O Furacão Chávez
Ele tinha tudo para ser um presidente isolado e estigmatizado na América Latina. E de fato, tudo foi feito para que isso acontecesse. No entanto, no espaço de um ano, Hugo Chávez tornou-se o mais popular líder político do continente. Como e por que isso se deu?
Hugo Chávez tinha uma série de características que o condenariam, à luz do consenso fabricado pelos monopólios privados da mídia nacional e internacional:
- é militar, em um continente em que o currículo dos militares é muito negativo, tanto em relação à democracia, quanto à defesa dos interesses econômicos e da soberania nacional;
- surgiu para a vida política através de uma sublevação militar, facilmente assimilada a um golpe militar;
- é nacionalista, quando o consenso faz a apologia da “globalização”;
- defende maior participação estatal, quando o Estado é diabolizado pelo consenso liberal e por setores que se pretendem de esquerda – como ONGs e defensores de teses como as de Negri e de Holloway;
- apóia, solidariza-se e tem profundos acordos com Cuba, país em geral execrado pela mídia monopólica;
- é país produtor de petróleo, o que poderia levar a uma antipatia pela facilidade de viver de um recursos energético altamente valorizado no mercado internacional;
- prega o socialismo, na contramão da onda liberal.
Por que então Hugo Chávez, desde o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, há exatamente um ano, tornou-se um furacão por onde quer que vá? Até poucas semanas antes, até antes de ele triunfar inquestionavelmente sobre seus adversários no referendo de confirmação de seu mandato, Hugo Chávez era evitado por seus colegas nas reuniões de mandatários latino-americanos, porém, na posse de Tabaré Vazquez, deu-se inicio a reuniões dos três mais importantes mandatários da região – Lula, Kirchner e ele -, os três reconhecidos como os de mais peso no subcontinente. - em primeiro lugar, porque o esgotamento do modelo neoliberal e o desastre do isolamento da política dos EUA pede lideranças regionais que apontem para as políticas alternativas;
- porque Lula, que teria as melhores condições e também Kirchner, que poderiam desempenhar esse papel, não têm condições e/ou disposição de preencher esse vazio;
- porque Hugo Chávez soube resgatar a prioridade do social – usando recursos do petróleo para isso -, o papel do Estado, da soberania nacional e da integração continental;
- porque ele fala a linguagem popular, com a ideologia do latino-americanismo e do antiimperialismo;
- porque ele aponta claramente para os objetivos e para os inimigos: derrotar o neoliberalismo e o imperialismo;
- porque Hugo Chávez compreendeu e propala que, sem um fortalecimento da capacidade de regulação do Estado, não poderia haver controle sobre a livre circulação do capital financeiro, assim como tampouco recursos para as políticas sociais que universalizam direitos sociais;
- porque o governo venezuelano produz uma grande quantidade de iniciativas de integração continental – da Petrosul à Petrocaribe, da Telesur ao gasoduto continental;
- porque o governo venezuelano utiliza os recursos do petróleo para uma política de solidariedade e de integração continental.
- Hugo Chávez fortalece o Mercosul e ao mesmo tempo trabalha para a integração estratégica representada pela ALBA;- Hugo Chávez convoca uma frente antiimperialista no continente e em escala mundial;
- Hugo Chávez integra as tradições de luta do movimento revolucionário mundial com a releitura de autores clássicos do pensamento anticapitalista, reforçando a necessidade desse resgate e da elaboração teórica para a luta revolucionária;
- Hugo Chávez articula o nacionalismo com o internacionalismo, a revolução democrática com a socialista. Se já não bastasse isso, Hugo Chávez é um dirigente mobilizador, que ataca os inimigos e convoca à mobilização, passa a confiança, sem a qual nenhum movimento popular pode avançar e triunfar.
Daí, o verdadeiro furacão em que se transformou Hugo Chávez, aclamado por manifestações populares que o perseguem por onde vá, que o aclamam por onde passe, que se concentram para vê-lo e ouvi-lo, onde fale.
Se é verdade que os ventos passaram a soprar a favor das forças populares na América Latina e no Caribe, é preciso dizer que essa virada deve-se, em grande parte, à atuação do próprio Hugo Chávez, que confirma que quem sabe faz a hora, não espera acontecer...
Emir Sader
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