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René Queiroz

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quinta-feira, março 09, 2006

"A direita é inocente"

O título "A direita é inocente" é forte por sua aparente contradição, e é isso mesmo o que quero, que seja forte o suficiente para fazer com que as pessoas dêem atenção a considerações importantíssimas que precisam ser apreciadas com urgência pelo setor esquerdo do espectro político.

Do que a direita é inocente? Certamente não é de a corrupção ter-se institucionalizado no Brasil. Nem de a concentração de renda no Brasil, mesmo considerando sua diminuição durante o governo Lula, ainda ser a virtualmente mais alta do mundo. E tampouco por este país ter-se metido numa armadilha econômica que o faz ter que optar entre crescer ou controlar a inflação.

Tudo o que enumerei acima - e muito mais - é culpa da direita, mas há uma grave anomalia em nossa sociedade pela qual a direita não tem responsabilidade alguma, sendo a única responsável a esquerda. Se temos uma mídia tão ruim e tão pouco representativa do conjunto da sociedade devemos isso à própria esquerda, que, apesar de tão politizada e sequiosa de brandir suas teorias, jamais se preocupou com o óbvio que é quem tem muito a dizer - como tem a esquerda - ter como difundir suas idéias em larga escala.

Por que o Brasil só tem mídia de direita? Por que a Veja, a Época e a Isto é, que tanto lixo publicam, vendem o que vendem, e a Carta Capital, única revista de alguma expressão que se pauta pela responsabilidade e que dá espaço também à esquerda, nem chega aos pés das "concorrentes"? Ora, é simples: Porque os que discordamos da tendenciosidade conservadora de Vejas, Estadões, Globos, Bandeirantes, Folhas etc, continuamos comprando-lhes publicações, assistindo-lhes telejornais, em suma, prestigiando esses veículos.

Em resumo: a esquerda financia boa parte do capital da mídia de direita e deixa ao relento os poucos espaços que tem.

Como?! Por que?! Será que somos tão burros (simpatizantes e militantes da esquerda - e eu sou simpatizante, apenas) que não nos damos conta de que não adianta querermos disputar espaços na mídia conservadora? Por que continuo lendo e enviando meus textos à Folha, ao Globo e ao Estadão, por exemplo, se sei que estão decididos a barrar meu tipo de opinião? Por que assino a Folha? Por que assisto o Jornal Nacional, o Roda Viva etc?

A explicação é simples: porque sou humano. Eu, como milhões de simpatizantes e militantes de esquerda e, sobretudo, como a grande população que não tem ideologia alguma, prescindo de informações diárias e de entretenimento. Então, como não tenho opção de mídia democrática, vou na manipulada mesmo, porque senão acabo, na era da informação instantânea, transformando-me num ermitão. Mas para mim - e para muitos como eu - não há problema em submeter-me ao bombardeio político-ideológico da grande mídia porque tenho capacidade de filtrar-lhe as impurezas. Há muitos - muitos ! -, porém, que não conseguem.

Tomemos como exemplo a Carta Capital. É uma revista séria, publica de tudo, não faz acusações irresponsáveis, mas, mesmo assim, está às moscas. E sabem por que? Porque é uma revista muito chata. Não tem entretenimento, não tem variedades, não é suficientemente ilustrada, não traz matérias sobre futilidades - e todo ser humano tem sua cota de futilidade para gastar -, não tem até, de vez em quando, alguma reportagem com alguma carga sexual, com humor...

A mídia da esquerda acha que pode se popularizar difundindo só cultura, idéias humanistas e assuntos sérios que a mídia conservadora de direita se recusa a publicar. É pouco. Muito pouco. Precisamos ter como dizer tudo o que a grande mídia não nos permite e que só pode ser dito em larga escala pela internet. Lula estaria reeleito já, se fosse possível apresentar os fatos como eles são à sociedade. Que ninguém, portanto, subestime a mídia direitista hegemônica. Ela faz a cabeça de muita, muita gente neste país. Sobretudo, por incrível que pareça, de setores considerados bem-pensantes da sociedade que, apesar de não integrarem o clube fechado da elite milíárdária concentradora de renda que controla a mídia, a apoiam incondicionalmente.

Claro que há o problema de recursos financeiros para se construir uma mídia de esquerda competitiva no Brasil. Mas não seria um problema intransponível se a pouca mídia de esquerda entendesse, ao menos, que não pode oferecer só assuntos sérios se quiser transformar-se num veículo de circulação significativa. Uma Carta Capital, por exemplo, poderia se transformar numa revista "para a família" como as Vejas da vida sem ter que recorrer à idiotização de seus leitores. Além disso, as bancadas progressistas no Congresso poderiam batalhar por alguma concessão de TV para a sociedade civil em contraponto à doação do espaço público que é o ar - por onde transitam as ondas de rádio e TV - a algumas dúzias de representantes da elite patrimonialista brasileira.

O assunto que fundamenta este artigo precisa ser discutido com seriedade e prioridade. Não podemos mais admitir a continuidade de uma situação em que boa parte da sociedade civil se vê literalmente amordaçada por outra. Fico torcendo, portanto, para que não tenha escrito este artigo para as paredes e para que ele ganhe alguma visibilidade.

Eduardo Guimarães

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