Raio em céu sereno
A vitória do Hamas desorganizou sem piedade a trama urdida pela administração Bush. Ela não foi, porém, em nenhum caso, raio riscando inesperadamente um céu sereno, como proposto pela grande mídia mundial. Nas semanas anteriores às eleições, prevendo a derrota, Abu Abbas procurou se servir das dificuldades impostas pelos israelenses às eleições para retardá-las e obter mais tempo para impor seus candidatos. Dias antes do pleito, assustado com o avanço eleitoral do Hamas, o governo de Israel permitiu que Barghuti, candidato da lista eleitoral do Fatah, fosse entrevistado na prisão, para que desviasse votos do Hamas.
Apesar de todos os sinais, a administração Bush exigiu o cumprimento dos prazos eleitorais, esperando conquistar, na Palestina, alguns dos muitos pontos que perdeu junto à opinião publica mundial e estadunidense, devido ao Iraque. A vitória do Abu Abbas e a repressão da resistência palestina por forças palestinas mostrariam a correção da política de construção, através de eleições de cartas marcadas, de governos enfeudados ao imperialismo, como tem ocorrido, com mais ou menos sucesso, no Afeganistão, no Iraque e ocorrerá, proximamente, no Haiti, com o apoio do governo brasileiro de Lula da Silva.
A população palestina desarmou inexoravelmente a trama ardilosamente tecida deslocando simplesmente grande parte do apoio que concedera ao Fatah, de Yasser Arafat, para o Hamas, de Ismail Haniya. Retirou, assim, sem complacência, o apoio dado à Abu Abbas, há um ano, devido a sua rendição ao imperialismo e ao sionismo. Isolou e enfraqueceu profundamente o presidente palestino e seus aliados, ao colocar no coração do próximo governo organização execrada como terrorista pelo governo estadunidense, ao igual que o IRA, as FARC, o Hesbolah, etc.
É ledo engano definir os resultados eleitorais de 25 de janeiro como um simples deslocamento do apoio eleitoral da população, de uma administração do Fatah, corrupta e incapaz, para um Hamas visto como íntegro e competente. A população palestina é uma das mais politizadas do Oriente Médio. A corrupção, antiga realidade nas filas do Fatah, foi realidade minimizada pela população, enquanto segmentos do Fatah prosseguiam na luta e o velho combatente resistia, aos 75 anos, com as mãos já trêmulas, entrincheirado nos escombros de ex-palácio presidencial de Ramallah, cercado por tropas israelenses, como bandeira viva dos sofrimentos e da firmeza dos palestinos.
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