pensante

René Queiroz

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terça-feira, outubro 30, 2007

Sobre Tropa de Elite

Os erros da esquerda sobre Tropa de Elite

É violento?
Sim, Tropa de Elite é violento, mas não mais do que Pixote ou Carandiru, por exemplo. Na verdade, a polêmica que o filme causou se deve muito menos à violência presente na tela do que a um certo esforço de setores da intelectualidade em estigmatizar Tropa de Elite e o protagonista, o capitão Nascimento, como uma fabricação da direita a serviço da visão linha-dura da política de segurança no país, especialmente no Rio de Janeiro. Ou, em outras palavras, que o filme é "fascista" porque estaria a indicar medidas de força como as únicas possíveis para o problema da violência. Vamos por partes. Primeiro, dá para compreender este tipo de leitura do filme, mas ela é profundamente injusta. Na verdade, intelectuais de esquerda têm uma dificuldade grande para formular idéias razoáveis na área de segurança pública. Em geral tratam a questão a partir do que escreveu o filósofo Michel Foucault, autor de Vigiar e Punir – e mesmo isto está presente no filme, em uma passagem que se revela bastante irônica com Foucault. Portanto, para a maior parte da militância de esquerda, segurança é sinônimo de "aparelho repressor do Estado" (capitalista, naturalmente). Partindo deste referencial, de fato sobra muito pouca coisa além de pregar a melhoria das condições de vida dos mais pobres, como se isto pudesse significar necessariamente uma diminuição da violência. É até óbvio que a violência seja menor com a redução da desigualdade social, mas isto não é suficiente e deixa de fora fenômenos importantes como o tráfico de drogas. Afinal, que outra atividade – concessões de estradas em gestões do PSDB à parte – tem taxa de retorno tão alta? Em outras palavras, não basta apenas trazer perspectivas de educação e emprego para os pobres, porque o tráfico é uma máquina de fazer dinheiro a serviço de uma melhoria rápida e profunda na vida dos que com ele se envolvem, em que se pesem os riscos envolvidos na atividade.
A esquerda certamente se irrita com a forma com que os estudantes maconheiros e cheiradores são apresentados no filme. Mas o que se apresenta ali é uma caricatura, necessária para o que o diretor se propôs a discutir. Afinal, não é simplismo algum dizer que o sujeito que cheira cocaína está, em última análise, financiando um esquema criminoso que resulta nas mortes e verdadeiras carnificinas nos morros. Isto é fato, não é simplificação. Quem toma Red Label pode eventualmente matar alguém no trânsito, mas jamais terá fornecido recursos ao crime organizado (a menos, é claro, que compre a bebida de contrabandistas)... No fundo há duas formas de ver as coisas quando o assunto é droga: ou se defende a liberação total e completa de todo tipo de substância tóxica, como defendem muitos economistas liberais da Escola de Chicago, sob a alegação de que o custo para combater o tráfico é mais alto do que os benefícios deste combate; ou se enfrenta o tráfico e se reprime o consumo. Uma parte da esquerda aceita bem a idéia da liberação das drogas e pode assim ter motivos para a indignação com a maneira como o filme trata os jovens consumidores. A parte da esquerda que concorda com a proibição dos tóxicos, porém, também reclama e se apega na questão dos "direitos humanos" – exige da polícia tratamento, digamos, mais civilizado com o tráfico e também alguma tolerância com os consumidores. A segunda postura, no fundo, é apenas uma fuga do debate real.
Voltando ao filme, o que o diretor José Padilha fez foi mostrar as várias faces de uma questão bastante complexa, qual seja a da violência urbana que em boa parte, mas não apenas, se deve ao tráfico de drogas. O capitão Nascimento, protagonista de Tropa de Elite, não é retratado de forma alguma como um super-herói: tem síndrome do pânico, bate em mulher, faz uso da tortura e é assumidamente um justiceiro. Aliás, alguém já escreveu, em observação bastante perspicaz, que Padilha não utiliza certas artimanhas, muito comuns em filmes norte-americanos, para fazer o público simpatizar com o "herói": ninguém ameaça o filho do capitão ou mexe com a mulher dele. Pode-se acrescentar que também não há nenhum momento em que Nascimento sofra uma emboscada ou apareça em situação difícil da qual consegue se livrar milagrosamente. Na verdade, o fato de boa parte do público aceitar o capitão Nascimento como herói diz mais a respeito de um estado de espírito presente na população, especialmente no Rio e São Paulo, do que é propriamente fruto da intenção do diretor. É evidente que para quem já sofreu ou sofre com a violência urbana, o modo de agir do Batalhão de Operações Policiais Especiais acaba sendo celebrado como solução, até porque na polícia convencional, como o filme deixa claro, poucos confiam... Assim, não se pode dizer que o filme seja fascista, embora parte do público esteja ávida por soluções fascistas para a tragédia da violência brasileira. Quando o capitão Nascimento diz que que entra no Bope está indo para guerra, isto é apenas verdadeiro e não havia outra forma para o diretor de Tropa de Elite retratar tal realidade. No fundo, do ponto de vista da esquerda, melhor do que discutir se o filme está a serviço da direitosa política linha-dura da segurança é tentar formular com alguma clareza o que deve ser uma política cidadã de segurança pública. Nas atuais circunstâncias, o autor destas mal traçadas entrelinhas duvida que fosse possível prescindir de gente como o capitão Nascimento e de uma tropa de elite tal e qual a do Bope. Por uma razão simples: há mesmo, nas duas maiores cidades do país e em alguns entrepostos ou municípios estratégicos para o tráfico, como Campinas, uma guerra urbana em andamento. Infelizmente, é esta a realidade hoje e dá para entender o motivo de tamanho entusiasmo com o Bope. Em tempos de paz quem sabe o Batalhão de Operações Policiais Especiais seja simplesmente desnecessário e o capitão Nascimento compreendido apenas e tão somente como um personagem de dias confusos que o país enfrentou.
É pelo que nos resta torcer.

domingo, outubro 28, 2007

é ele, Edvaldo Santana

Deixe o telefone em paz
Deixe entrar outros canais
Sintonize nos sinais
Enviados para a terra
Ponderar nunca é demais
Compreender se for capaz
E quando acabar o gás
Vou morar na cordilheira
Zamponhas para o frio do sul
Sanfonas para o negro blues
A abelha o pardal
Se encontram no quintal
Se alimentam com o mel
Das flores da vida
Não consigo ser igual
Considero isso normal
Tá difícil ler jornal
Ainda
Violas para New Orleans
Guitarras para os anjos guaranis

quinta-feira, outubro 25, 2007

EDVALDO SANTANA

Quem não ouviu que se abale e ouça, este cara é muito bom mesmo...

Samba de Trem
O trem de ferro, se não fosse JK
Ia ser bom pra transportar
Brasil inteiro
Em Trinidad, quando o trem ta pra chegar
Do Itaim dá pra ver que já vem cheio
Calmon Viana, variante de Itaquá
Oh, seu Goulart, Aracaré com Mane Feio
Ele que pega sempre, sem faltar o cinco e meia
Que anda cheio feito cela de cadeia
Vai pendurado pela porta feito um cacho
Da bananeira, é gente em cima, gente embaixo
E vai no vendo de estação em estação
E chega em casa ainda reza uma oração
Toma cachaça, chuta a porta do barraco
Ronca de um jeito que até espanta o cão
Trem tem o samba do trem
No vagão do trem, tem um samba de trem
Moça bonita, arroz na marmita
No fundo querendo sair na revista
Moleque no teto, bancando o surfista
Maluco fumando cigarro de artista
No hino do crente ambulante na fita
Um rap, um pagode
Uma salsa, um rock
Um reggae e um xote
Um coco e um blues

domingo, outubro 07, 2007

Coisas do Brasil

O decreto de "demissão" do gerúndio, assinado pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), recebeu críticas de especialistas em língua portuguesa .
A principal alegação é que o governador não pode controlar o uso do português.
Além disso, teria feito uma confusão ao "demitir" o gerúndio, e não o gerundismo, vício de linguagem que invadiu o serviço público e o telemarketing. Publicado na última segunda-feira (1º) no Diário Oficial, o decreto proíbe o uso do "gerúndio" como desculpa para a ineficiência na administração pública. "Fica demitido o gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal", diz o texto do decreto.

João Cabral de Mello Neto escreveu um belo poema usando o gerundio:


TECENDO O AMANHÃ

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos que
com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


E se ligarmos agora para o chefe da casa civil perguntando pelo Governador, o que o seu secretario irá dizer?
- O Governador esta a viajar...

Rene

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