A sabedoria de Hugo Chávez no Roda Viva
Argumentos tirados da lata do lixo...
A frase acima foi usada pelo presidente Hugo Chávez como parte de uma resposta dada a um jornalista de O Estado de São Paulo no programa Roda Viva da segunda-feira, 3 de outubro.
Não sei se o leitor teve a oportunidade de assistir ao programa. Fiquei sabendo quase em cima da hora, pois a “discrição” com que foi anunciado na mídia já demonstrava mais uma vez o preconceito contra a emblemática figura de Chávez. E lá fui eu, postar-me em frente ao televisor, na expectativa de assistir a um debate de alta qualidade intelectual e política, uma vez que o tradicional programa, em inúmeras de suas edições, já quase a alcançar o milhar, o comprovou em várias oportunidades.
O de segunda-feira, no entanto, deixou a desejar. Não pela figura do presidente venezuelano, sempre franco, educado, sabedor de que devia se ater aos problemas da América Latina e – em particular – aos problemas da sua nova Venezuela. A decepção ficou por conta da mediocridade (e em alguns casos má fé mesmo) com que alguns dos entrevistadores se comportaram. Salvo as exceções de Fernando Morais e Bob Fernandes, que procuraram levantar questões pertinentes à importância e ao momento histórico do entrevistado, os outros integrantes da roda se comportaram (tão em moda na imprensa brasileira atual) mais como inquisidores do que propriamente entrevistadores. Pior ainda: inquisidores mal preparados.
Nesse particular, o destaque fica para os três profissionais de três jornalões brasileiros, Folha, Estadão e Correio Brasiliense, que fizeram a ridícula figura de ventríloquos, como se estivessem ali a repetir uma pequena lista de perguntas feitas pelos donos dos jornais onde trabalham. Apequenaram (um pouco mais) o jornalismo brasileiro com perguntas ultrapassadas, viciadas em seus argumentos, baseadas em estatísticas ultrapassadas, desmentidas pelo próprio presidente Chávez, numa demonstração inequívoca de que não estavam preparados para o debate. As velhas e surradas questões da liberdade em Cuba, de Chávez querer a cubanização da Venezuela, esquecendo-se tais profissionais que Chávez conta com o apóio de mais de 70% da população da Venezuela, depois de enfrentar várias eleições e um golpe de Estado. Repetem-se como papagaios.
Após as primeiras perguntas feitas, Chávez percebeu quem estava ali para dialogar com alguma seriedade e quem estava ali para provocar. E com os provocadores não teve contemplação. Não deu muita atenção à “sisuda e inteligente” figura de Eliane Catanhêde, articulista da FSP, que parecia não saber muito bem o que estava fazendo ali, a ponto de cometer a indelicadeza (provocação intencional) de querer que o entrevistado comparasse o seu governo com o governo de Lula.
Quando inquirido pelo tal jornalista do Estadão sobre a eventual falta de democracia e liberdade de expressão e/ou de imprensa na Venezuela, Chávez – habilidosamente e sem perder a compostura – respondeu: “tenho pena de ver um jovem jornalista como o senhor ir buscar os seus argumentos na lata do lixo (da história), como faz boa parte da imprensa venezuelana”, demonstrando que não estava ali para responder a questões que a realidade latino-americana está dando por vencida, numa nova etapa de luta de seus povos em busca de uma alternativa ao neoliberalismo globalizante tão ao gosto de jornalistas que, para não perderem o emprego, continuam a lamber o saco de seus patrões.
Perguntado ao final do programa se acreditava em Deus, pergunta original e profunda, o presidente venezuelano respondeu que se considerava um verdadeiro cristão, pois Cristo foi o primeiro e grande socialista da História e Judas, o primeiro capitalista, que traiu seu mestre (ou povo) por 30 dinheiros. Será que a maioria dos jornalistas presentes entendeu o recado?
Izaías Almada
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