pensante

René Queiroz

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Local: Sampa, Brazil

marcado

sábado, abril 25, 2009

O Supremo está nú!

A discussão entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa pode ser tomada como causa eficiente de uma crise do Judiciário ou, pelo contrário, seria sintoma dos desvios institucionais promovidos pela judicialização da política, com amplo apoio de setores midiáticos? Ao afirmar que Mendes está "destruindo a credibilidade da Justiça brasileira", Barbosa deflagrou um processo ou desnudou a crise institucional e (de identidade) da mais alta corte dos pais? Independente do caráter notadamente pessoal do embate entre os dois ministros, ele não revelaria a erosão de legitimidade de um Poder que, ao se submeter a imperativos político-partidários, relegou a um plano secundário seu papel constitucional? Quando o presidente do STF se apresenta, sem que ninguém tenha lhe delegado tal função, como artífice de "um novo pacto republicano", estamos diante do quê? De um magistrado para quem o texto normativo é apenas uma moldura suscetível a várias interpretações ou de um ativista que põe em risco a própria noção de Estado Democrático de Direito? Gilmar Mendes tem se notabilizado por um sentimento de urgência no que julga ser seu principal papel como magistrado: dar sustentação jurídica às teses da oposição parlamentar no combate ao governo Lula. Mas o faz de forma tão atabalhoada que constrange até mesmo os "bons companheiros". Nessa empreitada tem sido alvo de crítica até de contumazes articulistas da grande imprensa, uma vez que o primarismo de suas manifestações revela, e expõe ao ridículo, uma estratégia traçada para se manter ativa até 2010. Não foi por outro motivo, que, há algum tempo, o jornalista Elio Gaspari escreveu em sua coluna dominical. "O ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, precisa decidir qual é seu lugar no estádio. Ele pode ficar na tribuna de honra, de toga, lendo votos capazes de servir de lição. Pode também vestir as camisas dos times de sua preferência, indo disputar a bola no gramado. Não pode fazer as duas coisas". Sempre que, com total apoio de editores e colunistas, Mendes ignora a individualidade harmônica dos Poderes ? como fez com o Legislativo, recentemente, mandando tirar da página da TV Câmara um programa que contrariava seus interesses ? qual a hierarquia de princípios que ilumina suas disposições pessoais? A ideia de uma Justiça que se exerce em nome de toda a nação ou o arcabouço legal que privilegia grupos e estamentos particulares? Ao atacar frontalmente movimentos sociais como o MST, o presidente do Supremo Tribunal Federal age como magistrado ou preposto de velhas pretensões oligárquicas? Sabemos que as classes dominantes brasileiras gostam de falar uma linguagem liberal enquanto exercem formas autoritárias de governo. Se há de fato uma ação orquestrada desestabilizadora, sua novidade estaria no novo arranjo do poder, com a crescente primazia do Judiciário tentando anular o poder Legislativo e Executivo. Repete-se a história de sempre: os ideais "republicanos" de alguns setores sucumbem aos velhos artifícios autoritários já testados. A denúncia do ministro Joaquim Barbosa guarda um paralelo com o papel desempenhado pelo menino que revelou a nudez real no famoso conto de Hans Christian Andersen. À sociedade cabe avaliar o papel dos tecelões. Deve lançar um olhar atento sobre tecidos, teares e jogos de espelho com que é construída a democracia brasileira. Ou, muitas vezes, desconstruída.

quarta-feira, abril 08, 2009

O QUEIROZ QUE NOS PROTEGE!!!


O show de competência e o Preparo do Protógenes frente a essa CPI é impressionante. A clareza e a simplicidade das respostas do Delegado é de grande importância para a democracia brasileira e desmonta toda a armadilha criada para iviabilizar que se chegue ao Capo Dantas


. Um deputado quis saber a opinião do ínclito delegado Protógenes Queiroz sobre a investigação do delegado Amaro sobre um suposto vazamento na Operação Satiagraha; e sobre a investigação sobre o delegado Protógenes no curso da investigação sobre o grampo sem áudio do Supremo Presidente do Supremo.
. Respondeu o ínclito delegado Protógenes Queiroz: quem cria prova para bandido é bandido.
. Como se sabe, por decisão da Justiça, o delegado Protógenes Queiroz teve acesso à investigação sobre o grampo sem áudio fabricado pela revista Veja, da conversa do ministro Gilmar Dantas, segundo Ricardo Noblat, e o senador Demóstenes Torres. Ao examinar essa investigação, o delegado Protógenes Queiroz percebeu que a investigação, na verdade, era sobre ele e não sobre o grampo.
. A investigação do delegado Amaro é um expediente do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa para se vingar de Protógenes e Paulo Lacerda. A investigação sobre o vazamento vaza mais do que penico de asilo e se montou essa farsa para prender o repórter César Tralli, da TV Globo, beneficiário do vazamento do vazamento do vazamento.
. A maior virtude no depoimento do ínclito delegado Protógenes Queiroz foi desmontar a farsa do deputado serrista Marcelo Lunus Itagiba. O que pretendia o serrista Itagiba ?
. Destruir Protógenes.
. Destruir a Satiagraha.
. Livrar a cara de Dantas.
. Com isso, proteger José Serra.
. Com isso, provar que o grampo sem áudio tinha áudio, que a PF de Protógenes é um conjunto de gangsters e que a vigilância do Ministério Público sobre polícias é um exercício poético - teses do ministro do Supremo Gilmar Dantas, segundo Noblat.
. O serrista Itagiba pretendia também chegar ao pescoço de Dilma Rousseff e numa única pajelança salvar Dantas e eleger Serra.
. Para isso, contou com a inestimável colaboração do tartufo Raul Jungmann, que se esforçou para criar provas a favor de Dantas e construir argumentos para seus advogados de defesa.
. O serrista Itagiba precisava transformar a sessão de hoje numa CPI do Fim do Mundo.
. Foi o que Protógenes impediu.
. O serrista Itagiba demonstrou que não tem competência, sequer, para fazer uma exposição com power point. O início da sessão, quando ele partiu para a jugular de Protógenes e Protógenes o comeu com farofa, foi uma sequência imperdível desta CPI de amigos de Dantas.
. O serrista Itagiba não entregou a mercadoria

Paulo Henrique Amorim

segunda-feira, abril 06, 2009

Desvalorização da condição humana

É de impressionar a capacidade que nossa caixinha mágica tem de expor pessoas ao ridículo, fustigar valores universais como crença e etnia, trazer à tona velhos preconceitos e provocar na audiência a adesão a um tipo de humor de desvalorização da condição humana. É o que vem acontecendo com o Big Brother Brasil, já em sua 9ª edição, ao manter confinado um número de pessoas que busca o prêmio maior de R$ 1 milhão e prêmios menores, que incluem uma casa, vários carros, dezenas de celulares, computadores etc., toda essa vitrine de dar água na boca de seus ávidos consumidores, que chegam embalados pelo marketing dos produtos que patrocinam o "programa".
A inovação desta edição (pode até ter começado na edição 2008) é a criação de castigos semanais a serem cumpridos por um ou mais dos participantes. É aqui que está o ponto. Em geral, o escolhido precisa vestir uma roupa especial por um período de tempo que pode chegar a 48 horas, é privado de algum conforto físico e recebe o comando de realizar uma tarefa a cada toque de uma sirene. O que se espera dos "escolhidos"? Ora, que fiquem irritadiços, cansados e prestes a ter um ataque de nervos. A carga negativa dos "castigados" se volve primeiro para quem os indicou e depois transborda para o grupo. Ou seja, o castigo abre margem para muita discórdia. O BBB é um programa que fatura (e muito) expondo as mazelas da condição humana e é alavancado pelo nível de discórdia que impeça um clima mínimo de civilidade e bom relacionamento social dentro da casa da Globo em Jacarepaguá.
Se fosse índio, me sentiria ofendido
Voltemos aos castigos. Estes são, na maioria das vezes, infames. Vejamos alguns deles:
Um casal deve se vestir de índios (obviamente índios norte-americanos, com modelos, plumas, colares e cores dificilmente encontráveis em qualquer nação indígena no Brasil) e são obrigados a fazer a dança da chuva cada vez que toca o sinal. A maneira como uma longeva tradição indígena é retratada é uma forma pouco sutil de ridicularizar os povos indígenas e passa a mensagem de quão ingênuos (para não dizermos outro adjetivo) estes são. Não é de hoje que a cultura indígena é objeto de escárnio da auto-proclamada civilização branca. Alguns exemplos? Quando alguém não tem o que fazer numa noite de 3ª ou 5ª feira o que diz que vai fazer? Um programa de índio. Algo muito desinteressante, sem graça que… somente poderia ser feito por um ou mais índios. Quando alguém fala um português sem dominar a gramática e sem muita noção do uso deste ou daquele vocábulo como o sujeito é referido? Ah, ele fala igual a um índio. Depois dessa exposição caricata e pejorativa para com os valores dos primeiros habitantes das Américas, ainda temos que conviver com a hipocrisia ensinada em muitas das nossas escolas que respeitamos nossos índios, valorizamos seus costumes, admiramos suas crenças. Entendo que o castigo imposto ao casal para dançar dezenas de vezes a dança da chuva, a caráter, é de um ridículo somente superado pelos castigos posteriormente apresentados no mesmo programa. Se fosse índio me sentiria bastante ofendido e entraria com uma representação na esfera do Judiciário. Provavelmente não daria em nada tal representação, mas ao menos vocalizaria minha dor, embora com muito menor visibilidade que aquela alcançada pelo programa apresentado por Pedro Bial e seus heróis.
Os tropeções da História
Há poucos dias, uma participante foi escolhida para o tal castigo do monstro. A jovem deveria, vestida de galinha (isso mesmo, de galinha), chocar um ovo no jardim sempre que escutasse o som de pintinhos. Isso seria cumprido à risca por 48 horas. Como seria bom se a azarada selecionada para a performance pudesse dizer em alto e bom som: "Recuso-me a me vestir de galinha porque não sou galinha. Recuso-me a chocar ovos porque não sendo uma galinha não é inerente à minha condição humana. Peço que bolem outra tarefa menos ridicularizante de minha condição de mulher."
Um discurso desses dificilmente – se não, impossível – alguém iria ouvir da boca de uma jovem sequiosa para conquistar o seu sonhado R$ 1.000.000,00. Mas seria um discurso verdadeiro. O castigo traz consigo uma realidade que não quer calar em nosso país: somos machistas e não conseguimos fingir o contrário por muito tempo. Claro que poderia ter sido escolhido um homem para cumprir o castigo. Mas, digam-me, senhores leitores, sendo um homem aquele a escolher quem vai se expor ao ridículo por dois longos dias, será que lhe passaria pela cabeça optar por um homem? Os preconceitos contra as mulheres vêm de muito longe. Estão em textos sagrados: São Paulo advertia contra as mulheres. Santo Tomás de Aquino afirmava ser a mulher um ser "ocasional" e "acidental". No Livro de Provérbios (11:22), a mulher é redimida enquanto posse do homem: "A mulher virtuosa é a coroa de seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão de seus ossos." Encontram-se em textos dos filósofos: Eurípedes (485-406 a.C.) toma Hipólito como seu alter ego e argumenta, ardoroso, que "a mulher é um flagelo desmedido que posso provar; o pai que a gera e cria estabelece um dote a quem a leve, a quem o livre de tamanha praga!"; já Virgílio (70-19 a.C.) define a mulher como sendo sempre "coisa variável e mutável". Ninguém menos que o renomado Montaigne (1533-1592) insiste em deixar às mulheres os afazeres domésticos: "A ciência e ocupação mais útil e honrosa para uma mulher é o governo da casa." E depois ele escreveria que o papel da mulher seria o de "sofrer, obedecer, consentir." Enquanto a História avança, Voltaire (1674-1778) invocava um argumento pseudo-biológico para explicar a "inferioridade" da mulher: "o sangue delas é mais aquoso." Risível é a História. Mais risível ainda é nossa predisposição a realçar os tropeções da História. E isso o formato Big Brother Brasil vem fazendo à larga.
A humanidade assemelha-se a um pássaro
E contra estes cânones do pensamento universal não precisaríamos reforçar percepções tão incorretas e injustas sobre a mulher, seu potencial, seus infinitos talentos, sua certeira inteligência e sempre presente intuição – aliás, é corrente adjetivar a intuição como uma faculdade inerente à mulher. Será que Boninho, o diretor-geral do BBB9, e sua equipe, não poderiam se dar ao castigo (sim, me parece que a esses gênios da raça pesquisar a história seria um trabalho muito longe de algo reputado como prazeroso) de inventar outras formas de entreter o público, mantendo os polpudos patrocínios amealhados com um programa que reforça o que há de mais ridículo na natureza humana, qual seja, criar estereótipos depreciativos da condição humana e reforçar atitudes e comportamentos de rebaixamento da mulher ante o homem?
Nunca é tarde para aprendermos que a humanidade assemelha-se a um pássaro; uma asa é o homem e outra asa é a mulher. Um pássaro não pode alçar vôo sem o equilíbrio das duas asas.
Washington Araújo

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