Narcisismo político
A naturalização e valorização positiva da fragmentação e dispersão sócio-econômica estimulam um individualismo agressivo e a busca de sucesso a qualquer preço, ao mesmo que tempo em que dão lugar a uma forma de vida determinada pela insegurança e pela violência institucionalizada pela volatilidade do mercado. Insegurança e medo levam ao gosto pela intimidade, ao reforço de antigas instituições, sobretudo a família e o clã, como refúgios contra o mundo hostil, ao retorno das formas místicas e autoritárias ou fundamentalistas de religião, e a adesão à imagem da autoridade política forte ou despótica. Se, sob os imperativos da sociedade de consumo e do espetáculo, as artes foram submetidas à lógica da industria cultural, agora, com aqueles imperativos, acrescidos do fortalecimento da figura pessoal do governante, a política se torna indústria política. Por isso, dá ao marketing a tarefa de vender a imagem do político e reduzir o cidadão a figura privada do consumidor. Para obter e identificação do consumidor com o produto, o marketing reproduz a imagem do político enquanto pessoa privada: características corporais, preferências sexuais, culinárias, literárias, esportivas, hábitos cotidianos, vida em família, bichinhos de estimação. A privatização das figuras do político e do cidadão privatiza o espaço público. Com isso, a avaliação ética dos governos não possui critérios próprios de uma ética pública, e se torna uma avaliação de virtudes e vícios pessoais dos governantes, e a corrupção é atribuída ao mau caráter dos dirigentes e não às instituições públicas.
Temos o narcisismo completo.
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