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René Queiroz

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domingo, julho 31, 2005

Paulo e Alice - meus melhores poetas Posted by Picasa

Século XXI

Perplexidade.
Essa é a sensação de quem vive a instabilidade do mercado de trabalho neste início de século. Profissões surgem e desaparecem com extrema rapidez; novas exigências são colocadas para aqueles que se candidatam a uma vaga; empresas passam por mudanças radicais na relação com seus empregados. O mundo globalizado dita regras que há poucos anos seriam consideradas heresias administrativas. O jovem enfrenta dúvidas na hora de planejar seu futuro profissional. Está cada dia mais difícil encontrar resposta para a tradicional pergunta "o que vou ser quando crescer?".
Um dos maiores problemas relacionados ao novo mundo do trabalho se refere ao desemprego. A globalização provocou entre as empresas uma onda de fusões, incorporações e acordos operacionais em escala planetária. Com isso, as companhias passaram a produzir mais, em menor tempo e com menos empregados. As demissões se multiplicaram na mesma proporção do aumento dos lucros. Mas tal situação não é exclusiva do Brasil; todos os países a enfrentam - em graus diferenciados, é claro - a dificuldade de absorção da mão-de-obra disponível.
Mas o Brasil não sofre os efeitos do desemprego apenas devido à globalização. A estrutura econômica do país também contribui para que haja cada vez menos vagas para mais candidatos. Concentração de renda, exclusão social e desequilíbrios regionais são algumas das causas de o Brasil ocupar o segundo lugar no ranking mundial de desemprego, perdendo apenas para a Índia.
Este é o novo mundo do trabalho, no qual o emprego é artigo cada vez mais escasso. Capacitar e elevar o nível de empregabilidade da população implica atacar apenas parte do problema. Cursos, formação continuada, desenvolvimento de novas habilidades ou qualquer outra iniciativa podem aumentar as chances de se conseguir espaço no mercado. Porém, caso todos os trabalhadores o fizerem, não haverá vagas suficientes para absorver toda a mão-de-obra. A economia atual não tem conseguido gerar tamanho nível de emprego.
As inovações tecnológicas e as constantes transformações no mundo do trabalho colocam o jovem em uma situação difícil. Ele não sabe se segue o que imagina ser sua vocação ou se opta por enveredar por campos profissionais valorizados pelo mercado. Conciliar estudo e trabalho também é um problema para quem busca o primeiro emprego - que se agrava se ele for de família de baixa renda. Nesse caso, a lei da sobrevivência costuma falar mais alto.
Mas há alternativas em construção. Em várias comunidades surgem exemplos de uma nova forma de organização do mercado de trabalho e de consumo. São o que os estudiosos chamam de economia solidária - representada por cooperativas de profissionais, grupos de ajuda mútua ou consórcios de equipamentos. Pessoas com interesses comuns se unem, oferecendo produtos e serviços.
O caminho encontrado por essas comunidades é uma resposta ao desemprego estrutural no país. Também representa uma alternativa ao ingresso no mercado informal de trabalho. A perspectiva proporcionada pela economia solidária - a de ter uma profissão e ser seu próprio patrão - atrai muito mais que se tornar camelô ou passar anos atrás do balcão de um bar em sua comunidade.

quarta-feira, julho 27, 2005

Quando o inimigo dorme ao lado

O desembarque de militares dos EUA na Tríplice Fronteira —área estratégica pela presença de Itaipu e do Aqüífero Guarani— é a consolidação de um sonho que vem desde os atentados de 11/9. Apesar das negativas, fato pode consolidar a permanência definitiva dos militares norte-americanos no Paraguai
A América do Sul vive nos últimos anos um período de atividade permanente dos movimentos sociais. Em alguns momentos, a ação dos movimentos sociais tem ocorrido de forma mais intensa. Em outros, mais atenuada. Sem as amarras da repressão de ditaduras, e por viver democracias (no conceito liberal), o povo tem ido às ruas cobrar mudanças. Por não fazê-las, alguns presidentes foram depostos.
Desde 2001, três presidentes eleitos pelo voto foram afastados —sem contar, nos casos de Argentina e Bolívia, seus sucessores imediatos. O primeiro foi o argentino Fernando De la Rúa. Depois, o boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada. Por último, o equatoriano Lucio Gutiérrez.
Desde a década de 80, a América do Sul vem sendo submetida ao modelo neoliberal. Hoje, não tem capacidade de retomar o desenvolvimento, recuperar seu atraso tecnológico, avançar no processo democrático e diminuir os problemas sociais.
É justamente isso que o povo, após eleger alguns governantes de características de centro-esquerda —o brasileiro Lula, o venezuelano Chávez e o uruguaio Tabaré— ou progressistas —o argentino Kirchner e o paraguaio Frutos— tem cobrado pelas ruas da América.
São estes governantes que procuram, pela primeira vez nos últimos 30 anos, com determinada independência e soberania, a construção de uma política de integração da América do Sul, através da chamada "Comunidade Sul Americana de Nações". E é justamente a isso que se opõem os EUA.
O movimento social está em franca ascensão na América do Sul. Está presente não apenas na deposição de presidentes, mas também na construção de alternativas econômicas e políticas. Forçam governantes a tomar posições que contrariam os interesses norte-americanos, como é o caso da Bolívia em relação ao petróleo e gás, do Uruguai com a questão da água e inclusive no Paraguai, onde há movimentos de rua contra privatizações.
Historicamente, Brasil e Paraguai viveram, e por que não dizer, ainda vivem conflitos diplomáticos. Temos problemas sociais na fronteira entre Cidade de Leste e Foz do Iguaçu. E é comum, pelo menos do lado de lá, a acusação de que a culpa é do Brasil.
No ano passado, tramitou no Congresso do Paraguai um projeto de lei que estabelecia o confisco das terras de brasileiros. Mais recentemente, como forma de inviabilizar um dos projetos de construção do Mercosul, que trata da constituição de um Parlamento do bloco, o Paraguai começou a exigir que o número de parlamentares por país fosse o mesmo, e que qualquer decisão tomada, no futuro Parlamento, fosse por consenso.
Nesta conjuntura e nesse processo conflitivo, os Estados Unidos buscam fazer acordos bilaterais, comerciais ou não, como é o caso com México e os países da América Central. Além da questão comercial, esses acordos avançam em questões como legislação trabalhista, propriedade intelectual, meio ambiente, recursos naturais e energéticos, saúde e educação.
A Colômbia e o Equador são considerados países-chave para a manutenção da hegemonia norte-americana na região. Mas, com a queda de Lúcio Gutiérrez e a sombra política cada vez maior de Chávez na região, o futuro, neste caso, resta indefinido.
Mesmo antes da queda de Gutiérrez, os Estados Unidos, em julho de 2004, por ocasião da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Fort Lauderdale, propuseram que os países que "se afastassem gradualmente da democracia" fossem isolados e que, se necessário, fosse permitida, inclusive, a intervenção[1].
Essa resolução não foi aprovada. Não satisfeitos, os EUA voltaram à carga. Agora, por ocasião da reunião dos ministros da Defesa em Quito, ocorrida em novembro de 2004. Nessa ocasião, propôs "Donald Rumsfeld, apoiado por dirigentes colombianos e centro-americanos, elaborar uma nova concepção da ´segurança preventiva´ e de constituir uma força multinacional latino-americana —sob o comando do Pentágono, evidentemente", para atuar na América Latina [2].
Neste contexto, em 24 de novembro de 2004 —conforme registro da página Senado paraguaio na internet—, o país vizinho assina um "acordo por troca de notas" que trata de exercícios e intercâmbios militares com os Estados Unidos.
Este acordo foi internalizado no ordenamento jurídico paraguaio pela lei nº 2.546/04, que prevê 5 exercícios militares conjuntos entre os meses de janeiro e junho de 2005. Porém, ao que tudo indica, o acordo foi prorrogado pela mensagem nº 282, enviada no último dia 7 de junho pelo Executivo do Paraguai.
Na mensagem, o governo paraguaio solicita o "ingresso no país de tropas das Forças dos Estados Unidos da América, com armas, equipamentos e munições, a fim de realizar exercícios e intercâmbios militares bilaterais [...]”, no período compreendido entre julho de 2005 a dezembro de 2006.
O texto prevê a realização de treze exercícios militares, com a participação de "forças especiais" e a utilização de aviões e helicópteros. Em outras palavras, este acordo permite a instalação de uma "base militar" norte-americana "no olho do furacão" —se não permanente, pelo menos temporária—, além de conceder tempo suficiente para mapear toda a região da tríplice fronteira e da fronteira com a Bolívia.
O desembarque de militares americanos para participar de exercícios, inclusive na Tríplice Fronteira —área estratégica pela presença da Itaipu e do Aqüífero Guarani— é a consolidação de um sonho que vem desde 2001. Na época, após os atentados contra as torres gêmeas, o sub-secretário Douglas Feith (Defesa) sugeriu ocupar esta área, onde, segundo ele, haveria terroristas.
Apesar da negativa dada tanto por autoridades paraguaias quanto norte-americanas, esta entrada pode consolidar a permanência definitiva dos militares dos EUA no Paraguai, uma vez que há anos um aeroporto na região do Chaco é mantido pelos americanos [Glass, V. Agência Carta Maior, 01/07/2005].
Os soldados e demais contingentes que participarão dos exercícios chegam com imunidade diplomática aprovada pelo parlamento paraguaio no último dia 26 de maio. Segundo a ministra paraguaia Leila Rachid (Relações Exteriores), "os soldados [americanos] terão as mesmas prerrogativas que os funcionários técnicos ou administrativos de delegações diplomáticas que capacitam nossos compatriotas", e que a imunidade total só seria dada àqueles "que trabalharem com causas humanitárias"[3].
É comum países assinarem acordos de exercícios militares conjuntos, com os EUA ou não, mas não é comum constar destes acordos a concessão de imunidades diplomáticas para os soldados.
Pela lei aprovada pelo Paraguai, todos os efetivos norte-americanos contarão com as mesmas prerrogativas de um funcionário diplomático. Ou seja, o país vizinho renuncia ao direito de submeter os "visitantes" ao seu sistema judicial, às cortes internacionais, ou a qualquer outro tribunal que não seja dos Estados Unidos.
A imunidade diplomática para soldados americanos em serviço no exterior passou a ser defendida, muito recentemente, com o objetivo de resguardá-los de possíveis práticas criminosas. Ganhou relevo a partir da invasão do Iraque, notadamente em razão dos fatos ocorridos nas prisões de Abu Ghraib e Guantánamo.
A prerrogativa da imunidade diplomática está disposta na Convenção de Viena. No caso destes soldados, vale a pena destacar o que diz respeito à inviolabilidade pessoal e à imunidade de jurisdição penal, civil e administrativa.
Essa imunidade significa que, por mais criminosa que seja a ação de qualquer um dos americanos que compõem a "tropa de treinamento" que está no Paraguai, eles não poderão ser presos ou detidos. Somente poderão ser julgados por crimes de alçada penal, civil e administrativa em tribunais dos EUA.
Muito ainda se debaterá sobre este tema, mas duas outras questões são importantes para o debate. A primeira: quantos serão os militares e civis que vão atuar no Paraguai, e se não vai repetir o que ocorreu na Colômbia.
O "Plano Colômbia" limitou em 400 pessoas o número de militares americanos a atuar nas operações de combate ao narcotráfico. No entanto, o Congresso colombiano, ao aprovar o plano, em julho de 2000, autorizou, além da presença dos militares, a de 400 agentes de investigação civis"[5]. Com isso, permitiu que empresas como a Dyncorp, que emprega mercenários e executam ações militares e de espionagem, tivessem suas atividades legalizadas na Colômbia.
A segunda questão diz respeito ao Mercosul. Cada Estado parte do bloco tem a sua soberania preservada. Portanto, sobre isso nada a questionar. Mas o que deve ser debatido é o quanto o fato de as tropas americanas estarem estacionadas no Paraguai —e o que pode existir por trás desse fato— poderá afetar na construção do bloco.
Um bloco de países não se constrói meramente com relações econômicas, mas com a construção de uma identidade política, econômica, social e cultural. Um bloco somente será possível se as fronteiras geográficas forem borradas, e os países começarem a enxergar seus vizinhos não como inimigos, mas como parceiros de uma construção.
Porém, como fazer isso sem desconfiança, se o vizinho dorme com o inimigo?

[1] L. Maurice, Sinais de fraturas. Le monde Diplomatique, Ed. brasileira , nº 65/jun.05.
[2] Idem.
[3] Glass, V. Agência Carta Maior, 01/07/2005.
[4] Le Monde Diplomatique, Ed. Brasileira , nº 58/nov.2004.

História mostra que o PT não é o primeiro e não será o ultimo.

Ultimamente com a exposição explícita do odor ou como diz Roberto Jefferson do cano de esgoto não passa água limpa, infelizmente, não passa mesmo. A corrupção política no Brasil não vem do governo Fernando Collor de Mello nem muito menos nasceu no governo de Luis Inácio Lula da Silva. Essa história vem de longe. Nos anos de 1950, o nome Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo-SP, foi colado á mais remota evidência de financiamento clandestino de campanha; na época chamada sarcasticamente de “caixinha do Adhemar”. Para se livrar Adhemar contratou alguns compositores para compor uma música para contar uma história contrária a espalhada pela oposição. A versão musical dizia o seguinte: Quem não conhece/quem não ouviu falar/ na famosa caixinha do Ademar/que deu livro, deu remédio, deu estrada/caixinha abençoada. Logo após era a vez de Juscelino Kubistchek, que também tinha sua caixinha. JK foi, por sinal, o primeiro político a ter revelado alguns segredos de financiamento, contados por “scholar” americano (Edward Riedinger), que foi professor de inglês do ex-presidente. À sombra das contribuições floresceram as empreiteras. Segundo Riedinger, “a maior parte das doações era feita anonimamente. Poucos pediam recibo, pois não raro os doadores forneciam dinheiro também a candidatos adversários, como forma de se prevenirem contra resultados imprevisíveis” concluído uma máfia. Trancredo Neves, eleito presidente por processo indireto. Arrecadou duzentos e cinqüenta mil dólares usando o mesmo esquema. Segundo Garnero, embora Tancredo estivesse com a eleição praticamente ganha (contra Paulo Maluf) queria um fundo disponível para qualquer eventualidade. Assim, Delubio Soares e Silvio Pereira (operadores da caixinha do PT) são personagens deste universo de financiamento de campanha que sempre existiu e sempre continuara a existir se não ocorrerem uma mudança radical neste chamado estado democrático de direito, ou seja, são apenas atores de um entretrecho maior, o processo político nacional, “Vencer uma eleição para qualquer partido sempre foi o que mais importou. Pois todo político acredita que estar neste sistema de elites não significa vender sua ideologia. O PT deveria ser, tragicomicamente o ultimo partido a subir no poder, porém ao que tudo indica não o será.

segunda-feira, julho 25, 2005

Conduta do líder influencia o grupo...

— Enquanto as investigações avançam e os principais atores se questionam sobre o grau de conhecimento de Lula sobre o esquema montado pelo PT, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) dá a exata dimensão da responsabilidade que o presidente já tem pelo simples fato de ser o líder máximo dos petistas — não importa que diga que já não participa do dia-a-dia do partido.
Numa entrevista ao programa Mais Você, da TV Globo, nesta segunda, Suplicy citou o economista indiano Amartya Sem para dizer que a conduta do líder influencia o grau de honestidade ou de corrupção de uma determinada instituição. “Quando o chefe de uma organização age com correção, as pessoas que se aproximam dele são as mais corretas, enquanto quem gostaria de tomar vantagem se afasta. Entretanto, se o chefe de uma organização começa a contemporizar com situações em que se dá vantagem a este ou àquele grupo, os que são sérios acabam se afastando, e os que querem se aproveitar da situação se aproximam”.

quarta-feira, julho 20, 2005

À espera do ato final

O título é de um comentário do blog do Noblat: "Todos se tornaram reféns de todos. E mesmo aqueles que nada têm a ver com o mar de lama que ameaça invadir o Palácio do Planalto se apequenam, silenciam, e aguardam como bois mansos o último ato de seu infortúnio."

Sabe o que é pirâmide humana? Aquele jogo ou brincadeira ou exercício - sei lá - que leva dezenas de pessoas a subirem umas nas costas das outras e a manterem o equilíbrio até que a última delas alcance o topo? Na Europa há concursos para premiarem as pirâmides que reúnam mais gente e alcancem a maior altura.Pois bem: a imagem da pirâmide humana serve para explicar o comportamento do PT na crise política ora em curso. Todos ou quase todos ali estão coladinhos, agarradinhos, solidários na tarefa de sustentarem uns aos outros e de manterem Lula lá em cima. Se uma das peças tremer ou sair do lugar, tudo virá abaixo. E todos perderão. É por isso que Lula fala bobagens sobre a crise, mas não se move, não a enfrenta. Finge que nada tem a ver com ela. E é até capaz de dizer que não teve mais tempo para o PT desde que assumiu a presidência da República. É por isso que Tarso Genro, o novo presidente nacional do PT, classifica de "temerária" a gestão de Delúbio Soares como tesoureiro, mas não o expulsa. Nem mesmo o suspende. Não tem maioria para isso dentro da Executiva Nacional do partido. É também por isso que Sílvio Pereira, munido de um habeas corpus preventivo, vai à CPI dos Correios e nega tudo e qualquer coisa. Negou até que tivesse ganho um jipe de presente de uma empresa. Mentiu ao dizer que o comprou à prestação. Todos se tornaram reféns de todos. E mesmo aqueles que nada têm a ver com o mar de lama que ameaça invadir o Palácio do Planalto se apequenam, silenciam, e aguardam como bois mansos o último ato de seu infortúnio.

Zumbis, surdos-mudos e cegos

O depoimento do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira foi, de saída, inviabilizado por mais um desserviço do Supremo Tribunal Federal, dando-lhe o habeas-corpus preventivo, a figura jurídica que permite que o sujeito possa mentir em paz, não possa ser preso e não precise responder a perguntas que o incriminem. Assim, tudo virou mais um ritual vazio, nesse escândalo histórico, nesse sarapatel sistêmico.A entrevista ridícula que Lula deu na França para uma patricinha amadora, visivelmente encomendada para furar o jornalismo profissional, já fazia parte desse conluio de enrolações. Lula lançou a palavra de ordem, combinada com seus prepostos no Brasil: "Vamos confessar crimes menores, para fugir do principal, vamos admitir ter errado na utilização de caixa 2 de campanha, para escapar da verdade do saque ao dinheiro público nas estatais, dos acordos com empresários e do mensalão" - assim como um marido culpado confessa à mulher uma pequena sacanagem para fugir do batom (ou dos 100 mil dólares) na cueca. Com sua entrevista, Lula burrissimamente se uniu a Valério e Delúbio e rompeu o cordão que ainda o separava do PT. Agora, vemos que a simbiose partido/governo é patente, inegável. A vergonhosa entrevista de Gushiken ao Jornal da Globo também denota a mesma estratégia. Ele não respondeu a nenhuma pergunta de William e Christiane, com sua impassível cara oriental, num escandaloso desafio aos mais baixos QIs da inteligência humana.No depoimento ontem na CPI, Silvio seguiu a mesma "linha justa" de Lula e Delúbio, mas acrescentou um plus histriônico: a baba na gravata, a cara de pateta. Em tribunais, os suspeitos costumam se declarar inocentes. Tudo bem. Mas Silvio e PT se declaram "débeis mentais". Ou acham que nós somos. Silvio Pereira negou tudo e só faltava dizer: "Eu sou um imbecil, eu nunca vi nada, eu nunca falei nada, eu não conhecia ninguém, e eu era apenas um humilde (sic) secretário-geral do PT". Aliás, é incrível que um homem ignorante como ele, para quem os "s" não existem, possa ter ocupado uma função tão alta no "partido do futuro". Silvio, com seu patrimônio muito além dos R$ 9 mil que ganha, com land rovers e casa em Ilhabela, disse que nunca soube de empréstimos do PT em bancos, que tudo era função do Delúbio (atual bordão "respiratório"), que não sabia de empréstimos de R$ 90 milhões, que recebeu empresários apenas por gentileza, mas nunca para discutir cargos ou interesses, que os empresários iam conversar sobre tendências ideológicas ou sobre marxismo ou sobre fofocas. Silvio chegou a negar que tenha influído nas nomeações de seu irmão e irmã. E e a dizer que nem Dirceu nem Genoino, nem Mercadante, nem Tarso, ninguém sabia de nada do que ele fazia. Ninguém. Só faltou dizer: "Somos um partido de zumbis surdos-mudos e cegos".
Como acreditar que um sujeito como Valério fosse arranjar US$ 30 milhões para o PT sem nenhuma vantagem, sem que ninguém soubesse de nada? A mentira do PT/governo está chegando a níveis insuportáveis, e os crimes que se adivinham sob o avesso desse avesso são de tamanho equivalente à grande mentira inicial, como disse Lula no ato falho parisiense: "Quando a gente começa a mentir, não pára mais".Outra coisa que essa CPI está expondo é a incrível discrepância entre o PT real, primitivo, ignorante e trapalhão, com aquele PT épico, heróico e ético que os intelectuais e "militantes imaginários" inventaram. A cada depoimento fica mais vergonhoso que essa gente esteja no poder. O tempo todo, todos tentam desvincular o PT do governo, e a cada negativa essa ligação se aprofunda, esse adultério fica mais evidente. Todas as perguntas tocam em alguma verdade e todas as respostas são mentiras descaradas. O último recurso é sempre falar em falta de "provas", mas os juristas sabem que as pistas que se fecham, as confissões que se contradizem são também provas "indiciárias" insofismáveis. Só resta à oposição e aos inquisidores comer pelas bordas, adivinhar a verdade pelas negativas, descobrir o "sim" através dos "nãos" obsessivos.O País está diante de uma muralha de mentiras. A cada dia, a situação do Lula fica mais grave. A cada dia, fica mais difícil salvá-lo da enchente. E não por algum novo vídeo escandaloso ou algo assim. Não. A incriminação geral dos petistas e de Lula é obra deles mesmos, de suas trapalhadas, suas desculpas esfarrapadas, mais esfarrapadas que os miseráveis em nome dos quais armaram essa chanchada trágica.

Arnaldo Jabor, O Estado de S. Paulo (20/07/05)

Não Posso Acreditar ..


Então fica combinado assim: Lula não sabia de nada. Não sabia da arrecadação de dinheiro ilegal para financiar campanhas do partido dele. E só ouviu falar vagamente do mensalão. Depois disseram a ele que o mensalão jamais existiu.

Embora tenha presidido o PT até o final de 2002, José Dirceu não soube que Delúbio tomou emprestado ao empresário Marcos Valério R$ 39 milhões. Delúbio é da turma de Dirceu. Na semana passada, orientado por ele, falou à TV Globo.

Genoino, presidente nacional do PT nos últimos dois anos e meio, esse então nem se fala... Não não soube dos empréstimados tomados por Delúbio a Valério. Sequer soube que Valério avalizara empréstimos que ele, Genoino, assinara...

Se Genoino não soube dos empréstimos e muito menos do mensalão, como poderia saber qualquer outro membro da Executiva Nacional do partido ou do Diretório Nacional? Claro que nenhum poderia saber.

Por fim, parlamentares do PT e dirigentes regionais receberam dinheiro em espécie remetido por Delúbio para pagar dívidas das campanhas de 2002 e 2004, mas nunca, nunquinha perguntaram sobre a origem do dinheiro.

É isso. Se não acredita, você é no mínimo um tolo. Ou então é inimigo do Partido dos Trabalhadores e torce pelo fim abrupto do governo do primeiro ex-retirante, ex-metalúrgico eleito presidente da República do Brasil.

Estou triste.

sexta-feira, julho 15, 2005

Este sou só eu...

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

Tabacaria, de Álvaro de Campos

quarta-feira, julho 13, 2005

Uma Nota, uma provocação...

"E aquilo que nesse momento se revelará aos povos, surpreenderá a todos, não por ser exótico; mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido... o óbvio"

O Bispo e o Código Penal

Em um excelente conto, "Press Conference", publicado há três décadas, Alberto Dines descreve a volta de Cristo, e a entrevista coletiva que concede aos grandes meios de comunicação do mundo. Se Dines reescrevesse hoje o conto, naturalmente faria um dos entrevistadores perguntar ao Messias o que ele pensa do bispo Edir Macedo e de sua prática, opulenta e rendosa igreja. Macedo, com suas sacolinhas e seus templos majestosos, faz lembrar o Vaticano na passagem do século XV para o século XVI, quando três papas sucessivos apodreceram tanto a Igreja que dessa podridão surgiram Lutero e a Reforma: Rodrigo Bórgia, eleito pontífice com o nome de Alexandre VI, em 1492; Giulio della Rovere (Julio II), que o sucedeu em 1503; e Giacomo Médici (Leão X), que reinou até 1521, e morreu meses depois de excomungar Lutero.
Foram eles que, associados aos banqueiros Fugger, encarregados da arrecadação e aplicações, criaram um sistema mundial de extorsão dos fiéis, condenando ao inferno os que não contribuíssem com suas espórtulas e oferecendo aos generosos os melhores lugares ao lado de Cristo, no céu.
Ao contrário desses papas, que tomavam dinheiro dos crentes, oferecendo-lhes o céu, Macedo é muito mais prático: toma-lhes dinheiro, oferecendo os êxitos no mundo. Os fiéis entregam o dinheiro confiando em um Cristo que nunca existiu: o Cristo que vende, a dinheiro vivo, prosperidade, fama, amores, êxito nos negócios. Não se trata do Cristo que dizia, a quem o quisesse seguir, que distribuísse os seus bens com os pobres. O Cristo de Macedo manda os pobres tirar do que lhes falta, do almoço aos remédios e ao agasalho, para oferecer a um bando de pastores recrutados entre os “obreiros” mais eficientes na arrecadação de dízimos e doações extras.
Faria bem a reedição do vídeo em que os pastores da Igreja Universal festejam a estréia de seus bispos nos Estados Unidos, quando a primeira nota de cem dólares é exibida com regozijo por um deles. Edir Macedo hoje rivaliza com o Reverendo Moon em matéria de exploração da credulidade pública no mundo.
A ditadura e os governos que a sucederam foram muito lenientes com o bispo e os seus auxiliares. Usaram-nos para narcotizar os pobres e mantê-los na ilusão de que Cristo lhes daria uma vida próspera, enquanto as elites, espertas, se locupletavam no atacado, deixando ao bispo a exploração no varejo.
Temos que ter coragem para cortar o passo dessa nova e terrível forma de fascismo religioso que começa a crescer. A Polícia Federal volta a examinar as atividades da Igreja Universal. Não pode deixar a tarefa no meio do caminho. Afinal, com todos os seus defeitos e as exceções constrangedoras, a corporação policial é uma das poucas esperanças do nosso povo.
É bom não esquecer que o PFL foi o primeiro partido político a abrir suas portas para o bispo. Não é por acaso que a ele pertença o deputado detido com a mão nas malas. A vitória de Fernando Henrique sobre Lula, em 1994, foi decidida pelo bispo, em culto com a presença de centenas de milhares de pessoas no Rio de Janeiro. E, há menos tempo, ficou claro que o bispo tem ambições bem maiores. Quer constituir um partido político e disputar as eleições presidenciais. Nada é mais tirânico e corruptor do que a ligação entre o dinheiro, o poder político e a religião.
As atividades ilícitas do bispo Macedo teriam sido reprimidas desde o início, com a aplicação do Código Penal, que punia o abuso da credulidade pública. Mas o dispositivo, que datava de 1941, foi revogado em 1997, durante o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso. Sem comentários.

MAURO SANTAYANA 13/7/2005

Como jornal americano vê a Daslu

"O jornal americano "The Christian Science Monitor" afirma nesta terça-feira que a nova loja da Daslu, em São Paulo, permite ver "o lado rico da desigualdade de renda do Brasil, uma das maiores do mundo".

"Enquanto até 58 milhões de brasileiros vivem com US$ 1 por dia --muitos bem perto dos fortemente vigiados portões da Daslu--, há uma grande quantidade de brasileiros ricos que têm condições de viver de forma tão opulenta quanto uma socialite de Manhattan ou um xeque árabe", diz o texto.

A reportagem se chama "Bem perto da pobreza, a Daslu brilha" e relata a trajetória da loja, desde sua fundação em 1958 até a abertura de seu mais novo estabelecimento, orçado em US$ 20 milhões.

Dizendo que a proprietária da Daslu, Eliana Tranchesi, tinha os "super-ricos" em mente quando decidiu construir a nova loja, o jornal detalha algumas de suas características --como "pisos de mármore", "um bar que serve champanhe e criado pelo mesmo arquiteto usado por Madonna", "um átrio com um helicóptero pendendo do teto" e "belas e jovens fluentes em línguas como o inglês, o alemão e o árabe".

terça-feira, julho 12, 2005

Oportunidade histórica

A erupção do vulcão de excrementos é historicamente preciosa. No entanto, o excesso de descobertas pode nos cegar. Escreveu Foucault: “Édipo não se cegou por culpa, mas por excesso de informação”. Tenho medo de que nos ceguemos diante de tantas evidências da inviabilidade política. Tenho medo de que não suportemos tantas verdades. Acho mesmo que a opinião pública não toleraria ver alguma prova de que o Lula está na roubalheira. Não agüentaríamos ver o Lula nos traindo. Assim, ele que era a “salvação do povo”, agora está sendo retratado como o símbolo do “povo enganado”. Preferimos vê-lo como o “pobre ingênuo”. Foi fácil culpar o Collor: branco, rico e yuppie. Se Lula for culpado, estamos ferrados. Os crimes descobertos podem se somar numa montanha de “verdades” que se transmutarão em uma imensa mentira. A própria idéia de “punição aos culpados” esconde um perigo: pressupõe a noção de “desvio” da norma, quando a doença é a própria norma. Nossa mentira é estrutural. A idéia de “punição” é conservadora. Todo o sistema tem de ser mudado. Mas, quem fará a mudança? Que aparelhos do Estado? O Judiciário vai deixar tudo cair na vala comum dos recursos e chicanas. Ninguém irá em cana, sabemos. Não dispomos de aparelhos legislativos, jurídicos, repressivos para solucionar nada. Os fatos são muito mais complexos que as soluções disponíveis. Os remédios são do século XIX e os crimes do século XXI. Acho que só a comoção já visível da população poderá estimular uma virada institucional. Alguma coisa plebiscitária, de referendo, poderá dar conta da violência da descoberta de que nossa República é uma mentira. A República tem de ser re-fundada. Senão, poderemos nos cegar de tanta verdade, como Édipo. Ou então, teremos de assumir a tragédia de nosso impasse.

segunda-feira, julho 11, 2005

Mensalão de Deus - Para evitar digitais...

Mensalão de Deus - Para evitar digitais
É furada, furadíssima a desculpa oferecida pela direção da Igreja Universal para o passeio dos mais de R$ 10 milhões transportados no Citation X prefixo PR-MJC pelo deputado João Batista Ramos da Silva (PFL-SP).

Foi dito que o portador do Mensalão de Deus levava para São Paulo o dinheiro arrecadado em Manaus, Belém e Brasília com a missão de depositá-lo ali em contas da Igreja.

Ora, por que o dinheiro não poderia ter sido depositado nos respectivos locais onde foi arrecadado? Há agências bancárias em Manaus, Belém e Brasília. E elas fazem transferências entre contas.

O mais provável é que a direção da Igreja quisesse evitar que o dinheiro deixasse marcas no sistema financeiro.

domingo, julho 10, 2005

Menos governo, mais PT

Este é o comentário do Ricardo Noblat que esclarece bem os rumos tomados pelo PT...

Berzoini, novo secretário-geral do PT, e Humberto Costa, novo secretário de comunicação, são lulistas. Tarso Genro, novo presidente, não é. Nunca foi.

A diferença não impede que os três, e os demais membros da nova Executiva Nacional do PT, façam a opção preferencial por salvar o partido, e se preocupem menos com a sorte do governo.

Não quer dizer que largarão o governo de mão. Ou que não se empenharão também para salvá-lo.

Quer dizer que entendem que governo é passageiro, partido não. E que procederão levando isso em conta.

Com Genoino e a antiga Executiva, o PT era mais governo do que PT. Com a nova Executiva, o PT será mais PT do que governo.

Genro é aspirante a candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Mas se for reeleito presidente do PT em setembro próximo, e se tudo correr bem para ele até o fim do ano, será capaz de desistir do governo para continuar como presidente do partido.

História exemplar

Do colunista Elio Gaspari em vários jornais, hoje:

"Em 1965, o marechal Castello Branco leu no jornal que um de seus irmãos, funcionário da Receita Federal, ganhara em cerimônia pública um automóvel Aero Willys. Era o agradecimento de sua classe pela ajuda que dera na elaboração de uma lei que organizava a carreira.

Paulo Castello Branco, filho do presidente, costumava contar que o marechal telefonou para o irmão, dizendo-lhe que deveria devolver o carro. Ele argumentou que se cada fiscal da Receita tivesse presenteado uma gravata, o valor seria muito maior. Castello interrompeu-o:

Você não entendeu. Afastado do cargo você já está. Estamos decidindo agora se você vai preso ou não."

quinta-feira, julho 07, 2005

Giannotti lê uma crise inédita na República

O filósofo José Arthur Giannotti vê um aspecto particular nas denúncias que estão sacudindo a República e que distinguem este vendaval daquele que colheu o governo de Fernando Collor de Mello.
Ele observa que o ex-presidente era um outsider da política e que o sistema, para se proteger, se encarregou de expulsá-lo. Desta vez, adverte o professor, a crise colhe o próprio sistema político e expõe as suas fragilidades. Ele acredita que ainda é possível estabelecer uma espécie de decálogo em favor da governabilidade, mas adverte que há, sim, o risco da anomia, abrindo espaço para uma pregação do tipo messiânica.

terça-feira, julho 05, 2005

Severino...

Da maneira como está indo a coisa, eu estou vendo que não escapa nem Jesus Cristo.
Deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara

segunda-feira, julho 04, 2005

QUESTÃO DE ORDEM

EUA no Paraguai
O governo de Assunção acaba de autorizar o estacionamento de tropas norte-americanas em seu território. Pela primeira vez teremos bases estrangeiras permanentes na América do Sul, na estratégica região da usina de Itaipu.
Com os olhos em Roberto Jefferson, não estamos atentos ao que se passa ali, no Paraguai. O governo de Assunção acaba de autorizar o estacionamento de tropas norte-americanas em seu território. Pela primeira vez teremos bases estrangeiras permanentes na América do Sul, e em região estratégica continental. Nessa tríplice fronteira se encontra a maior represa do mundo, a de Itaipu, de cuja energia todo o território paraguaio e grande parte do território brasileiro dependem. A região é também das mais férteis do mundo e se encontra mais ou menos na eqüidistância dos dois oceanos.
Temos relações historicamente difíceis com o Paraguai, desde a guerra contra López. Os revisionistas procuram culpar o Brasil pelo conflito, mas a isso fomos levados pelo fechamento do Rio Paraguai aos nossos barcos e, em seguida, pela invasão de grande parte do território do Mato Grosso. Não coube ao Brasil a iniciativa da agressão. É certo que o genro do Imperador Pedro II foi particularmente cruel com a população derrotada e, talvez por isso, tenhamos cedido em tudo nas nossas relações com o país vizinho.
Não sabemos se o Paraguai nos comunicou essa decisão perigosa. É provável que não. A submissão paraguaia aos Estados Unidos é tão forte que este colunista, há quarenta anos, ao descer em Assunção, encontrou o aeroporto tomado por tropas formadas, ao lado de colegiais que agitavam bandeirolas norte-americanas. Procurou saber o que ocorria: o funcionário do Departamento de Estado que cuidava dos assuntos do Paraguai estava chegando em visita oficial a Assunção.
Conforme divulgou a revista Newsweek, logo depois de 11 de setembro, o sub-secretário da Defesa, Douglas Feith, sugeriu a Bush a invasão da Tríplice Fronteira por tropas aerotransportadas, a fim de capturar membros da Al Qaeda e ocupar permanentemente a região. Alguém achou melhor a invasão do Iraque, mais viável politicamente. Tudo isso nos leva a pensar um pouco no que nos está ocorrendo. É bem provável que Washington tente retirar vantagens da crise interna. Um país dividido, conforme a velha advertência de Lincoln, é presa fácil para os seus adversários.
Como os Estados Unidos não podem viver sem guerras, e estando suas tropas escorraçadas do Iraque, não seria de admirar se viessem a nos agredir sob o pretexto da presença de muçulmanos em Foz do Iguaçu. Tudo isso deve convocar a nossa reflexão, a fim de esclarecer logo as denúncias que atingem o governo e o Partido dos Trabalhadores, a fim de que possamos nos organizar para a eventual defesa da soberania territorial do Brasil. Temos, ali, o exemplo histórico de provocações e de ocupação de nosso espaço soberano.
Os Estados Unidos, hoje, mais do que nunca, estão desrespeitando todas as regras de convívio internacional, a ponto de o mais submisso governante europeu, Sílvio Berlusconi, ver-se obrigado, na última sexta-feira (1º), a pedir explicações oficiais ao embaixador norte-americano pelo fato de a CIA ter seqüestrado um clérigo muçulmano em Milão e o haver transferido clandestinamente para fora do país. A Justiça italiana determinou a prisão dos 13 agentes da CIA envolvidos no episódio.
Se assim agem contra um país da União Européia com o qual têm as relações mais fraternas ao longo da História, que podemos deles esperar quando nos encontramos fragilizados pela crise, e pela entrega de setores estratégicos aos estrangeiros, durante o governo neoliberal de Fernando Henrique, quando disputamos com o Paraguai a vassalagem a Washington?
MAURO SANTAYANA

domingo, julho 03, 2005

Entrevista de Gabeira para a Veja, 11 junho 2005

...Veja - Qual o futuro da sigla, na sua opinião, diante dessa crise?
Gabeira - O PT tem um grave erro de origem. Ele opta pelo centralismo democrático, que foi um instrumento criado por Lenin, no princípio do século XX, para organizar trabalhadores fabris na luta contra o Exército do czar. Ora, nós já estamos no princípio do século XXI e o PT continua fazendo coisas em nome desse centralismo, como a expulsão da senadora Heloísa Helena. Isso é uma coisa ridícula, já não existe mais. Na Inglaterra, 240 deputados do Partido Trabalhista votaram contra a guerra no Iraque e continuam lá, ninguém vai expulsá-los. O PT foi construído de uma forma autoritária, e essa construção autoritária é que permitiu o deslocamento da camarilha que está hoje no Palácio do Planalto e que designa os caminhos do partido.

Veja - Do ponto de vista histórico, então, o PT estaria condenado. E do ponto de vista ideológico?
Gabeira - Desse ponto de vista, ele não existe mais. Acabou, foi para o espaço. A população já descobriu que o PT é igual aos outros que ele denunciava.

Veja - Em que momento isso aconteceu?
Gabeira - Quando ele achou que poderia abrir mão da bandeira ética que mantinha quando estava na oposição. Eles adotaram a tática da visita da velha senhora, a peça do Dürrenmatt (dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt). Ele mostra uma prostituta que sai da cidade e volta rica. Aí, diz: "O mundo fez de mim uma prostituta e eu vou fazer desse mundo um bordel". Eles tiveram de conseguir dinheiro, tiveram de entrar no jogo e tiveram de comprar a sua base, já que não podiam buscá-la no PMDB nem no PSDB...

Lula pede socorro a FHC

De Kennedy Alencar na Folha de S. Paulo, hoje:

"Em meio à maior crise política de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reabriu um canal com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Há forte possibilidade de que tenham uma conversa em breve, se for preciso dar sinais públicos de algum entendimento entre PT e PSDB, em caso de a gravidade da situação, no entendimento de ambos, assim o exigir.
A pedido de Lula, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi o emissário que procurou FHC. O ministro visitou o tucano em seu apartamento em São Paulo, no domingo passado.
Levou a mensagem de que o governo, por meio da Polícia Federal, investigaria seriamente as denúncias de corrupção e de que Lula já estava pulando fora da tese petista de um golpe das elites contra o governo.
Polido, FHC se dispôs a conversar com Lula diretamente, se o presidente quiser. A iniciativa, porém, teria de partir claramente do petista.

O ex-presidente afirmou que não tem interesse num agravamento da crise que resulte num eventual impeachment de Lula ou noutro tipo de forte turbulência institucional."

sexta-feira, julho 01, 2005

Quem mais será derrubado por Jefferson?

Comentário da cientista política Lucia Hippolitto na CBN:

"O depoimento do deputado Roberto Jefferson na CPI dos Correios não trouxe nenhuma novidade bombástica. Mas confirmou algumas denúncias e firmou outras tantas convicções.
Entrando pela madrugada adentro, o deputado foi bastante esclarecedor em determinadas respostas, como quando declarou à deputada Denise Frossard que um partido deseja cargos no governo federal para possuir um homem seu em posto-chave, que possa entrar em contato com as empresas privadas que fazem negócios com o governo a fim de obter ajuda para o partido.
Em suma, disse que os cargos no governo ajudam a financiar os partidos políticos no Brasil.
Respondendo ao senador Jefferson Peres, Roberto Jefferson aceitou com tranqüilidade a proposta de ser acareado com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e com o deputado José Dirceu. Jefferson voltou a afirmar que Dirceu estava no comando do esquema do tal do mensalão.
Como novidade, Roberto Jefferson apontou a influência do atual secretário do PT, Silvio Pereira, nas nomeações na Petrobrás e na Transpetro. No mínimo, são pistas a serem seguidas, sugestões de investigações a serem levadas adiante.
Mais ainda, afirmou que boa parte do dinheiro que ele recebeu para financiar campanhas do PTB, os tais quatro milhões, teria vindo com uma cinta do Banco do Brasil, sugerindo uma investigação nas contas do publicitário Marcos Valério no bancão estatal.
O fato é que Roberto Jefferson continua sendo o principal pauteiro da investigação e das ações do governo federal. Depois de suas denúncias, caiu a diretoria dos Correios, caiu o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e ontem caíram três diretores de Furnas.
Claro que agora todo mundo quer saber quem mais será derrubado pelas denúncias de Roberto Jefferson.

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