pensante

René Queiroz

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sábado, dezembro 31, 2005

MUITAS FELICIDADES PARA VOCÊS...

Um dia, anos atrás, um psicanalista amigo me disse: "Você pensa que nós somos sempre felizes? Nós, psicanalistas, estamos quase sempre sozinhos. Nossa profissão e nossa vida é muito solitária". Aí está..... De quem menos se esperaria uma queixa, eis que ela surge. A solidão é um grande problema da vida moderna. Portanto, é muito feliz quem tem um amigo, uma amiga. Isso já é ser verdadeiramente milionário. Encerramos agora um ano que parece ter sido desalentador.... Não creia nisso. Foi um ano formidável. Alguns diriam: não foi, não. Foi um ano tomado pelo cinismo, pelo "não vi", "não ouvi", "não sei". Foi um ano tomado pela corrupção. Ora, se até um cético diz que foi um ano bom, apesar de tudo isso, por que uma pessoa otimista, como você, como a maioria das pessoas, não acreditaria? Pense bem: o Brasil é um país jovem, tem uma sociedade nova, e uma vida democrática ainda muito mais jovem. Em toda nossa vida republicana, que recém completou 116 anos, vivemos pouquissimos anos em liberdade, em verdadeira democracia. Assim, é compreensível que ainda cometamos muitos erros em nossas escolhas, que sejamos frustrados em nossas espe ranças de mudança. Portanto, neste ano de 2005, tivemos farta aprendizagem de democracia, de escolhas políticas. Com certeza, agora saberemos distinguir, com mais clareza, entre o verdadeiro homem público e aquele que quer se servir da coisa pública. Nossa contabilidade dos fatos será feita às claras, nada de fatos "não contabilizados". Não viveremos de eufemismos. O Brasil é um espetáculo, para si mesmo e para o resto das nações. Os brasileiros - acredite - são invejados pelo mundo afora. Pelo que somos, pela vida que temos, pela terra abençoada que habitamos. Não temos terremotos, tsunamis, furacões, não convivemos com tragédias em larga escala, a qualquer sequência de três notas musicais já estamos gingando, assoviando, cantando. Está em nossas mãos fazer de nossa vida, neste imenso, belo e amado Brasil, algo ainda muito melhor do que já é. Ponha um objetivo em sua vida, mire um pouco mais longe, lá no ainda distante dia 1º de outubro, e pense: eu vou mudar isso. Você pode. Essa é a beleza de se viver em liberdade. Tenha um feliz ano novo, que a prosperidade chegue à sua porta. Cultive seus amigos.
Prá Bem, Alethea, Gaelle,Pablo,Aninha,Viridiana, e todos aqueles amigos e amigas que respeito e adoro,
Rene

terça-feira, dezembro 27, 2005

Nega Manhosa

Herivelto Martins
Levanta,
levanta nega manhosa
Deixa de ser preguiçosa
Vai procurar o que fazer
Nega deixa de fita
Prepara minha marmita
Levanta nega vai se virar
Deixei em cima do rádio
Uma nota de cinqüenta
Vai a feira, joga no bicho
E vê se te agüenta
Economiza, olha o dia de amanhã
Eu preciso do troco
Domingo tem jogo no Maracanã

Taí, mais uma antiga, e ainda falando da nega...
Se'ra que acho estes discos para ouvir?

Minha nega na janela

(Germano Mathias / Doca)
Não sou de briga
Mas estou com a razão
Ainda ontem bateram na janela
Do meu barracão
Saltei de banda
Peguei da navalha e disse
Pula muleque abusado
Deixa de intriga pro meu lado
Minha nega na janela
Diz que está tirando linha
Êta nega tu é feia
Que parece macaquinha
Olhei pra ela e disse
Vai já pra cozinha
Dei um murro nela
E joguei ela dentro da pia
Quem foi que disse
Que essa nega não cabia?

Passei uma boa parte de minha infância ouvindo Germano Mathias, por obra e graça de meu pai,
Tenho lembranças boas desta época,
Quero ouvir Germano de novo,
Quero voltar lá
Talvez...

domingo, dezembro 25, 2005

Viridiana minha irmã, pô amar é importante...

Pô, amar é importante
Cê não imagina a aflição que eu fico
Quando estou contigo ou não estou
Eu tenho alguns amigos
Se chego pra eles e digo
Das nossa vida um pouco
Por vezes curtem dizendo
Você é muito louco
Outras vezes nada, nada dizem
Mas pinta um mal-estar em minha cara
Que tá nos olhos, que eles pensam
Esse cara é muito neurótico
Eu não sei o que cê acha
Se é isto bonito,
Eu só sei que ando um pouco oprimido
Um pouco nervoso
Não sei se boto o tênis bamba
Ou me amarro nos retalhos
Eu só sei que gosto do meu corpo pra caramba
Pô, amar é importante
Cê num imagina a aflição que eu fico
Quando estou comigo ou não estou...

inspirado em Arrigo Barnabé...

Aos Meus Rebentos, com afeto...

Surpreender-se, estranhar, é começar a entender tudo.
É o caminho específico do intelectual.
O unico destino.
Por isso meu gesto consiste em olhar o mundo com as pupilas bem dilatadas pela estranheza.
Magnifica estranheza...
Tudo no mundo é estranho.
Tudo é maravilhoso para um par de olhos bem abertos.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

América Latina, Tristes Trópicos?

A nova geração de presidentes esquerdistas eleitos na América do Sul, que ganhou nesta semana a companhia do boliviano Evo Morales, deve prestar atenção no exemplo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para evitar os mesmos erros cometidos pelo governo brasileiro, segundo um artigo de opinião publicado nesta quarta-feira pelo jornal britânico The Guardian.
O artigo, assinado por Sue Branford e Hilary Wainwright, diz que a experiência do Brasil é uma advertência às demais administrações esquerdistas de que se pretendem conseguir uma mudança política real eles devem “contar com suas próprias bases sociais como contrapartida para os poderes constituídos”. As autoras dizem que quando Lula foi eleito, “muitos latino-americanos esperavam que ele mostraria um caminho radical , não violento, para sair de séculos de pobreza e exclusão”. “Porém, no governo, Lula tem sido mais cauteloso e conservador, indo ainda mais além das exigências do FMI e sacrificando as reformas sociais para pagar as enormes dívidas externa e interna”, diz o texto. “Pior ainda, desde maio, uma série de revelações dramáticas mostrou que o PT esteve envolvido no mesmo tipo de corrupção contra a qual os ativistas se aliaram ao partido.” O artigo relata que o que ainda resta da esquerda no Brasil considera que uma mudança real “requer a incorporação dos pobres dentro do sistema político para que possam prover apoio permanente a um governo radical conforme ele entre em confronto com os poderosos interesses escusos”. “Conforme a América Latina inicia um período de intensa atividade eleitoral, que pode levar ao poder mais líderes esquerdistas, essa é uma lição de advertência na qual os futuros governos fariam bem em prestar atenção”, conclui o artigo.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

O mapa se amplia

O mapa da resistência nacionalista na América Latina se amplia, com a eleição de Evo Morales para a presidência da Bolívia. Mas é prematuro soltar foguetes: as elites bolivianas, sempre com o apoio dos Estados Unidos, são mestres em golpes de Estado e em conflitos sangrentos. Elas farão tudo o que for possível, seja para “domar” o novo chefe de governo e, no caso de malogro, para derrubá-lo, como ocorreu tantas vezes naquele país. Sem o apoio dos vizinhos mais próximos, como o Brasil e a Argentina, Morales dificilmente conseguirá realizar o que prometeu em sua campanha.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Imagine All the People

A religião e importante para a humanidade, mas deveria evoluir com ela.
Quando penso na falta de cooperação na sociedade humana, só posso concluir que ela brota da ignorância quanto a nossa própria natureza interdependente.
As leis da natureza obrigam as abelhas a trabalharem juntas.
O resultado é que possuem um senso instintivo de responsabilidade social, não têm constituição, nem leis, policia, religião ou treinamento moral, mas, por causa da natureza, trabalham fielmente juntas. Ocasionalmente, podem brigar; mas de modo geral, toda colônia sobrevive a base de intima cooperação.
Os seres humanos, por outro lado, têm constituições, vastos sistemas legais e forças policiais; temos várias religiões, temos inteligência notável e um coração com capacidade enorme de amar.
Mas, apesar de todas as nossas extraordinárias qualidades, na prática estamos atrás dos insetos!
Em alguns aspectos, sinto que somos mais pobres que as abelhas...
Dalai-lama e Fabien

terça-feira, dezembro 13, 2005

WALY SALOMÃO

I-
SAUDADE é uma palavra
Da língua portuguesa
A cujo enxurro
Sou sempre avesso
SAUDADE é uma palavra
A ser banida
Do uso corrente
Da expressão coloquial
Da assembléia constituinte
Do dicionário
Da onomástica
Do epistolário
Da inscrição tumular
Da carta geográfica
Da canção popular
Da fantasmática do corpo
Do mapa da afeição
Da praia do poema
Pra não depositar
Aluvião
Aqui nesta ribeira.

II-
Súbito
Sub-reptícia sucurijuba
A reprimida resplandece
Se meta-formoseia
Se mata
O q parecia pau de braúna
Quiçá pedra de breu
Quiçá pedra de breu
CINTILA
Re-nova cobra rompe o ovo
Da casca velha
SIBILA

III-
SAUDADE é uma palavra
O sol da idade e o sal das lágrima

(da Revista Imã)

O Solitário -

O solitário leva uma sociedade inteira dentro de si: o solitário é multidão.
E daqui deriva a sua sociedade. Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros.
O génio, foi dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão.
É a multidão individualizada, e é um povo feito pessoa. Aquele que tem mais de próprio é, no fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra o que é dos outros.

Miquel Unamuno

Só Isto.

Vejo o que resta,
menos isto.
Sou o que dista
menos disto.
Tenho a distância
e seu registro retido como marca.
Manso?
Arisco.
Um sinal que colhe o olho quando pisca.
A pálpebra veloz, sempre oportunista.
Vejo o que me resta ou sua pista.
Quero o que me basta ou o que me resista.
Registro.
Somente isto.
Sou o que me acolhe,
Meu sentido.

domingo, dezembro 11, 2005

Waly Salomão

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.
Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.
Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.

para Pablo

Aprendi desde criança que é melhor me calar,
dançar conforme a dança e jamais ousar.
Mas às vezes pressinto que não me enquadro na lei:
Minto sobre o que sinto
E esqueço tudo o que sei.
Só comigo ouso lutar, sem me poder vencer:
Tento afogar no mar o fogo em que quero arder.
De dia empurro minh'alma, à noite caio em mim, e por isso me falta calma talvez por isso,
vivo inquieto assim.
Dificil explicar, melhor calar, deixar quieto ou gritar.
Estou a ponto de cometer um desatino, meus ovos mexidos...

terça-feira, dezembro 06, 2005

Condição Humana

A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa.
A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas.
A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacto com que ela se faz sentir.
Esta intensidade é tão grande e a sua força é tão elementar que, onde quer que prevaleça, na alegria ou na dor, oblitera qualquer outra realidade mundana.
Já se observou muitas vezes que aquilo que a vida dos ricos perde em vitalidade, em intimidade com as "boas coisas" da natureza, ganha em refinamento, em sensibilidade às coisas belas do mundo.
O fato é que a capacidade humana de vida no mundo implica sempre uma capacidade de transcender e alienar-se dos processos da própria vida, enquanto a vitalidade e o vigor só podem ser conservados na medida em que os homens se disponham a arcar com o ônus, as fadigas e as penas da vida.
Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'

quinta-feira, dezembro 01, 2005

O que vem por ai...

A cassação do deputado José Dirceu carrega múltiplos símbolos, significados e interrogações, que estão aí para serem decifrados e compreendidos. Na madrugada do dia 30 de novembro, o PT teve amputada, para o bem e para o mal, uma parte de sua história. Antes disso, já perdera parte de seu patrimônio programático e ético. Na política como na vida as perdas nem sempre são irreparáveis. Mas isso só é verdadeiro quando entendemos o sentido da perda e o processo que a engendrou. No caso do PT, um processo que iniciou bem lá atrás, por volta de 1995, quando o partido começou a flexibilizar seu programa e sua política de alianças. Flexibilizou tanto que sua musculatura política ficou flácida, cheia de varizes teóricas e estrias práticas. Um dos símbolos que a cassação de Dirceu traz é o da derrota dessa política. Uma derrota que deve custar muito caro, não só ao PT, mas à esquerda no Brasil e na América Latina.
José Dirceu não é o único responsável por isso, obviamente. Dizer isso não implica diluir nem igualar tipos de responsabilidade. O dirigente petista tem sua parcela de responsabilidade neste processo, e ela não é pequena. Mas entender o sentido das perdas sofridas pelo partido não passa exclusivamente pela análise de sua atuação individual. Aliás, responsabilizações individuais conduzem a avaliações equivocadas por ignorarem o caráter processual e histórico do caminho que conduziu o PT a onde ele chegou. As flexibilizações programáticas foram objeto de duras disputas internas no PT, resolvidas por uma margem estreita de votos. A esquerda do partido perdeu essa batalha e não teve forças para reverter o quadro. Agora, ela, o partido e a esquerda como um todo, terão pela frente uma intensificação da ofensiva da direita, ofensiva essa possibilitada pelos inacreditáveis flancos que o PT abriu em suas próprias linhas de defesa, que hoje se encontram desorientadas e com reduzida capacidade de ação.
O reconhecimento auto-crítico de que foi o PT que ajudou a criar as condições para essa ofensiva da direita é vital para enfrentá-la. Neste sentido, é um grande equívoco atribuir a responsabilidade central da crise a um “golpe midiático”. A grande mídia, cada vez mais, é um braço do grande capital financeiro. As grandes empresas de comunicação, como o nome já diz claramente, são grandes empresas mergulhadas em um mercado em crescente processo de oligopolização. A associação entre essas empresas e grandes conglomerados internacionais define, em última análise, as linhas editoriais estratégicas desses veículos. O grande equívoco cometido pelo governo Lula e por dirigentes do PT foi pensar que poderiam ter esses grupos como aliados. Muitos, dentro e fora do PT, denunciaram isso desde a primeira hora, mas a história dos grandes erros sempre é um pouco assim. O que é preciso entender é porque essas advertências costumam perder os debates. Parece haver uma insuficiência nelas que deve ser identificada sob pena da repetição dos mesmos erros ou do surgimento de novos...
Apesar de estar sob ataque e numa posição defensiva, as organizações de esquerda no Brasil ainda têm uma considerável força, fruto em larga medida de seu enraizamento social, para superar esse quadro. Resistir a situações adversas não é exatamente uma novidade em sua história. No entanto, alguns hábitos políticos não autorizam muito otimismo: a tendência ao divisionismo, a ausência de uma visão estratégica de longo prazo, o doutrinarismo ideológico no lugar do pensamento crítico, a subordinação de interesses coletivos estratégicos a interesses particulares táticos e a indigência teórica são algumas das pedras que estão no caminho. Talvez o somatório desses vícios ajude a entender o caráter insuficiente das advertências, mencionado acima. A disposição para a auto-crítica segue sendo uma atitude que freqüenta mais os discursos do que a prática política cotidiana. Erram aqueles, portanto, que acham que José Dirceu é o único que tem essa tarefa pela frente.
Nietzsche disse, certa vez, que muito sangue foi derramado na história antes que a primeira promessa fosse cumprida. Reconhecer os próprios erros é um passo importante mas não é uma garantia de que eles não se repetirão. Se fosse assim, a esquerda estaria em situação bem mais confortável. O que conta ao seu favor é que ela tem em seu código genético o gene da resistência. Mas se essa resistência não vier acompanhada de um aprendizado genuíno e contínuo, ela ressurgirá sempre como um remédio paliativo para sobreviver em períodos de grande crise. E tudo indica que estamos entrando em um período destes. Sobre as possibilidades que essa crise carrega consigo, vale a pensar nas seguintes palavras de Slavoj Zizek, em seu livro sobre Lenin, “Às portas da revolução”:
“A lua-de-mel de uma década com o capitalismo global triunfante acabou; a coceira dos sete anos há muito esperada já chegou – vejam-se as reações apavoradas da mídia, que, da revista Time à CNN, de repente começou a chamar nossa atenção para marxistas que manipulam a multidão de manifestantes ‘honestos’. O problema agora é estritamente leninista: como tornar realidade as acusações da mídia?Como inventar uma estrutura organizacional que vá transformar essa inquietação em demanda política universal?”
Marco Aurélio Weissheimer
da Agência Carta Maior

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