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René Queiroz

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domingo, março 19, 2006

Leiam Miquel do Rosário, genial...

A grande ópera bufa de Ricardo Noblat


Dedico este post a meu amigo e grande escritor de sátiras políticas, Fernando Soares Campos e ao sempre atento articulista e blogueiro Eduardo Guimarães
Um pobre caseiro de Brasília, em mansão pertencente a um militante do PSDB, é assediado pelo senador Antero Paes de Barro, também tucano, para depor contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, considerado um dos mais sólidos pilares do governo Lula.
A acusação: Palocci chegando num carro prata, à noite, luzes apagadas no quintal, para participar de orgias com garotas de programa. O caseiro também afirma que viu notas de cem e cinquenta, andando nuas pelos corredores dessa mal assombrada casa. Os motivos que levaram o caseiro a se tornar um dedo-duro - o que inclusive já está produzindo uma grande indignação entre caseiros de todo o Brasil, que temem que a classe fique desonrada e perca a confiança dos patrões - foram os mais patrióticos possíveis.Além de corajoso patriota, o caseiro tem uma linda e comovente história de vida. Por uma dessas coincidências patéticas de novela mexicana, alguns meses antes de se tornar o novo herói da mídia, nosso caseiro pegou um avião para sua cidadezinha natal no dia 23 de dezembro. A história é contada por Ricardo Noblat, dramaturgo do grupo Estadão.
Francenildo parte de Brasília para Teresina num avião da Tam. O preço da passagem, faz questão de informar Noblat, foi a bagatela de R$ 420,00. Coisa pouca para um caseiro tão sortudo e querido entre poderosos da capital federal. Mais uma prova das boas políticas sociais e econômicas de Lula: caseiros agora andam de avião. De lá, segue para sua cidade natal, Nazário, a cerca de 25 km de Teresina. Francenildo está com friozinho na barriga, antevendo grandes acontecimentos na sua vida. Na noite anterior, teve um sono agitado: sonhou com orgias, nas quais ele tinha intensa participação, em casas de luxo de Brasília. Sonhou ainda que encontrava um anjo da guarda extremamente rico e bondoso, que lhe dava, de vez em quando, uns trocados de 5 ou 10 mil reais.
Depois de agradáveis dias em Nazária, cidade que leva o nome do Salvador, talvez como sinal de que Francenildo seja o novo Messias, aquele que libertará o Brasil das garras de uma gangue de tarados e corruptos.
Pois bem, no dia 4 de janeiro, Francenildo volta para Teresina e, muito ansioso, procura Euripedes Soares, que, segundo lhe informou sua mãe, seria seu verdadeiro pai.
A história de sua mãe, a excelentíssima senhora Benta Maria dos Santos Costa, 42 anos, merece um parágrafo à parte. Em depoimento a estagiários do grupo teatral Estadão, Benta confessa em prantos que foi seduzida por Euripedes quando tinha 15 anos. Na época, Euripedes era um pequeno empresário, com apenas 2 onibus e não possuía nenhum empregado. O relacionamento durou um mês, o suficiente para engravidar Benta. O filho, como vocês já devem estar suspeitando, seria o protagonista de nossa história, Francenildo.
O fato de Francenildo ter 24 anos e ter sido concebido 27 anos atrás é só um detalhe que os dramaturgos se encarregarão de corrigir mais tarde. A peça é voltada para as massas e não há necessidade de muitos cuidados com a verossimilhança. Um dos estagiários sugeriu o seguinte a Noblat, dramaturgo chefe: "já que Francenildo é um ser especial, dotado de visão raio-x, que lhe permite ver cédulas de dinheiro através de paredes e malas, podemos alegar que a gravidez de Benta durou 3 anos, como às vezes acontece com santos e super-heróis. Que tal?" Noblat ergue as sobrancelhas e diz que pensará nessa possibilidade.
Francenildo encontra seu pai no escritório da empresa. Segue abaixo um trecho do diálogo real entre pai e filho, segundo me informou uma testemunha."Pode entrar, garoto", diz Euripides para o rapaz que estava à porta e informara à sua secretária que tinha um assunto muito importante a tratar com o empresário. Ao ouvir aquele senhor robusto, cabelos grisalhos, chamá-lo de "garoto", Francenildo sente as pernas tremerem e tem um pensamento absurdo de alegria. Imagina-se criança novamente, chorando escondido no mato, de tristeza por não possuir um pai. Finalmente, agora teria sua chance.
"Senhor Eurípides", balbucia Francenildo, ainda trêmulo, sem saber como iniciar a conversa.
"Pois não, o que você deseja. Diga logo. Tenho que sair daqui a pouco", responde o empresário, já irritado com o que suspeitava ser mais um caso de gente lhe pedindo dinheiro. Empresários, sobretudo os pequenos, costumam ter uma desenvolvida intuição quando se trata de reconhecer credores, fiscais ou filhos bastardos que vêm atrás de grana. Eurípedes estava preocupado com os impostos cada vez mais altos que pagava. Ser empresário em Teresina, cidade importante mas miserável do Piauí, não é mole. Não tenho tempo, e receio que meus leitores também não tenham, de continuar descrevendo aquele memorável diálogo entre o filho bastardo e o empresário. O fato é que Francenildo convenceu o pai de que era de fato seu filho. Chegou a chorar ao lembrar de que ficara preso na barriga da mãe durante três anos, tempo que durou a gravidez, já que a mãe teve um caso com Francelino quando tinha 15 anos, mas o parto só ocorreu três anos depois. "Três anos na barriga de minha mãe, meu pai", chora Francenildo. Esse teria sido o principal argumento que levou Eurípedes a acreditar que Francenildo era realmente do seu sangue. O jeitinho safado de Francenildo também lembrava muito, em Eurípedes, a sua própria pessoa. Depois das lágrimas, os negócios. Francenildo ameaçou denunciar o pai à família deste. Eurípedes ficou aterrorizado, pois era membro da alta cúpula do Opus Dei, contando com amigos importantes na seita, como o governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, e a sua religião não aceitava em hipótese alguma qualquer desvio de conduta, sobretudo moral, já que os desvios na política eram um mal necessário que a Opus Deis sempre tolerou e perdoou. Eurípedes aceita dar dinheiro em troca do silêncio do rapaz. Pensava em dar uns dois ou três mil reais, mas ao fazer tal proposta escuta um pavoroso e diabólico riso de Francenildo.
"Eu quero exatamente R$ 40 mil", diz Francenildo.
Eurípedes tenta argumentar que aquilo era muito dinheiro para um pequeno empresário como ele, mas Francenildo estava agora possuído por uma estranha energia. Seus olhos projetavam um brilho de loucura que hipnotizou Eurípedes. Este se prontificou a assinar um cheque, mas Francenildo o interrompeu:
"Não quero cheque. Quero em dinheiro, em parcelas inferiores à R$ 10.000. Não pode ser mais que 10 mil para a Coaf não descobrir. Daqui a uns meses vou dedurar o ministro da Fazenda e, se eles descobrirem que recebi esse dinheiro, vão dizer que eu fui comprado pela oposição para atacar o governo".Eurípedes nem sabia o que era Coaf, e ficou confuso ao ouvir aquele papo de alta política vindo de um garoto de 24 anos, que tinha sido caseiro toda a vida. Mas como pertencia à Opus Deis e conhecera lá muitos políticos importantes, não ficou tão impressionado assim. Concordou e aceitou dar os R$ 40 mil em parcelas variadas. Outra prova do sucesso do governo Lula: pequenos empresários não vêem mais problema nenhum em dar R$ 40 mil para filhos bastardos que surgem da noite para o dia.
Estou louco para saber o desdobramento dessa incrível novela e aproveito para parabenizar o grande Ricardo Noblat pela sua criatividade ímpar, que tantos frutos têm gerado para nosso sofrido país. Algumas más línguas acusam Noblat, tendo por trás Estadão e partidos de oposição, de pretender, com esta novela, desestabilizar o governo Lula.
Isso é uma grande injustiça e mais uma tentativa stalinista-bolchevique do PT contra a liberdade de expressão.
Assinado: Comendador Virgíllio Maia Carllos Magallhães Bisneto Beira Mar

sábado, março 18, 2006

Por que Lula deve continuar

Sinceramente, não entendo a oposição ao governo Lula! Esses políticos governaram o Brasil anos e mais anos e cada vez mais desgraçaram a vida dos mais humildes, dos sem-emprego, dos sem-saúde, dos sem-segurança, dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem -esperança. É engraçado essa gente ainda querer voltar ao poder. Não! Chega dessa gente!No governo do PSDB e do PFL, o Brasil era um país sem futuro, sem emprego, sem perspectivas, afundado em dívidas e desgovernado, com inflação de 144,75%. As tarifas públicas subiram 256,77%; transporte urbano, 374,75%; gasolina, 375%; telefone, 266,67%; alimentação, 149,71%.Eu comparo essa oposição a um cachorro latindo atrás de um veículo em alta velocidade. Late, late. Quando o carro pára, o cão não consegue fazer absolutamente nada. Já cansado, coloca o rabinho entre as pernas e volta para a casa do seu dono. Nós precisamos dar continuidade ao governo Lula.Na verdade, nós brasileiros deveríamos nos orgulhar de ter um homem com as origens sociais de Lula na Presidência da República. O Brasil melhorou, a pobreza diminuiu e a renda é melhor distribuída. A miséria caiu 8% de 2003 a 2004 - o menor número de pessoas extremamente pobres no País, desde 1992.O estudo sobre a redução da pobreza e desigualdade social é da Fundação Getúlio Vargas, baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, do IBGE. Foram gerados mais de cem mil novos empregos formais por mês durante o governo Lula até o final de 2005, somando 3,6 milhões de novos empregos com carteira assinada. Só para se ter uma idéia, durante o governo FHC ocorreu o contrário. Entre 1995 e 1999 foram eliminados por mês 21,2 mil postos de trabalho, enquanto foram gerados apenas 8 mil empregos/mês, segundo dados do próprio Ministério do Trabalho.
Helena

quarta-feira, março 15, 2006

Um presente para o PT...

Os tucanos escolheram o candidato a “gerente do Brasil”. Assim o governador de São Paulo se auto-definiu, quando lançou seu nome como pré-candidato do PSDB à presidência da República.
Segundo ele, é disso que o Brasil precisaria – de um gerente. A partir dali começou a construir uma plataforma liberal ortodoxa, reunindo a velhos membros do governo FHC e outras figuras do mundo financeiro que, no auge da crise do governo Lula, passaram a se lambuzar com o mel da prometida retomada do Estado nas suas mãos. Velhas utopias mercantis foram entoadas, de uma nova reforma da previdência até a privatização do Banco do Brasil, da Petrobrás, da Eletrobrás, da Caixa Econômica e do que ainda esteja porventura nas mãos do Estado. Olhando para o modelo bushiano e o berlusconiano, acenaram com a bandeira neoliberal em estado puro.
Menos Estado, menos governo, menos impostos. “Custo PT” – passou a servir para criminalizar qualquer gasto social. Chalita promovido a educador – como modelito neoliberal de “intelectual” de auto-ajuda.
Mario Covas havia anunciado que o Brasil precisaria de um “choque de capitalismo”, nas eleições presidenciais de 1989. Antonio Ermírio acreditou que poderia levar adiante a idéia de que, se as empresas vão bem e o Estado vai mal, nada melhor que um governador empresário, para depurar o Estado dos seus déficits. Berlusconi foi o ícone máximo dessa estratégia de privatização do Estado por dentro.
Ao escolher a Alckmin, o PSDB abandona qualquer prurido planejador ou de regate de políticas sociais e aponta diretamente para a retomada da versão mais radical das privatizações do governo FHC. É uma escolha fácil no início, porque cativa o grande empresariado paulista, antes de tudo aos banqueiros. Mas leva uma bola de ferro amarrada nos pés, que não se resume a seu estilo sem qualquer carisma, mas se estende a um modelo que se choca frontalmente com as maiores preocupações dos brasileiros. Menos Estado significa menos políticas sociais, menos possibilidades de incentivo à criação de empregos e à distribuição de renda, menos autoridade que tenha políticas de segurança pública. Em suma, é uma candidatura com vôo muito curto.
Para o PT, o presente não poderia ser melhor: um candidato opositor com pouca projeção popular, que obriga a campanha lulista a se diferenciar pela esquerda – tudo o que o partido precisa, para propor o resgate do social no segundo mandato presidencial. Se a isso se soma a inexistência de um candidato peemedebista, pela manutenção da verticalização pela Justiça – Lula sai direto do inferno astral para o paraíso, sem passagem pelo purgatório.
Agradece a opção preferencial dos tucanos pelo gerente.
Emir Sader

terça-feira, março 14, 2006

Com Alckmin, PSDB opta pelo ‘menor risco’

Ao escolher o governador Geraldo Alckmin para enfrentar Lula nas eleições presidenciais deste ano, o PSDB fez uma opção pelo “menor risco”.
O raciocínio é o seguinte: a dianteira de Lula nas pesquisas de opinião índica que a eleição não será um passeio para o PSDB. Longe disso. Se o escolhido tivesse sido José Serra, o partido teria de abdicar da prefeitura de São Paulo, terceiro maior orçamento da República, sem dispor da certeza de que levaria em troca o Palácio do Planalto.

Os tucanos acham que, com Alckmin, corre-se “risco zero”. Depois de cumprir dois mandatos no Palácio dos Bandeirantes, o governador terá mesmo de deixar o governo de São Paulo. Chegando ao Planalto, acrescenta ao ativo partidário a retomada do poder central. Perdendo, impõe à legenda um prejuízo menor do que a eventual derrota de Serra.

A despeito da conotação derrotista embutida no cálculo do PSDB, o partido julga que entra na disputa com chances de êxito. Seus dirigentes avaliam que boa parte das intenções de voto atribuídas a Serra vai migrar “por gravidade” para Alckmin, tonificando-lhe os índices nas pesquisas. Polarizando com Lula, o governador tenderia a atrair para si a maior parte dos votos que expressam oposição ao governo petista.

A análise rósea desconsidera dois fatores essenciais:

1. Graças a uma armadilha montada sob FHC, Lula disputa a reeleição sem deixar o cargo. Tem a seu dispor uma engrenagem administrativa capaz de despejar sobre o noticiário uma interminável seqüência de gentilezas aos eleitores.
2. o tucanato entra numa campanha que promete ser renhida com seus exércitos divididos. A disputa entre Serra e Alckmin deixa feridas de difícil cicatrização. Repete-se agora um fenômeno que prejudicou o tucanato em 2002. Naquele ano, o papel hoje atribuído a Alckmin foi desempenhado por Tasso Jereissati, que disputou com José Serra a vaga de presidenciável do partido. A diferença é que o Serra de 2002 venceu o embate. A semelhança é que, ontem como hoje, a disputa deixou como subproduto o germe da desagregação.

do Blog de Josias de Souza

quinta-feira, março 09, 2006

"A direita é inocente"

O título "A direita é inocente" é forte por sua aparente contradição, e é isso mesmo o que quero, que seja forte o suficiente para fazer com que as pessoas dêem atenção a considerações importantíssimas que precisam ser apreciadas com urgência pelo setor esquerdo do espectro político.

Do que a direita é inocente? Certamente não é de a corrupção ter-se institucionalizado no Brasil. Nem de a concentração de renda no Brasil, mesmo considerando sua diminuição durante o governo Lula, ainda ser a virtualmente mais alta do mundo. E tampouco por este país ter-se metido numa armadilha econômica que o faz ter que optar entre crescer ou controlar a inflação.

Tudo o que enumerei acima - e muito mais - é culpa da direita, mas há uma grave anomalia em nossa sociedade pela qual a direita não tem responsabilidade alguma, sendo a única responsável a esquerda. Se temos uma mídia tão ruim e tão pouco representativa do conjunto da sociedade devemos isso à própria esquerda, que, apesar de tão politizada e sequiosa de brandir suas teorias, jamais se preocupou com o óbvio que é quem tem muito a dizer - como tem a esquerda - ter como difundir suas idéias em larga escala.

Por que o Brasil só tem mídia de direita? Por que a Veja, a Época e a Isto é, que tanto lixo publicam, vendem o que vendem, e a Carta Capital, única revista de alguma expressão que se pauta pela responsabilidade e que dá espaço também à esquerda, nem chega aos pés das "concorrentes"? Ora, é simples: Porque os que discordamos da tendenciosidade conservadora de Vejas, Estadões, Globos, Bandeirantes, Folhas etc, continuamos comprando-lhes publicações, assistindo-lhes telejornais, em suma, prestigiando esses veículos.

Em resumo: a esquerda financia boa parte do capital da mídia de direita e deixa ao relento os poucos espaços que tem.

Como?! Por que?! Será que somos tão burros (simpatizantes e militantes da esquerda - e eu sou simpatizante, apenas) que não nos damos conta de que não adianta querermos disputar espaços na mídia conservadora? Por que continuo lendo e enviando meus textos à Folha, ao Globo e ao Estadão, por exemplo, se sei que estão decididos a barrar meu tipo de opinião? Por que assino a Folha? Por que assisto o Jornal Nacional, o Roda Viva etc?

A explicação é simples: porque sou humano. Eu, como milhões de simpatizantes e militantes de esquerda e, sobretudo, como a grande população que não tem ideologia alguma, prescindo de informações diárias e de entretenimento. Então, como não tenho opção de mídia democrática, vou na manipulada mesmo, porque senão acabo, na era da informação instantânea, transformando-me num ermitão. Mas para mim - e para muitos como eu - não há problema em submeter-me ao bombardeio político-ideológico da grande mídia porque tenho capacidade de filtrar-lhe as impurezas. Há muitos - muitos ! -, porém, que não conseguem.

Tomemos como exemplo a Carta Capital. É uma revista séria, publica de tudo, não faz acusações irresponsáveis, mas, mesmo assim, está às moscas. E sabem por que? Porque é uma revista muito chata. Não tem entretenimento, não tem variedades, não é suficientemente ilustrada, não traz matérias sobre futilidades - e todo ser humano tem sua cota de futilidade para gastar -, não tem até, de vez em quando, alguma reportagem com alguma carga sexual, com humor...

A mídia da esquerda acha que pode se popularizar difundindo só cultura, idéias humanistas e assuntos sérios que a mídia conservadora de direita se recusa a publicar. É pouco. Muito pouco. Precisamos ter como dizer tudo o que a grande mídia não nos permite e que só pode ser dito em larga escala pela internet. Lula estaria reeleito já, se fosse possível apresentar os fatos como eles são à sociedade. Que ninguém, portanto, subestime a mídia direitista hegemônica. Ela faz a cabeça de muita, muita gente neste país. Sobretudo, por incrível que pareça, de setores considerados bem-pensantes da sociedade que, apesar de não integrarem o clube fechado da elite milíárdária concentradora de renda que controla a mídia, a apoiam incondicionalmente.

Claro que há o problema de recursos financeiros para se construir uma mídia de esquerda competitiva no Brasil. Mas não seria um problema intransponível se a pouca mídia de esquerda entendesse, ao menos, que não pode oferecer só assuntos sérios se quiser transformar-se num veículo de circulação significativa. Uma Carta Capital, por exemplo, poderia se transformar numa revista "para a família" como as Vejas da vida sem ter que recorrer à idiotização de seus leitores. Além disso, as bancadas progressistas no Congresso poderiam batalhar por alguma concessão de TV para a sociedade civil em contraponto à doação do espaço público que é o ar - por onde transitam as ondas de rádio e TV - a algumas dúzias de representantes da elite patrimonialista brasileira.

O assunto que fundamenta este artigo precisa ser discutido com seriedade e prioridade. Não podemos mais admitir a continuidade de uma situação em que boa parte da sociedade civil se vê literalmente amordaçada por outra. Fico torcendo, portanto, para que não tenha escrito este artigo para as paredes e para que ele ganhe alguma visibilidade.

Eduardo Guimarães

quarta-feira, março 08, 2006

Poder

"Foi preciso esperar o século XIX para saber o que era a exploração; mas ainda não se sabe o que é Poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, presente e oculta, investida em toda parte, que se chama Poder. A teoria do Estado, a análise tradicional dos aparelhos de Estado, sem dúvida, não esgotam o campo de exercício e de funcionamento do poder. Onde há poder, ele se exerce. Ninguém é, propriamente falando, seu titular; e, no entanto, ele sempre se exerce em determinada direção, com uns de um lado e outros do outro; não se sabe ao certo quem o detém; mas se sabe quem não o possui."
Michel Foucault

domingo, março 05, 2006

Alckmin X Serra

O esforço tucano para gerar manchetes nos jornais têm feito a imprensa do andar de cima dar nó em pingo dágua. A dupla Alkimin/Serra partiu para o desespero. A estratégia dos dois agora é andar de mãos dadas pela capital paulistana e mostrar que tudo vai bem, que o partido não está rachado, que os ricos e bem polidos - mesmo em plena guerra - riem à-toa. Alkimin/Serra estão até inaugurando juntos o bilhete único criado pela prefeita Marta Suplicy, tudo atrás de uma foto que caiba bem na primeira página dos jornais do dia seguinte. A segunda-feira será inteiramente dedicada a Mário Covas - que faleceu faz 5 anos. Covas, é público, foi a soma do cateto do quadrado dos dois tucanos multiplicado por mil, corria em outro páreo. Os candidatos sabem disso e vão tentar resgatar o ex-governador nem que seja a muque. Covas vai ser o JK deles. Nenhuma data, daqui para frente vai escapar aos marqueteiros psdbistas. Neste sábado a dupla do mau agouro chegou até ameaçar na plataforma de embarque de uma estação de metro um rápido jogral sobre o estilo JK de Lula governar, mas o bom senso fez com que parassem a tempo. O silêncio que a falta de perguntas dos repórteres provoca é mais constrangedor que o vazio das respostas forçadas entre os sorrisos ensaiados. O momento já ganhou até o título de "trégua" nos grandes jornais. Que eu saiba, esta é a primeira trégua que por elipse substituiu um conflito. Tudo como se fosse um passe de mágica. Antes do domingo acabar ficam duas perguntinhas: porque os tucanos não conseguiram arranjar um candidato estepe à altura do estado para disputar o governo de São Paulo? E se já que eles nem conseguem se habilitar a isso depois de 12 anos governando São Paulo como querem largar São Paulo para governar o Brasil ?
http://www.nelsonperez.blogspot.com/

O maior eleitor de Lula

Aumenta, em progressão geométrica, minha certeza de que Lula irá se reeleger em outubro devido a um eleitor involuntário que tem. Trata-se, sem dúvida alguma, do maior eleitor do presidente. Inadvertidamente, esse super-eleitor lulista está transformando racionalidade em passionalidade. Lula será reeleito graças ao voto emocional de uma população que majoritariamente não tem ideologia e que se percebe sendo subestimada. O maior eleitor de Lula, neste momento, é a malandragem arrogante da mídia.

Se eu tivesse que enumerar a quantidade de engodos anti-Lula e PT e pró-tucanos que os meios de comunicação vêm tentando pregar na testa dos brasileiros desde 1º de janeiro de 2003 - e, sobretudo, no decorrer dos últimos oito, nove meses -, teria que escrever um livro. Mas isso não impede que eu dê um ou dois exemplos recentíssimos.

De quinta para sexta-feira da semana passada, o jornal Folha de São Paulo noticiou que os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, estavam "fugindo" do Brasil com suas famílias porque estariam sendo ameaçados de morte. Editorial, colunistas e leitores do jornal puseram-se a acusar o PT de ter feito as tais ameaças a dois sujeitos que desde 2002 vêm repetindo as mesmas acusações e até hoje não conseguiram prová-las. Os textos não explicaram por que "o PT" ameaçaria quem não tem mais o que dizer para acusá-lo.

Dois dos blogs políticos mais lidos do país, os blogs dos jornalistas Josias de Souza e Ricardo Noblat, reproduziram a notícia sobre as hipotéticas ameaças aos irmãos Daniel classificando-lhes a denúncia contra o PT como incontestavelmente verdadeira. Nos comentários dos leitores desses blogs, porém, ficou clara uma divisão absoluta de opiniões. Pode-se dizer que metade endossava a denúncia e a outra metade apontava-lhe as contradições gritantes.

Querem saber o que fez a Folha no terceiro dia posterior à publicação da notícia? Simplesmente ignorou as dezenas de cartas indignadas que recebeu protestando contra a inverossimilidade das acusações dos irmãos Daniel e publicou apenas uma que endossava a denúncia deles e chamava de corruptos centenas de milhares de petistas de todo o país. O jornal, pois, tentou falsificar a repercussão da notícia fazendo parecer que foi comprada como verdadeira pela sociedade.

No mesmo dia (sábado, 4/3), a Folha publicou, em sua primeira página, manchete sobre denúncia de um "executivo" da empresa Toshiba de que a empresa Furnas tinha mesmo um "clube da propina". Ora, todos sabem que esse caso de Furnas envolve uma dezena e meia de tucanos, pefelistas e aliados deles, sobretudo os dois pré-candidatos tucanos à Presidência da República, José Serra e Geraldo Alckmin. Mas a manchete foi dada sem mencionar nomes e partidos. Num momento em que o PT tem sido o alvo de denúncias incessantes, portanto, a pretensão da Folha pareceu-me claramente ser a de tentar deixar a opinião pública pensar que aquela era mais uma denúncia contra o PT.

Depois a mídia, os tucanos e os pefelistas não entendem por que também entre os formadores de opinião (que lêem jornal) a popularidade de Lula vem disparando. Para formadores de opinião que não têm preferências políticas arraigadas obviamente ficou clara a manipulação tanto da repercussão sobre a "fuga" dos irmãos Daniel do país quanto da notícia sobre o fortalecimento da Lista de Furnas, que a mídia tentou desqualificar previamente apesar de laudos periciais atestarem não ser possível fazê-lo.

Tenho prestado atenção a debates políticos que cada vez mais vão se espalhando pela sociedade. Afirmo que está se disseminando com grande velocidade a percepção de que a mídia vem tentando manipular a opinião política dessa sociedade exponenciando acusações contra Lula e o PT e acobertando Serra, Alckmin e o PSDB. A "sacanagem da imprensa contra Lula" já virou conversa de bar. Claro que os anti-Lula e anti-PT, sobretudo em São Paulo, ainda são um contingente enorme. Mas já deixaram de ser maioria esmagadora há muito tempo.

Para a maioria da população, os motivos que julgo que existem, sim, para reelegermos Lula, ainda não ficaram claros. Se o presidente está desfrutando desse apoio crescente e já majoritário revelado pelas pesquisas, penso que se deve à malandragem da mídia. O brasileiro não gosta de linchamentos e campanhas difamatórias. Até porque, Lula vem sendo vítima desse tipo de estratégia há nada mais, nada menos do que 16 anos. Além disso, no imaginário popular solidificou-se a crença (acertada) de que campanhas políticas são freqüentemente travadas com base em campanhas difamatórias.

O maior eleitor de Lula atualmente, portanto, por paradoxal que pareça é a mesma mídia que o ataca impiedosa, incessante, maliciosa, desonesta e estupidamente todos os dias, deixando claro o que está fazendo para quem tiver olhos de ver. Será, então, que um bom nome para o resultado oposto ao pretendido que os meios de comunicação estão colhendo dessa conduta pretensamente malandra não poderia ser... justiça poética?

sábado, março 04, 2006

Para petistas e tucanos

A política deveria ser o principal meio da democracia e não um fim em si mesma. O fim da política deveria ser a democracia e não o contrário. Porém, o que venho refletindo é que o debate político entre tucanos e petistas (simpatizantes e militantes) perdeu de vista que o objetivo desses debates não pode ser o de pura e simplesmente vencer as eleições deste ano. Este país precisa desesperadamente discutir seus rumos, suas políticas públicas e como resolver o problema do crescimento econômico que não pode haver devido ao risco de volta da inflação.

O país não pode aceitar que uma oposição que quando estava no poder praticou a mesma política econômica que hoje critica venha dizer simplesmente que se voltar ao poder vai promover o crescimento que não promoveu, vai baixar os juros que não baixou, enfim, que irá cumprir as promessas que não cumpriu quando governava. Por outro lado, o governo atual precisa dizer claramente ao país se tem alguma idéia para baixar de verdade os juros de mercado e acelerar o crescimento da economia, pois se este país não começar logo a crescer e gerar empregos suficientes para ao menos assimilar os jovens que ingressam todos os anos no mercado de trabalho acabará entrando numa guerra civil de fato, uma guerra que já está sendo travada mas que ainda não foi oficialmente reconhecida.

Nesse contexto, todo brasileiro responsável pode fazer muito pelo país não tentando fazer prevalecer a teoria maluca de que o governo do PT é " o mais corrupto da história" e de insinuar que a volta do PSDB ao poder, por si só, será a panacéia para todos os graves problemas que afligem nossa sociedade. E, por outro lado, os simpatizantes do PT não podem esquecer que não vale a pena o esforço para manter o PT no poder se for para continuarmos na política econômica de "stop and go" temperada pelos juros "de mercado" mais altos do universo.

sexta-feira, março 03, 2006

O futuro é das aguias...

"Lembrem-se:
Quanto mais alto planamos, menores vemos as pessoas que não conseguem voar".
- Nietzsche

quinta-feira, março 02, 2006

Só dá ela em São Paulo

De Renata Lo Prete na Folha de S.Paulo, hoje:

"Pesquisa do instituto Ibope a ser divulgada hoje mostra Marta Suplicy (PT) pela primeira vez à frente da disputa pelo governo de São Paulo. A ex-prefeita, derrotada em 2004 ao buscar um segundo mandato na capital, tem 26% das intenções de voto. Em segundo lugar aparece Orestes Quércia (PMDB), com 20%.
Como a margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais, para cima ou para baixo, eles podem estar no limite do empate, mas tecnicamente não é essa a hipótese mais provável.
O ex-governador, que em dezembro passado liderava nos seis cenários apresentados ao eleitor em levantamento do Datafolha, continua assim no Ibope quando o petista é Aloizio Mercadante. Nesse caso, Quércia registra 26%, contra 14% do senador. No principal cenário Marta-Quércia, nenhum outro candidato chega perto dos dois dígitos. Pela ordem, aparecem Carlos Apolinário (PDT, 5%), José Anibal (PSDB, 4%), Guilherme Afif Domingos (PFL, 2%) e Beto Mansur (PP, 2%).
O mesmo ocorre no principal cenário Quércia-Mercadante: Apolinário (6%), Anibal (4%), Afif (3%) e Mansur (2%).
O desempenho de Quércia e dos dois petistas oscila para baixo quando o candidato do PP é Paulo Maluf. No cenário com Marta, ela anota 23%, o peemedebista, 17%, e o ex-prefeito, 13%. Quando entra Mercadante, Quércia lidera com 23%, e o petista e Maluf empatam em 13%.""

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