pensante

René Queiroz

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domingo, junho 19, 2005

VIRIDIANA minha irmã, unica irmã, te amo.

É...

A vida nos traz algumas surpresas, e hoje me pus a pensar e procurar aquele cara que nasceu numa família complicada, com um pai caricaturista mas sonhador e quem sabe alcoólatra, e uma mãe autoritária, ressentida de coisas do passado, mas ainda sim batalhadora.
Fui lá, no google, buscar esse cara, e achei num blog. Cai em prantos ao ver que ele escreve tanto quanto eu, e não perdeu a convicção de um mundo talvez um pouco melhor.
Mas cai mais em prantos ainda ao perceber que esse homem de 52 anos não ficou ao meu lado no momento que eu precisava de um irmão. Que nunca veio perguntar se eu precisava de um colo ou de um simples "oi".
Esse homem que simplesmente "deletou" algumas pessoas da vida dele por achar que assim (e sim, estou fazendo pré-julgamento, coisa que você não gosta), o passado ficaria no passado.
E falando isso eu percebo que EU não conheço esse cara que era para ser meu irmão. Filho da mesma mãe e do mesmo pai.
Eu não sei o que ele come, não sei o que ele pensa, não sei qual o tempero que ele detesta, EU ABSOLUTAMENTE NÃO SEI NADA DESSE CARA!
E isso me magoa, e magoa ainda mais ouvir minha mãe, aquela que te pariu, seja ela o que for para você, me dizer que na hora que desencarnar, não quer saber que você seja avisado. E eu vou obedecer, porque acho MUITO JUSTO da parte dela que você não se faça presente nesse momento.
Porque, se não veio em vida, pq viria em morte? Só pq o taoista prega que não há morte mas sim uma elevação do espírito? Ah..... as coisas não tem explicação. Nunca tiveram e acho que nunca vão ter.

Mas eu fico com as lembranças de uma infância em que (mesmo que tenha sido "fake"), morávamos num apartamento na av. jabaquara, três filhos, um pai e uma mãe. Dois homens saudáveis e uma garotinha de pouco mais de 6 anos.
Lembro-me de uma boneca (que ainda tenho), que me foi dada por esse cara, e embrulhada num papel de embrulho (sem ser presente) e escondida na mesa de desenho do pai deles. Uma boneca susi, articulada, com botas pretas... linda, bem anos 60/70.

Lembro-me de um cara com pinta de hippie, que chegava em casa e tinha pegadas no chão e cartazes informando a ele onde era o banheiro para que ele tomasse um banho. Lembro-me de ter virado o berço da filha dele, por inocência, e lembro-me que fiquei com muito medo dele me bater, de perder meu irmão. Tsc... já o tinha perdido!

Lembro-me de uma construção em nosso quarto, de uma espécie de ferrovia que levava feijão de uma parte à outra do quarto. De como ele fazia para que meu dente de leite fosse extraído sem muita dor!

E lembro-me de uma coisa até singela, mas bonita. Da mãe desse cara pregando uma barra na calça jeans boca de sino dele, uma barra legal, colorida. Que das sobras ele fez uma espécie de bandana na cabeça e lá foi ser feliz no Ibirapuera com a "bem"...

E esse cara graduou-se em Ciências Sociais e Política na mesma escola que eu! E como pode ser que eu não conheço esse cara? me explica por favor?

Mas uma coisa que quero que ele saiba. A única pessoa de quem eu tenho saudades não é do Queiroz nem de você. È do Sérgio, esse sim meu irmão, que se estivesse vivo, com toda certeza estaria aqui agora, me ouvindo e não lendo um e-mail. Ele estaria aqui, do jeito que fosse, do modo como poderia estar, mas estaria brigando ou não com a mãe dele. E doi muito mais saber que ELE morreu, que ele se matou, que ele se foi e não tem retorno. Porque você tem retorno, mas é frio, distante, como um conhecido de anos atrás. Uma pessoa que infelizmente não acrescentou nada ao meu conhecimento.
Para a sociedade eu mostro o dedo quando perguntam de meu irmão. Sim, tenho um irmão, melhor que não o tivesse! Porque em nada ele acrescenta, em nada ele alimenta. Ele é apenas um Queiroz, como tantos outros que existem por ai. Temos uma ligação sanguinea? Temos... culpa da ciência.!!!!!

Felizmente eu ainda amo suas filhas, coisa que você fez bem! Encontrei-as no orkut, bela providências da rede de amigos. Encontro minhas sobrinhas ali. Porque temos uma distância geográfica terrível né? Km e Km de distância.

Aqui despejo em você toda minha indignação, toda minha fúria, todos os sapos que engoli por pensar em você e não lhe ter presente. MEU ÚNICO IRMÃO.

Sei que tenho que perdoar atitude como a sua, e sinceramente René, perdoou. Mas desculpa, não me peça para te abraçar de novo, ou te chamar de irmão, isso você não é e nunca foi.

Já disse tudo o que queria, já "vomitei" minha mágoa, agora posso ir em frente, seguindo meu caminho.

Fica em paz, fica tranquilo e seja feliz.

Viridiana Queiroz

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Que isso, garota, Viridiana? Vá se tratar

5:56 PM  

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