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René Queiroz

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quarta-feira, novembro 02, 2005

O fernanduto no feudo do carlismo

Das vantagens da internet: enquanto os jornais não tomam conhecimento da reportagem da revista Carta Capital sobre “um esquema semelhante ao duto de Marcos Valério montado na Bahia”, por meio de uma conta fantasma que teria movimentado R$ 101 milhões desde 2003, o assunto recebe o merecido destaque na blogosfera – e assim, por via transversa, começa a entrar na mídia impressa.
Hoje, o colunista Nelson de Sá, da Folha, citando dois sites e um político baiano, o deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB – “Vamos ver se ACM, ACM Neto e outros vão cobrar apuração com a mesma veemência” – levou o caso para dentro do jornal.
A ver se a partir disso os jornais se interessam por uma história impossível de ignorar. Se não pelo que a revista alega, baseada no trabalho de um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, sobre o que parece ser algo de muito, muito podre no feudo de Antonio Carlos Magalhães, ao menos pelo papel do carlismo nas CPIs que apuram malfeitorias federais.
O deputado ACM Neto e o senador César Borges, ambos do PFL, fazem parte da tropa de choque da oposição, da mesma forma, aliás, que o ACM avô. Este só não aparece mais porque a idéia é deixar o espaço livre para o suave netinho, seu herdeiro político – que ontem deixou claras as suas origens ao dizer que o tucano-carcará Artur Virgílio pode contar com ele para surrar o presidente.
A matéria da Carta Capital pode não ser um primor de clareza jornalística, tanto mais necessária quando se trata de fazer o leitor acompanhar o trânsito de dinheiro público para bolsos privados e quando as supostas maracutaias se referem a situações diferentes, com protagonistas diferentes e valores muito desiguais — de R$ 39,1 mil aos citados R$ 101 milhões. Faz muita falta um infográfico mostrando o caminho (ou os caminhos) das pedras.
Ainda assim, o trabalho do conselheiro do TCE Pedro Lino, base da reportagem assinada por Leandro Fortes, é um tiro de canhão. Expõe, segundo a matéria, “estranhas relações contratuais entre o governo baiano [chefiado pelo pefelista Paulo Souto], a agência de publicidade Rede Interamericana/Propeg, do publicitário Fernando Barros e organizações não-governamentais formadas por servidores públicos.
E mais: “O caminho do dinheiro configura um esquema clássico de caixa 2. A Bahiatursa [empresa estatal vinculada à Secretaria de Cultura e Turismo] recebe recursos do Tesouro estadual e os repassa para pagamentos de despesas e transferências para empresas privadas por meio de convênios pouco ou nada confiáveis.”
Dos R$ 101 milhões que circularam por uma conta bancária comprovadamente não registrada no sistema de controle do Erário baiano, R$ 48,1 milhões [quase tanto quanto os R$ 55 mi do valerioduto que abasteceu petistas e aliados] foram depositados nas contas da Propeg.
Fernando Barros, o dono da agência, é sabidamente ligado ao carlismo. Segundo a reportagem, é também “um campeão local de licitações”. De janeiro a abril passados, “62% de todos os recursos da Bahiatursa foram para a Propeg.
No caso do valerioduto, sabe-se, em parte, para quem foi o dinheiro, mas não se sabe de onde veio (a menos que se acredite no conto de fadas dos empréstimos bancários). No caso do fernanduto, sabe-se, ao que tudo indica, de onde veio o dinheiro (da Bahiatursa), mas não se sabe para onde foi – ou irá – depois.
Cadê o resto da imprensa para continuar contando a história?
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs/verbosolto.asp

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