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René Queiroz

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sábado, junho 16, 2007

Meu Filho, Minha Filha

Meu filho, minha filha é o nono livro de poesias de Carpinejar, se incluída na lista a coletânea Caixa de sapatos, que bebe de suas quatro primeiras obras. É tanta lírica que eu quase poderia voltar a lembrar Enzensberger, criador da máquina de fazer poesia, capaz de produzir um poema a cada 30 segundos. Mas Carpinejar é bem mais do que lírica serial.
O próprio Carpinejar volta a lembrar Um terno de pássaros ao sul quando diz: "Queria ser logo pai/ para deixar o encargo/ de ser filho." Depois do acerto de contas, do pedido de desculpas e da disposição à luta mostrada ao pai na obra anterior, Carpinejar agora aborda o mundo de seus filhos em imagens que continuam a desenhar a infância, encontros e desencontros, despedidas, separações. Assim, Meu filho, minha filha, apesar das diferenças estilísticas e formais, não deixa de ser mais um capítulo no grande romance em versos de sua vida, essa biografia em lascas, esse patchwork curricular cheio de "conficções" - para referir um termo que o próprio autor usou em uma de suas entrevistas - e pautado na relação pai-filho, mesmo em uma obra quase alegórica como Biografia de uma árvore. A capacidade fabuladora, a necessidade de narrar que o autor volta a demonstrar em sua nova obra, aliás, é rara entre os poetas de sua geração; louvado seja também, pois, por não se amasiar ao modismo de haicais fáceis, mas responder com arcaísmos narrativos de calibre. Em tempos frios, rápidos e virtuais como os de hoje, Carpinejar é capaz de fazer poesia épica, quente, demorada e real.

Meu filho comigo
Meu filho, não terminamos de conversar mesmo dormindo.
Nossas tosses continuam o assunto.
Uma responde à outra.
Uma completa a outra.
São tosses educadas, que não ofendem a noite.
Somos tremendamente felizes na doença.

Minha filha sem mim
Minha filha, pôr o pulôver em ti é uma arte.
Puxo com força, já receoso de raspar teu rosto.
Será que termino ou desisto e escolho nova roupa?
Naquelas frações de segundos em que permaneces coberta,
no escuro de estopa,
na solidão do tecido,
sofro com a possibilidade de tua ausência e enraiveço de tanto amor desajeitado.


Carpinejar, leiam agora...

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