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René Queiroz

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domingo, março 19, 2006

Leiam Miquel do Rosário, genial...

A grande ópera bufa de Ricardo Noblat


Dedico este post a meu amigo e grande escritor de sátiras políticas, Fernando Soares Campos e ao sempre atento articulista e blogueiro Eduardo Guimarães
Um pobre caseiro de Brasília, em mansão pertencente a um militante do PSDB, é assediado pelo senador Antero Paes de Barro, também tucano, para depor contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, considerado um dos mais sólidos pilares do governo Lula.
A acusação: Palocci chegando num carro prata, à noite, luzes apagadas no quintal, para participar de orgias com garotas de programa. O caseiro também afirma que viu notas de cem e cinquenta, andando nuas pelos corredores dessa mal assombrada casa. Os motivos que levaram o caseiro a se tornar um dedo-duro - o que inclusive já está produzindo uma grande indignação entre caseiros de todo o Brasil, que temem que a classe fique desonrada e perca a confiança dos patrões - foram os mais patrióticos possíveis.Além de corajoso patriota, o caseiro tem uma linda e comovente história de vida. Por uma dessas coincidências patéticas de novela mexicana, alguns meses antes de se tornar o novo herói da mídia, nosso caseiro pegou um avião para sua cidadezinha natal no dia 23 de dezembro. A história é contada por Ricardo Noblat, dramaturgo do grupo Estadão.
Francenildo parte de Brasília para Teresina num avião da Tam. O preço da passagem, faz questão de informar Noblat, foi a bagatela de R$ 420,00. Coisa pouca para um caseiro tão sortudo e querido entre poderosos da capital federal. Mais uma prova das boas políticas sociais e econômicas de Lula: caseiros agora andam de avião. De lá, segue para sua cidade natal, Nazário, a cerca de 25 km de Teresina. Francenildo está com friozinho na barriga, antevendo grandes acontecimentos na sua vida. Na noite anterior, teve um sono agitado: sonhou com orgias, nas quais ele tinha intensa participação, em casas de luxo de Brasília. Sonhou ainda que encontrava um anjo da guarda extremamente rico e bondoso, que lhe dava, de vez em quando, uns trocados de 5 ou 10 mil reais.
Depois de agradáveis dias em Nazária, cidade que leva o nome do Salvador, talvez como sinal de que Francenildo seja o novo Messias, aquele que libertará o Brasil das garras de uma gangue de tarados e corruptos.
Pois bem, no dia 4 de janeiro, Francenildo volta para Teresina e, muito ansioso, procura Euripedes Soares, que, segundo lhe informou sua mãe, seria seu verdadeiro pai.
A história de sua mãe, a excelentíssima senhora Benta Maria dos Santos Costa, 42 anos, merece um parágrafo à parte. Em depoimento a estagiários do grupo teatral Estadão, Benta confessa em prantos que foi seduzida por Euripedes quando tinha 15 anos. Na época, Euripedes era um pequeno empresário, com apenas 2 onibus e não possuía nenhum empregado. O relacionamento durou um mês, o suficiente para engravidar Benta. O filho, como vocês já devem estar suspeitando, seria o protagonista de nossa história, Francenildo.
O fato de Francenildo ter 24 anos e ter sido concebido 27 anos atrás é só um detalhe que os dramaturgos se encarregarão de corrigir mais tarde. A peça é voltada para as massas e não há necessidade de muitos cuidados com a verossimilhança. Um dos estagiários sugeriu o seguinte a Noblat, dramaturgo chefe: "já que Francenildo é um ser especial, dotado de visão raio-x, que lhe permite ver cédulas de dinheiro através de paredes e malas, podemos alegar que a gravidez de Benta durou 3 anos, como às vezes acontece com santos e super-heróis. Que tal?" Noblat ergue as sobrancelhas e diz que pensará nessa possibilidade.
Francenildo encontra seu pai no escritório da empresa. Segue abaixo um trecho do diálogo real entre pai e filho, segundo me informou uma testemunha."Pode entrar, garoto", diz Euripides para o rapaz que estava à porta e informara à sua secretária que tinha um assunto muito importante a tratar com o empresário. Ao ouvir aquele senhor robusto, cabelos grisalhos, chamá-lo de "garoto", Francenildo sente as pernas tremerem e tem um pensamento absurdo de alegria. Imagina-se criança novamente, chorando escondido no mato, de tristeza por não possuir um pai. Finalmente, agora teria sua chance.
"Senhor Eurípides", balbucia Francenildo, ainda trêmulo, sem saber como iniciar a conversa.
"Pois não, o que você deseja. Diga logo. Tenho que sair daqui a pouco", responde o empresário, já irritado com o que suspeitava ser mais um caso de gente lhe pedindo dinheiro. Empresários, sobretudo os pequenos, costumam ter uma desenvolvida intuição quando se trata de reconhecer credores, fiscais ou filhos bastardos que vêm atrás de grana. Eurípedes estava preocupado com os impostos cada vez mais altos que pagava. Ser empresário em Teresina, cidade importante mas miserável do Piauí, não é mole. Não tenho tempo, e receio que meus leitores também não tenham, de continuar descrevendo aquele memorável diálogo entre o filho bastardo e o empresário. O fato é que Francenildo convenceu o pai de que era de fato seu filho. Chegou a chorar ao lembrar de que ficara preso na barriga da mãe durante três anos, tempo que durou a gravidez, já que a mãe teve um caso com Francelino quando tinha 15 anos, mas o parto só ocorreu três anos depois. "Três anos na barriga de minha mãe, meu pai", chora Francenildo. Esse teria sido o principal argumento que levou Eurípedes a acreditar que Francenildo era realmente do seu sangue. O jeitinho safado de Francenildo também lembrava muito, em Eurípedes, a sua própria pessoa. Depois das lágrimas, os negócios. Francenildo ameaçou denunciar o pai à família deste. Eurípedes ficou aterrorizado, pois era membro da alta cúpula do Opus Dei, contando com amigos importantes na seita, como o governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, e a sua religião não aceitava em hipótese alguma qualquer desvio de conduta, sobretudo moral, já que os desvios na política eram um mal necessário que a Opus Deis sempre tolerou e perdoou. Eurípedes aceita dar dinheiro em troca do silêncio do rapaz. Pensava em dar uns dois ou três mil reais, mas ao fazer tal proposta escuta um pavoroso e diabólico riso de Francenildo.
"Eu quero exatamente R$ 40 mil", diz Francenildo.
Eurípedes tenta argumentar que aquilo era muito dinheiro para um pequeno empresário como ele, mas Francenildo estava agora possuído por uma estranha energia. Seus olhos projetavam um brilho de loucura que hipnotizou Eurípedes. Este se prontificou a assinar um cheque, mas Francenildo o interrompeu:
"Não quero cheque. Quero em dinheiro, em parcelas inferiores à R$ 10.000. Não pode ser mais que 10 mil para a Coaf não descobrir. Daqui a uns meses vou dedurar o ministro da Fazenda e, se eles descobrirem que recebi esse dinheiro, vão dizer que eu fui comprado pela oposição para atacar o governo".Eurípedes nem sabia o que era Coaf, e ficou confuso ao ouvir aquele papo de alta política vindo de um garoto de 24 anos, que tinha sido caseiro toda a vida. Mas como pertencia à Opus Deis e conhecera lá muitos políticos importantes, não ficou tão impressionado assim. Concordou e aceitou dar os R$ 40 mil em parcelas variadas. Outra prova do sucesso do governo Lula: pequenos empresários não vêem mais problema nenhum em dar R$ 40 mil para filhos bastardos que surgem da noite para o dia.
Estou louco para saber o desdobramento dessa incrível novela e aproveito para parabenizar o grande Ricardo Noblat pela sua criatividade ímpar, que tantos frutos têm gerado para nosso sofrido país. Algumas más línguas acusam Noblat, tendo por trás Estadão e partidos de oposição, de pretender, com esta novela, desestabilizar o governo Lula.
Isso é uma grande injustiça e mais uma tentativa stalinista-bolchevique do PT contra a liberdade de expressão.
Assinado: Comendador Virgíllio Maia Carllos Magallhães Bisneto Beira Mar

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

muito politico,poe foto de mulher!

11:50 AM  

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