pensante

René Queiroz

Minha foto
Nome:
Local: Sampa, Brazil

marcado

quinta-feira, setembro 29, 2005

Nós na rede

A blogosfera tupinambá está dedicada ao tema do aborto.
Há duas maneiras de se posicionar a este respeito, evidentemente, contra ou a favor. Um dos argumentos mais batidos é pragmático: aborto continuará acontecendo. Então, para que seja feito em condições de segurança, que seja legalizado. Outro argumento nesta linha segue pela exclusão social. Mulher de classe média ou rica faz em dois tempos, sem riscos; mulher pobre, não. É mulher pobre quem roda.Mas esta é uma trilha perigosíssima. Porque assassinatos também continuarão acontecendo e, nem por isso, cogita-se legalizá-los. E, bem, gente rica em geral também não vai para a cadeia por crime de morte; contrata quem suje as mãos que é em geral também quem termina enclausurado caso careça de alguém para o cepo.Há também o argumento um quê canalha do controle de natalidade. Pobre não pode ter tanto filho, quanto mais filho tem, quatro, cinco, seis, mais gente para ser mal educada, maltratada, mal levada e que a vida os carregue como pode. Pobres têm mais filhos que ricos e isto tem a ver com educação, por certo. Mas legalizar aborto para resolver em massa o que devia ser papel da contracepção é um tanto atordoante.Esta, na verdade, é exatamente o tipo da discussão que não pode ser levada às cegas, sem pesar com cautela os argumentos contrários. Que se ignore qualquer argumento religioso – o Estado é laico; que se permita o aborto de fetos que venham a ter qualquer falha grave, daquele tipo que cause sofrimento e leve a uma vida infeliz; que se permita o aborto do fruto de estupros ou de quaisquer futuros natimortos.No fim ainda restará sempre a questão dos filhos indesejados, que é o cerne da polêmica. O problema, aí, é que não há escapatória. Acidentes, momentos de paixão exacerbada, não acontecem apenas entre adolescentes mas também entre adultos. É da natureza humana. O compromisso de assumir uma criança, de criá-la por toda vida e de gostar e de querer e conviver e tudo o mais que vem é coisa diversa. Às vezes, um homem e uma mulher não desejam que aquele um momento represente este tipo de compromisso; às vezes, até desejam, mas não têm condições, não naquele instante, quem sabe em um tempo. Vida é complicada demais, as possibilidades são inúmeras.
Claro, claro – há a discussão de onde começa a vida. Mas, no fim das contas, a vida começa quando o feto começa a sentir. A ciência já determinou quando é isto. Outras discussões – alma, essência, seja lá o que for, não são questões que cabem a uma sociedade laica. O resto, o resto é a decisão pessoal de um homem e, principalmente, de uma mulher. É nesta esfera, não na do Estado, que devem entrar princípios morais, religiosos ou sejam quais forem. O casal é que deve, por seus princípios, por suas particularidades, por suas circunstâncias, decidir.O aborto só é ilegal porque, por demagogia, o Estado se recusa a reconhecer o direito dos cidadãos de fazerem suas próprias escolhas. E isto é fundamental, principalmente, nestas questões as mais delicadas que afetam tantas vidas

Pedro Doria

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.