pensante

René Queiroz

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

Livre sobre mim

Nem sempre fui assim
Mas na verdade
Eu sou sujeito a chuvas e trovoadas
Sendo assim desse jeito
Eu fico entre a cruz e a espada
Será que compro feito ou faço em casa
Se isso posso
Ócio já não posso
Ninguém é fácil nem é manso bicho
Meu negócio é qualquer negócio
Resta-me saber
Que caminho vai dar aqui
Viver às vezes é morrer de tédio, de vício
De ataque de míssil
Viver é virar de ponta cabeça o avesso
E não se fala mais nisso

releitura de Itamar

Que país é este?

Em que as pessoas perderam o direito a habeas corpus.
Em que o mandatário maior tornou-se onipotente e decide qualquer assunto à sua vontade.
Em que existem eleições, mas elas são uma farsa e fraudadas.
Que pode jogar o exército contra manifestações populares.
Que está construindo campos de concentração em todo o seu território.
Onde qualquer pessoa pode ser presa sem acusação, por tempo indeterminado, sem direito a advogado nem a julgamento.
Onde a tortura é legalizada.
Onde as pessoas perderam a privacidade telefônica, na Internet, em sua correspondência e em suas atividades comerciais e particulares.
Onde as pessoas são investigadas até sobre o que lêem nas bibliotecas.
Que é racista e discrimina etnias e religiões.
Que aplica a pena de morte, mas quase que exclusivamente para etnias discriminadas.
Que condena crianças de dez anos de idade à cadeia.
Isto é hoje, século XXI

quinta-feira, dezembro 20, 2007

O leite era mesmo leite. Quem paga o prejuízo?

Lembra do leite longa-vida com soda cáustica? Pois bem: o laudo do Instituto Nacional de Criminalística mostra que o leite não tinha soda cáustica.
Lembra do leite longa-vida com água oxigenada? Pois bem: o laudo do Instituto Nacional de Criminalística mostra que o leite não tinha água oxigenada.
A notícia foi publicada pela imprensa com muita, muita discrição. E muita gente nem percebeu. O leite não era dos melhores, claro. Quem quer leite bom de verdade compra leite fresco.
Talvez possa usar leite em pó de boa marca, dissolvido em água devidamente tratada e filtrada.
Leite que vive fora da geladeira sempre tem conservantes. Mas não era nada que fizesse mal à saúde. Mas, se o leite longa-vida era exatamente o que prometia, ser um leite longa-vida, qual o motivo do escândalo? Talvez a explicação esteja numa curiosa coincidência de datas. Uma das empresas mais atingidas pelo escândalo foi a Parmalat, hoje pertencente a um fundo de investimentos, o LAEP. E o noticiário explodiu bem quando a LAEP preparava a oferta pública de ações (IPO) da Parmalat, na Bolsa de Valores de São Paulo. O pessoal da empresa estava em road-show no exterior, preparando o lançamento, e teve de voltar rapidamente ao Brasil, para enfrentar o terremoto.
Este colunista aprendeu desde cedo a desconfiar de coincidências. E ainda se lembra com clareza da época em que a água Lindóia foi massacrada pela imprensa, por conter uma bactéria nociva. Depois que uma empresa concorrente lançou sua água em copos descartáveis, a bactéria nociva desapareceu da imprensa. Teria sido coincidência, também?
Carlinhos Brickmann

quarta-feira, dezembro 19, 2007

FERIDA

-“Combinado. Então vou te amar em silêncio.”

- “Até lá então.”

Não me lembro ainda a hora que o relógio marcava, muito menos quanto tempo já não te olhava.

Ao te chamar, obtive como resposta nada mais do que o mesmo padrão um tanto desagradável:

- “Espere um minuto, vou ali tratar de uma ferida e já volto.”

Ainda me lembro de ter te perguntado de forma solícita e humildemente servil:

- “Quer ajuda?”

A resposta não poderia ser pior:

- “...”

(Silêncio, ah, o silêncio... Quantas vezes, silêncio. Quais as tuas razões? Por que ainda estabelece o nosso vínculo? Eu sei de mim. Mas quais as tuas razões, cara? O que, afinal, você quer?)

Sem perceber o que se passava, sem me dar conta do plano já traçado até por simples cartas de tarô, fiquei em silêncio e esperei.

(Estava a milhares de quilômetros de imaginar que era da minha ferida que você falava).

Primeiro te ouvi em silêncio. Fingi que me tirou de algum lamaçal e me pegou no colo. Enfim!

Olhou a ferida nesse teu altar de plástico e usando toda a serenidade da tua voz, limpou e afastou qualquer objeto estranho, cortante ou pontiagudo. Entre lágrimas dessa dor que dilacerava compulsivamente a cada minuto, secas pelo longo tempo entre a última vez e o grande abismo que se formava entre elas.

Com o teu carinho, amizade e com uma ternura incrível permaneceu ali, ao meu lado, como se a tratasse ao longo do dia até que parasse de sangrar. Mas sempre de madrugada, ou pela manhã, eu tratava novamente de arrancar cada casca que pudesse ter se formado.

(Não sou tão forte assim pra me livrar, pra sumir sem nunca mais voltar. Então por que não faz isso por você ao menos? Você não precisa disso. Por que não se livra de uma vez por todas desse teu fardo? Nessa nossa competição, ou queda de braço, ou seja lá o que for, você ganhou, admito! Desisto!)

Ferida. Sempre presente. E continua presente, a todo o momento e a qualquer instante.

Mas para um cara como eu, o silêncio e a distância de quem realmente se gosta é o pior castigo, a pior tortura; é sal grosso na ferida eternamente aberta.

Não sangra, mas está aqui e começou a cicatrizar.

Fez, sem qualquer obrigação, a sua parte e eu faço a minha, prometo.

(Não esqueço nunca mais que tenho um baú cheio de “sorrisos encantadores” que são mágicos nessas feridas, em qualquer ferida, nas minhas, nas suas).

Já marquei com o tempo, para se encarregar do resto. Já fiz as pazes com Deus e sei que é bem provável que ele não em atenda.

Ele me garantiu que tem a agenda cheia, mas que assim que for possível resolve o assunto (de um jeito, ou de outro, eu gostando, ou não).

Beijo-sorriso.

Por Pablo Lopes Qz.

Parece fácil? que texto lindo!
Rene

terça-feira, dezembro 18, 2007

Espaço Cinzento


Passa-se com a alma algo semelhante ao que acontece à agua:

flui.

Hoje é um rio.

Amanhã será mar

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Elegia: indo para o leito

Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens.
Tu, meu anjo, és como o Céu De Maomé.
E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu,
Anjo branco,
põe não é o cabelo
mas sim a carne em pé.
Deixa que minha mão errante adentre.
Atrás, na frente, em cima, em baixo,
entre.
Minha América!
Minha terra a vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetra o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total!
Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem vestes.
As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la.
Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-Te:
atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.

John Donne (tradução livre)

domingo, dezembro 09, 2007

E as manchetes sobre Putin?

Os jornalões acentuaram em suas primeiras páginas a frase de Hugo Chávez ao definir “de merda” a vitória da oposição no referendo de domingo passado.
A palavra até me surpreendeu ao surgir em manchete de órgãos de imprensa vetustos, e outrora ciosos de sua recusa ao emprego de vocábulos chulos, ou de baixo calão.
Mas diante de Chávez cessa tudo o que antiga musa canta.
Não teve a mesma repercussão outra frase do comandante, pronunciada horas depois da entrevista coletiva concedida no Palácio Miraflores:
“Em 2013, encerrado meu mandato, irei embora”.
Causa espécie a diferença de tratamento reservado pela mídia nativa a Putin, o qual está a cuidar da sua permanência no poder até 2024. Não creio que se trate de simpatia, talvez este comportamento se deva às distâncias.
Um acidente de trânsito na esquina causa mais comoção do que um terremoto em Bangladesh. Ainda assim, aos olhos dos defensores da civilização ocidental e cristã, Putin teria de parecer bem mais perigoso que Chávez.

ainda "¿porqué no te callas?"

Não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Esta frase é reveladora em diferentes níveis.
Esta frase, pronunciada pelo Rei de Espanha dirigindo-se ao Presidente Hugo Chávez durante a XVII Cúpula Iberoamericana realizada no Chile, no dia 10 de Novembro, corre o risco de ficar na história das relações internacionais como um símbolo cruelmente revelador das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colônias. De fato, não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Como qualquer frase que intervém no presente a partir de uma história longa e não resolvida.Mas "¿porqué no te callas?" é ainda reveladora em outros níveis.
Saliento três. Primeiro, a desorientação da esquerda européia, simbolizada pela indignação oca de Zapatero, incapaz de dar qualquer uso credível à palavra "socialismo" e tentando desacreditar aqueles que o fazem. Pode questionar-se o "socialismo do século XXI" - eu próprio tenho reservas e preocupações em relação a alguns desenvolvimentos recentes na Venezuela - mas a esquerda européia deverá ter a humildade para reaprender, com a ajuda das esquerdas latinoamericanas, a pensar em futuros pós-capitalistas.
Segundo, a frase espontânea do Rei de Espanha, seguida do ato insolente de abandonar a sala, mostrou que a monarquia espanhola pertence mais ao passado da Espanha que ao seu futuro. Se, como escreveu o editorialista de El País, o Rei desempenhou o seu papel, é precisamente este papel que mais e mais espanhóis põem em causa, ao advogarem o fim da monarquia, afinal uma herança imposta pelo franquismo.
Terceiro, onde estiveram Portugal e o Brasil nesta Cúpula?
Ao mandar calar Chávez, o Rei falou em família.
O Brasil e Portugal são parte dela?
Boaventura de Sousa Santos, sociólogo

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Estou ciente

A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não!
Este eu mesmo carrego!
P.Leminski

segunda-feira, dezembro 03, 2007

A Vitória de Chavez

Se por um lado a vitória do Não foi uma terrível derrota para o projeto e o programa de transformação nacional de Hugo Chavez, por outro lado o resultado é a confirmação de todas as demais vitórias do presidente venezuelano e demonstração inconteste da democracia plena na Venezuela. Desde a primeira eleição de Chavez, são muitas as acusações acerca de um suposto caráter ditatorial de seu governo, mesmo com tantos referendos, plebiscitos, eleições e consultas populares. Nos últimos tempos mesmo, até no Congresso Nacional brasileiro, viu-se a tentativa de setores da direita mais radical, de impedir o ingresso da Venezuela no Mercosul, sob a acusação de que aquele país não seria uma democracia. A oposição venezuelana, desde o início da convocação do referendo, adotou o mesmo discurso, alegando que não seria democrático, que a votação e os resultados seriam fraudados, dentre inúmeras outras acusações que caíram por terra nesse domingo. Será uma grande vitória da democracia venezuelana?, profetizava Chavez, desde o início da última semana. E assim o foi. A vitória da oposição no referendo confere absoluta legitimidade à Democracia Popular na Venezuela, bem como ao sistema eleitoral, plenamente isento e eficiente. As acusações oposicionistas acerca da possibilidade de fraude mostraram-se levianas e infundadas, demonstrando que todos os resultados obtidos pelas urnas foram a mais legítima manifestação da vontade popular. Com isso se consolida em definitivo o sistema democrático venezuelano, com a participação regular e direta da população em todas as principais decisões do país. E o resultado fortalece o exemplo democrático que deve servir de exemplo para todo o mundo, como um modelo de democracia plena, não apenas representativa, que respeita a real vontade popular, não fazendo meras consultas sobre nomes a cada período pré-estabelecido. Com a grande radicalização da campanha, os críticos de Chavez em todo o mundo, não cansavam de repetir que, caso a reforma fosse derrotada nas urnas, Chavez não aceitaria o resultado e usaria a força contra o povo e acabaria com as instituições. Entretanto, como apontavam os analistas mais atentos, os resultados, contrários a Chavez, foram prontamente aceitos pelo presidente venezuelano, em demonstração da plenitude da democracia venezuelana, a mais participativa a avançada da atualidade. Com o coração lhes digo, há várias horas tenho me debatido em um dilema. Já terminou o dilema e estou tranqüilo, espero que os venezuelanos também, disse Chavez em cadeia nacional de rádio e televisão ao anunciar os resultados do referendo. Agora os venezuelanos e venezuelanas devemos confiar em nossas instituições. Aqueles que votaram em minha proposta e aqueles que votaram contra a minha proposta, lhes agradeço e lhes felicito porque provaram que este é o caminho. Oxalá se esqueçam para sempre dos altos ao vazio, dos caminhos de violência, da desestabilização, acrescentou Chavez.
Chavez reafirmou seu pleno compromisso com as instituições e com a democracia venezuelana, afirmando que é preciso responsabilidade. Também chamou a oposição a administrar sua vitória com responsabilidade e maturidade, que não foi uma vitória larga, mas estreita. Chavez aproveitou seu pronunciamento para lembrar que aqueles que se abstiveram, ao contrário do que afirmavam alguns, não ajudaram à revolução, mas sim à vitória do Não. E disse que está pronto para uma longa batalha, que aprendeu nesse período a transformar derrotas em vitórias morais, que depois se transformam em vitórias políticas. Com tais declarações o presidente venezuelano ratificou o resultado e o seu compromisso com a democracia e as instituições venezuelanas. Foi também uma demonstração de respeito à decisão popular e à oposição. Acima de tudo, tais declarações de Chavez silenciam de uma vez por todas, todos aqueles que o acusam de autoritário de ditatorial, demonstrando a maturidade da democracia popular venezuelana.

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