pensante

René Queiroz

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domingo, junho 28, 2009

A familia Cresce!


Nasceu Manoela minha neta
mais uma flor no meu jardim
mais uma fruta no meu pomar
mais uma forma de dizer
que tudo vale a pena



Se toda coincidência
Tende a que se entenda
E toda lenda
Quer chegar aqui
A ciência não se aprende
A ciência apreende
A ciência em si
Se toda estrela cadente
Cai pra fazer sentido
E todo mito
Quer ter carne aqui
A ciência não se ensina
A ciência insemina
A ciência em si
Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar
Do avião a jato ao jaboti
Desperta o que ainda não, não se pôde pensar
Do sono eterno ao eterno devir
Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar
Para alcançar o que já estava aqui
Se a crença quer se materializar
Tanto quanto a experiência quer se abstrair
A ciência não avança
A ciência alcança
A ciência em si
Com ciencia
Coincidencia
Conciencia...

terça-feira, junho 16, 2009

Mario Benedetti


O tempo foge.
Às vezes, penso que deveria viver apressadamente, tirar o máximo partido destes anos que restam.
Hoje em dia, qualquer pessoa me pode dizer, depois de esquadrinhar as minhas rugas: «Mas se o senhor ainda é um homem novo».
Ainda. Quantos anos me restam «ainda»?
Penso nisso e fico com pressa, tenho a angustiante sensação de que a vida me está a escapar, como se as minhas veias se tivessem aberto e eu não pudesse deter o meu sangue. Porque a vida é feita de muitas coisas (trabalho, dinheiro, sorte, amizade, saúde, complicações) mas ninguém me pode negar que quando pensamos nessa palavra, Vida, quando dizemos, por exemplo, «que nos agarramos à vida», a estamos a assimilar a outra palavra mais concreta, mais atraente, seguramente mais importante: estamos a assimilá-la ao Prazer. Penso no prazer (qualquer forma de prazer) e tenho a certeza de que isso é a vida. Daí a pressa, a trágica pressa destes cinquenta anos que me pisam os calcanhares. Ainda me restam, assim o espero, uns quantos anos de amizade, de saúde aceitável, de azáfamas rotineiras, de expectativa perante a sorte, mas quantos anos de prazer me restam?
Tinha vinte anos e era jovem; tinha trinta anos e era jovem; tinha quarenta anos e era jovem. Agora tenho cinquenta e sou «ainda jovem». «Ainda» quer dizer: está a acabar.
E esse é o lado mais absurdo do nosso convénio: dissemos que faríamos as coisas com calma, que deixaríamos correr o tempo, que depois reveríamos a situação.
Mas o tempo corre, deixemo-lo ou não, o tempo corre e, a ela, torna-a cada dia mais apetecível, mais madura, mais fresca, mais mulher, e, em contrapartida, a mim, todos os dias me ameaça tornar-me mais achacado, mais gasto, menos corajoso, menos vital.
Temos de nos apressar para o encontro porque no nosso caso o futuro é um inevitável desencontro.
Todos os Mais dela encontram correspondentes
Menos meus."

sábado, junho 13, 2009

Olavo de Carvalho tenta desancar "Quemada" de Pontecorvo!!!

Olavo de Carvalho faz uma analise no minimo esquisita de um grande filme, em resposta, uso um grande texto de Ricardo Flait e Marco Antonio Mota para rebater, eis:

Olavo de Carvalho- Obra Prima da Vigarice:
"Observado segundo os critérios da própria verossimilhança histórica da qual se pavoneia, "Queimada" perde todo impacto dramático e se revela uma farsa idiota, postiça até o desespero, composta por um pseudo-intelectual de meia idade para a deleitação masturbatória de jovens aspirantes a pseudo-intelectuais....Tanto no Brasil quanto em vários outros países, as obras do segundo neo-realismo italiano fizeram as cabeças de duas gerações de espectadores e, na condição de "clássicos", desfrutam ainda de um prestígio considerável . Não duvido que milhares ou milhões de Emires Sáderes tenham absorvido desses filmes, e não dos livros que não leram, a substância mesma da sua ideologia e do seu modo de ser."

Uma aula de política Por Ricardo Flaitt,
com a colaboração do sociólogo Marco Antonio Mota
Queimada é uma das centenas de Ilhas das Antilhas. O nome Queimada deve-se ao fato dos portugueses terem de queimar a ilha para vencer a resistência dos índios. Quase todos os nativos foram mortos. Trouxeram então escravos da África para trabalhar nos canaviais. A bordo de um navio, um tripulante explica ao diplomata inglês, Willian Walker (Marlon Brando) as características da ilha. Assim começa Queimada, filme de Gillo Pontecorvo.Todos os movimentos do homem são muito bem pesados e medidos. Não existe nada aleatório no jogo político mundial. Willian Walker (Marlon Brando) chega à Queimada com a missão de mudar a ordem do poder local, quebrar o monopólio português sobre a cana-de-açúcar para atender aos interesses da Coroa Inglesa. Mas como promover a ordem estabelecida em Queimada? Para isso, Walker (Brando) tem de encontrar/forjar um líder entre a população para deflagrar a revolução. Willian vê essa possibilidade no escravo José Dolores (Evaristo Marquez). Assim incita seus anseios de liberdade levando-o à condição de revolucionário. Com o discurso de que sua intenção é acabar com a exploração dos negros, Walker manipula José Dolores e sua liderança para alcançar os interesses econômicos liberais da Inglaterra. Hábil, astuto, maquiavélico, Walker une dois interesses: o anseio dos negros para se libertarem e, ao mesmo tempo, a mudança do centro do poder da ilha. Com José Dolores consolida a revolução. Os negros depõem o governo, mas o ex-escravo descobre que não seria ele o governante do país. Indignado, assume o poder à força. Mas seu “mandato” não dura muito, pois governar não é tão simples como os sonhos dos românticos e dos idealistas. Willian Walker (Brando) questiona o então presidente de Queimada, José Dolores: “Quem serão seus ministros? Com quem você irá negociar?...”. Ou seja, como comandar o País e seus inúmeros interesses que permeiam? Com olhar perplexo, Dolores se vê perdido, sem a dimensão de que governar é preciso muito preparo. Em outro diálogo carregado de ironia, Walker fala a Dolores: “A civilização é muito complicada”. Diante desse impasse, Dolores resolve fazer um pacto. Concorda que o país seja governado por outro representante, desde que sejam feitas algumas mudanças, como a libertação dos escravos.
Após nove anos, Willian Walker (Brando) retorna à Queimada, que vive sob uma ditadura. Dolores já não estava no poder e voltara a ser um revolucionário. Mas agora Walker não está mais “precisando” de Dolores, uma vez que os que estão no poder obedecem à “Rainha”. A resistência de Dolores precisa ser eliminada. Dolores precisa ser morto e passa a ser caçado como inimigo do Estado.
Cabe aqui perfeitamente uma declaração de Maquiavel: “Os homens mudam de governantes com grande facilidade, esperando sempre uma melhoria. Essa esperança os leva a se levantar em armas contra os atuais. E isto é um engano, pois a experiência demonstra mais tarde que a mudança foi para pior”.Os governantes fazem com que o povo acredite que eles ocuparão o poder e terão oportunidade de decidir seus destinos, mas, ao final, constata-se, no círculo vicioso da História, que o povo, ainda que sob uma nova roupagem, continua a ser “massa de manobra” daqueles que detém o capital e o conhecimento, já que o saber também é uma forma de poder.
Queimada é uma aula de política, envolve temas sobre um determinado período da História (inclusive do Brasil) e a relação do homem e seus interesses. Essencial para se entender os mecanismos do mundo. Queimada não tem a pretensão enfadonha de narrar uma história romântica dos oprimidos. É um grande filme porque mostra como o funciona o mundo. Não defende opressores nem oprimidos, mas mostra com inteligência como as coisas operam na política, com todos os seus jogos e interesses.

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