfrenta dúvidas na hora de planejar seu futuro profissional. Está cada dia mais difícil encontrar resposta para a tradicional pergunta "o que vou ser quando crescer?".
Um dos maiores problemas relacionados ao novo mundo do trabalho se refere ao desemprego. A globalização provocou entre as empresas uma onda de fusões, incorporações e acordos operacionais em escala planetária. Com isso, as companhias passaram a produzir mais, em menor tempo e com menos empregados. As demissões se multiplicaram na mesma proporção do aumento dos lucros. Mas tal situação não é exclusiva do Brasil; todos os países a enfrentam - em graus diferenciados, é claro - a dificuldade de absorção da mão-de-obra disponível.
Mas o Brasil não sofre os efeitos do desemprego apenas devido à globalização. A estrutura econômica do país também contribui para que haja cada vez menos vagas para mais candidatos. Concentração de renda, exclusão social e desequilíbrios regionais são algumas das causas de o Brasil ocupar o segundo lugar no ranking mundial de desemprego, perdendo apenas para a Índia.
Este é o novo mundo do trabalho, no qual o emprego é artigo cada vez mais escasso. Capacitar e elevar o nível de empregabilidade da população implica atacar apenas parte do problema. Cursos, formação continuada, desenvolvimento de novas habilidades ou qualquer outra iniciativa podem aumentar as chances de se conseguir espaço no mercado. Porém, caso todos os trabalhadores o fizerem, não haverá vagas suficientes para absorver toda a mão-de-obra. A economia atual não tem conseguido gerar tamanho nível de emprego.
As inovações tecnológicas e as constantes transformações no mundo do trabalho colocam o jovem em uma situação difícil. Ele não sabe se segue o que imagina ser sua vocação ou se opta por enveredar por campos profissionais valorizados pelo mercado. Conciliar estudo e trabalho também é um problema para quem busca o primeiro emprego - que se agrava se ele for de família de baixa renda. Nesse caso, a lei da sobrevivência costuma falar mais alto.
Mas há alternativas em construção. Em várias comunidades surgem exemplos de uma nova forma de organização do mercado de trabalho e de consumo. São o que os estudiosos chamam de economia solidária - representada por cooperativas de profissionais, grupos de ajuda mútua ou consórcios de equipamentos. Pessoas com interesses comuns se unem, oferecendo produtos e serviços.
O caminho encontrado por essas comunidades é uma resposta ao desemprego estrutural no país. Também representa uma alternativa ao ingresso no mercado informal de trabalho. A perspectiva proporcionada pela economia solidária - a de ter uma profissão e ser seu próprio patrão - atrai muito mais que se tornar camelô ou passar anos atrás do balcão de um bar em sua comunidade.

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