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René Queiroz

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terça-feira, dezembro 06, 2005

Condição Humana

A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa.
A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas.
A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacto com que ela se faz sentir.
Esta intensidade é tão grande e a sua força é tão elementar que, onde quer que prevaleça, na alegria ou na dor, oblitera qualquer outra realidade mundana.
Já se observou muitas vezes que aquilo que a vida dos ricos perde em vitalidade, em intimidade com as "boas coisas" da natureza, ganha em refinamento, em sensibilidade às coisas belas do mundo.
O fato é que a capacidade humana de vida no mundo implica sempre uma capacidade de transcender e alienar-se dos processos da própria vida, enquanto a vitalidade e o vigor só podem ser conservados na medida em que os homens se disponham a arcar com o ônus, as fadigas e as penas da vida.
Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'

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