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René Queiroz

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domingo, janeiro 08, 2006

2006 Quem quiser se iludir que se iluda...

Este 2006 é um ano que promete. Em termos de América Latina, as eleições gerais no Brasil, México, Nicarágua, Peru, Colômbia e Equador, para não falar da Venezuela e do segundo turno chilenos, devem ocupar grandes espaços. O eleitorado está deixando o recado: chega de neoliberalismo. Esse recado, diga-se de passagem, independe se o eleito vai ou não cumprir suas promessas de campanha.
Na Bolívia, ao apagar das luzes de 2005, Evo Morales ganhou a Presidência da República por maioria absoluta, não necessitando, portanto, de que o Congresso, como dispõe a Constituição do país, decida quem será o novo chefe do Executivo. Morales, um líder indígena, fez promessas que serão cobradas pelo movimento social. Ele tem o compromisso de escrever uma nova história na Bolívia, um dos países mais pobres do continente, apesar de sua atual riqueza energética cobiçadíssima pelas multinacionais do setor: o gás natural.
A Bolívia, vale lembrar, foi um dos primeiros países do continente latino-americano a abraçar a política econômica neoliberal, sustentada pelas elites associadas às finanças internacionais. Levaram o povo boliviano a um estado agravado de miserabilidade. Morales terá uma difícil tarefa pela frente, mas poderá sempre contar com o apoio popular para levar adiante a sua linha programática, ou seja, as promessas feitas. Ele, sem dúvida, será cobrado nesse sentido. Morales sabe perfeitamente que o seu povo é exigente e está mobilizado. Dois ex-presidentes, algozes do povo, Sanchez de Lozada e o vice Carlos Meza, que o digam. Foram detonados pelo movimento social.
Aqui no Brasil, a prevalecer a falta de opção, a crise política poderá ser ainda mais devastadora do que a atual. No momento, a oposição a Lula defende em seu programa o aprofundamento do modelo neoliberal. Ou seja, PSDB/PFL, se chegarem ao governo, tentarão fazer o que até agora não foi feito, a continuidade das privatizações nos restantes setores públicos e ainda o retrocesso nas legislações trabalhistas e sindicais. Está tudo lá no programa desses dois segmentos políticos.
Já nas hostes lulistas, a corrida pela reeleição está em plena carga. Lula ainda fazendo mistério, ou para alguns, fazendo "doce" se concorrerá ou não. Pelo visto, deverá sair mesmo candidato, embora ainda não tenha arquivado de vez um plano B, que, segundo analistas, poderia ser Ciro Gomes ou mesmo a atual Ministra Dilma Roussef.
Na verdade, sem pretensões a exercícios de futurologia, qualquer um dos candidatos a ser eleito, seja ele o seis ou meia dúzia, formará um governo fraco por natureza. Prevê-se também problemas no Congresso. Lula, por exemplo, se teve que fazer tudo o que fez no Congresso para conseguir governabilidade, deverá certamente ter ainda maiores dificuldades. Terá de compor com a podridão, como fez no mandato atual, que teve como estrategista principal, na primeira fase, José Dirceu. A dupla PSDB/PFL está com sede de poder e assim sucessivamente.
Por fora corre a Senadora Heloisa Helena, uma política combativa e que foi expulsa do PT graças ao esquema montado pelos notórios Dirceu, Delúbio, Silvio Pereira etc. Garotinho, um político pouco confiável, pois no discurso é uma coisa e na prática faz outra (haja vista a sua fome de privatizar a Cedae) tenta de todas as formas conseguir a legenda do PMDB. Ele representa o próprio nada de novo no front. Correm atrás também os governadores Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul, e Roberto Requião, do Paraná. Este último tem demonstrado na prática que a sua teoria não se choca com a prática. A manutenção do porto de Paranaguá nas mãos do Estado do Paraná, apesar das pressões contrárias, é um bom exemplo da coerência de Requião; Paranaguá é hoje um dos portos brasileiros mais rentáveis e com preços de serviços melhores até do que o de Santos. Mas isso para sair na mídia conservadora só na base da matéria paga.
Mas em toda esta luta que se avizinha radical, não se pode esquecer de um dos protagonistas principais da história: o movimento social. De nada adianta eleger fulano ou beltrano, sem que haja uma proposta elaborada e que passe por um projeto de país. Os partidos políticos brasileiros, que de um modo geral só pensam naquilo, ou seja, em como chegar ao poder fazendo de tudo, esquecem do principal, ou seja, de que não adianta chegar apenas ao governo sem um projeto de país que tenha o respaldo do movimento social.
A continuidade de Lula, ou a eleição de um Serra, Alckmin ou Aécio são hoje exemplos típicos de seis ou meia dúzia. Vão prometer mundos e fundos. Nos oito anos em que governaram o Brasil com Fernando Henrique Cardoso PSDB/PFL levaram o país para uma situação insustentável. Lula, que se elegeu representando a mudança, fez a opção conservadora e se meteu numa enrascada tendo por base apenas um projeto de poder.
Em suma, 2006 já chegou e a tendência é que daqui para frente esse tipo de discussão se aprofunde. Mas, convenhamos, seria realmente desalentador se a disputa de outubro de 2006 se resumisse ao seis ou meia dúzia. O movimento social, ou pelo menos a maior parte dos que integram esse movimento, tem clareza de que o grande projeto de mudança e transformação que o Brasil precisa não passa por uma eleição. Para se conseguir alcançar a meta da transformação é necessário o fortalecimento do movimento social e a mobilização dos brasileiros. Sem isso, mais uma vez vamos morrer na praia.
Ou será que em sã consciência alguém confia nas propostas do PT, PSDB e PFL e demais partidos menos votados? No PT, por exemplo, já houve até quem dissesse, como Gushiken, que seria conveniente uma aproximação do partido com o PSDB, deixando de lado a "disputa paulista".
2006 chegou e teremos que fazer a opção.
Quem quiser se iludir que se iluda...
Mário Augusto Jakobskind

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