O fim da Democracia, o voto nulo!!
Entramos em ano eleitoral e, mais do que nunca, a crise política nos leva a rever nosso papel como cidadãos
Afinal, como tem sido nossa participação nos rumos do país? Governos e parlamentos são constituídos pelo voto, mas como estamos exercendo o direito de votar e definir quem governa?
A situação é difícil diante de representantes que se sentem donos dos mandatos que lhes atribuímos, barganham votos, trocam de partidos aleatoriamente, menosprezando o sentido da democracia. Mesmo os partidos não expressam e não maximalizam as diferentes identidades e os diferentes interesses políticos por trás do comum estatuto de cidadania. O Partido dos Trabalhadores (PT), que parecia ser capaz de renovar a cultura democrática, acaba de demonstrar seus limites ao optar por estratégias de conquista do poder que negam seus valores éticos fundantes.
Mas as decepções que nos acompanham neste ano eleitoral não acabam aí. Votamos por mudanças no governo, no conteúdo e na forma. Passados três anos, vemos o aperfeiçoamento e a exacerbação das mesmas políticas macroeconômicas de ajuste do neoliberalismo, além de um desenvolvimentismo canhestro. Nesse quadro, não surpreende que, mesmo de forma larval, surja o protesto do voto nulo ou mesmo do não votar. Porém, esse "Movimento pelo Voto Nulo" é mais grave do que a crise política em si.
Não votar ou anular o voto poderá ser um render-se diante de dificuldades da democracia, uma espécie de aceitação implícita dos princípios deste capitalismo selvagem e excludente, em sua versão neoliberal, no qual o que importa é cada um e cada uma se virar por si mesmo, deslegitimando a política e sua capacidade de nos transformar em sujeitos detentores de direitos comuns de cidadania. Em última análise, com o espraiamento da opção pelo voto nulo, colocamos em risco a democracia como projeto e estratégia. O desinteresse pela política – que começa a crescer perigosamente entre nós – é o caminho mais curto para manter tudo como está.
Mesmo reconhecendo que as eleições não são a panacéia geral, votar é preciso. Nem que seja para escolher o menos pior. Mas cada vez fica mais claro que a questão de fundo é a participação cidadã, em tudo, em todos os espaços, de todas as formas. Esta é a verdadeira questão. Trata-se de pôr no centro o espaço público, a publicização e a politização como condições incontornáveis da democracia. Para que direitos, no lugar de privilégios, sejam referência da vida em coletividade, para que a busca de eqüidade e justiça social sejam possíveis, para que o bem público se sobreponha ao interesse privado é fundamental a participação cidadã. E ela só tem possibilidade e sentido como ação pública, como constituinte do espaço público, como o locus de referência de todos e todas.
No fundo, ação da cidadania, participação política e luta por direitos forjam os espaços públicos e a própria democracia. Mais do que uma questão de Estado, de poder constituído, a democracia é um processo que tem na participação cidadã a sua força vital, sua razão de ser. Por isso, todas as formas de participação são indispensáveis. O voto foi uma conquista fundamental. Nem precisamos ir muito longe para nos certificar a respeito. Nós mesmos lutamos por Diretas Já como símbolo da redemocratização nos anos 1980. E a luta pelo direito de votar veio no bojo de enormes embates que gestaram uma vibrante sociedade civil, com muitos movimentos, organizações e sujeitos coletivos.
Hoje, descobrimos os limites da enorme onda democratizadora que gestamos. Conseguimos muito, mas não conseguimos mudar a lógica destruidora e socialmente excludente de nossa estrutura social. Culpar o voto seria miopia. Talvez falte mais voto, mais plebiscitos e referendos, mais participação paritária, mais democracia direta, isto sim. Precisamos é retomar a nossa capacidade constituinte, o nosso fazer cidadão, de todas as formas, com toda a radicalidade possível.
É a privatização da política e da coisa pública que engendram crises como as que estamos vivendo. O remédio está ao alcance de nossas mãos. Não virá da política instituída no Congresso e no governo. Virá de nosso esforço de transformar em questões públicas o que teima em se manter privado, de afirmar direitos contra privilégios, de produzir mais espaço público e democracia para as fragilidades da própria democracia.
Enfim, para um Brasil justo, democrático, solidário e sustentável o jeito é participar ainda mais.
1 Comentários:
Acredito no "voto nulo" nao como sendo uma fuga ou aceitaçao. Enxergo-o como sendo uma participaçao efetiva daqueles que protestam contra a democracia representativa e acreditam numa forma de sociedade independente dos ditos "representantes", que só representam o interesse do grande capital em detrimento do benefício comum da sociedade.
A quesão do voto nulo é por mim pensada com muita seriedade, não se trata de Lula ou PT, mas de toda a corja que se encontra e que estão a muito tempo no poder . Já está provado que corrupção não tem partido. O que diz a legislação ? Façamos um movimento nacional !
A democracia brasileira é uma farsa.
A propaganda oficial, a mídia, os idosos com mais de 70 anos (dotados daquele fervor cívico característico do Jornal Nacional) afirmam: "Votar nulo é permitir que maus políticos sejam eleitos".
Ora, todos sabemos que os demagogos, como a própria origem do termo indica, bem sabe conduzir o povo, essa raça "que jamais será filósofa".
Votar nulo é sim ato de protesto.
E digo mais: eu voto nulo há 20 anos. Por quê? Ora, não quero votar. Se de fato prezam a democracia por que me obrigam a participar desta festa?
Votem, mas permitam-me não votar. Voto facultativo já.
Interromper o pleito é um meio significativo de mostrar que nós, o povo organizado, somos capazes de decidir sobre nosso futuro... de forma democrática. É não aceitar mais a politica burguesa que se instalou no Brasil.
Votar nulo nao é anular seu direito de participar do processo eleitoral, mas sim, uma participaçao ativa em forma de protesto à nossa estrutura política e eleitoral.
Pelo povo brasileiro,que deve mostrar a mão que bate também.
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