pensante

René Queiroz

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quarta-feira, dezembro 19, 2007

FERIDA

-“Combinado. Então vou te amar em silêncio.”

- “Até lá então.”

Não me lembro ainda a hora que o relógio marcava, muito menos quanto tempo já não te olhava.

Ao te chamar, obtive como resposta nada mais do que o mesmo padrão um tanto desagradável:

- “Espere um minuto, vou ali tratar de uma ferida e já volto.”

Ainda me lembro de ter te perguntado de forma solícita e humildemente servil:

- “Quer ajuda?”

A resposta não poderia ser pior:

- “...”

(Silêncio, ah, o silêncio... Quantas vezes, silêncio. Quais as tuas razões? Por que ainda estabelece o nosso vínculo? Eu sei de mim. Mas quais as tuas razões, cara? O que, afinal, você quer?)

Sem perceber o que se passava, sem me dar conta do plano já traçado até por simples cartas de tarô, fiquei em silêncio e esperei.

(Estava a milhares de quilômetros de imaginar que era da minha ferida que você falava).

Primeiro te ouvi em silêncio. Fingi que me tirou de algum lamaçal e me pegou no colo. Enfim!

Olhou a ferida nesse teu altar de plástico e usando toda a serenidade da tua voz, limpou e afastou qualquer objeto estranho, cortante ou pontiagudo. Entre lágrimas dessa dor que dilacerava compulsivamente a cada minuto, secas pelo longo tempo entre a última vez e o grande abismo que se formava entre elas.

Com o teu carinho, amizade e com uma ternura incrível permaneceu ali, ao meu lado, como se a tratasse ao longo do dia até que parasse de sangrar. Mas sempre de madrugada, ou pela manhã, eu tratava novamente de arrancar cada casca que pudesse ter se formado.

(Não sou tão forte assim pra me livrar, pra sumir sem nunca mais voltar. Então por que não faz isso por você ao menos? Você não precisa disso. Por que não se livra de uma vez por todas desse teu fardo? Nessa nossa competição, ou queda de braço, ou seja lá o que for, você ganhou, admito! Desisto!)

Ferida. Sempre presente. E continua presente, a todo o momento e a qualquer instante.

Mas para um cara como eu, o silêncio e a distância de quem realmente se gosta é o pior castigo, a pior tortura; é sal grosso na ferida eternamente aberta.

Não sangra, mas está aqui e começou a cicatrizar.

Fez, sem qualquer obrigação, a sua parte e eu faço a minha, prometo.

(Não esqueço nunca mais que tenho um baú cheio de “sorrisos encantadores” que são mágicos nessas feridas, em qualquer ferida, nas minhas, nas suas).

Já marquei com o tempo, para se encarregar do resto. Já fiz as pazes com Deus e sei que é bem provável que ele não em atenda.

Ele me garantiu que tem a agenda cheia, mas que assim que for possível resolve o assunto (de um jeito, ou de outro, eu gostando, ou não).

Beijo-sorriso.

Por Pablo Lopes Qz.

Parece fácil? que texto lindo!
Rene

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