pensante

René Queiroz

Minha foto
Nome:
Local: Sampa, Brazil

marcado

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Mãe



senhora não-precipitada
resolvida no silêncio
ensimesmada displicente
sonhadora de vôo certo
passo largo
leve lento
longo flexível colo
princesa-sacerdotiza em perpétua ablução purificante
senhora
consumada elegância
castelã solitária do mistério e sossego das águas
senhora pressaga
delicada habitante de finas porcelanas
biombos parques vestes reais
senhora simbólica extática
deusa de ritos idos
ficai permanecei
eu te amo, mãe.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Claro que pode, uai...

Comentário de Lucia Hipollito no Blog do Noblat:

"Nas suas andanças eleitorais, o presidente Lula afirmou que todo homem público está sempre em campanha, faz campanha 24 horas por dia, 365 dias por ano.
E é isto mesmo. Lula está coberto de razão. Uma campanha eleitoral começa quando termina a anterior.

Assim que são proclamados os vencedores, começa a próxima campanha. O eleito governa todo o seu mandato pensando em se reeleger ou em eleger seu sucessor.

E não há nada de errado nisso. É assim em todas as democracias do mundo, presidencialistas ou parlamentaristas.
Só as monarquias e as ditaduras não precisam se preocupar com eleições.

Nos países em que o instituto da reeleição permite que o governante se candidate sem precisar deixar o cargo, como é o caso do Brasil, é quase impossível distinguir os atos de governo das atitudes simplesmente eleitoreiras.
Por exemplo: a correção da tabela do imposto de renda é reivindicação antiga da classe média. O governo Lula não estava nem aí para esta demanda.
Mas Lula começou a perder o apoio da classe média desde fevereiro de 2004, quando o escândalo Waldomiro Diniz explodiu no colo do então todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil. Pois neste ano eleitoral de 2006, a tabela do imposto de renda foi corrigida. Não como deveria, mas já é um avanço.

É um importante ato de governo?
É verdade.
Trata-se de uma medida eleitoreira para reconquistar os votos da classe média?
Também é verdade.
Outro exemplo: as tarifas de telefone fixo passariam a ser cobradas não mais por pulsos, mas por minutos. A conta do telefone fixo ia simplesmente bater no teto. Medida antipática, impopular, ruim de ser adotada em ano eleitoral.

O que fez o governo federal? Adiou por um ano, jogando o problema no colo do sucessor de Lula.
E se o presidente for reeleito, terá legitimidade para adotar o aumento logo no início do governo, quando todos os presidentes ainda estão em lua-de-mel com o eleitorado.
O adiamento foi bom para os consumidores? Foi ótimo. Pode render dividendos eleitorais? É claro que pode.
Um presidente no exercício do cargo é sempre um candidato fortíssimo à reeleição. Tem a caneta, a chave do cofre e toda a mídia ao seu redor, noticiando cada passo seu. Pode distribuir um saco de bondades por dia.
E se conta com uma opinião pública distraída e uma oposição incompetente, aí então, é mamão com açúcar. O governante pode viver permanentemente em campanha."

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Serra, faca, queijo e Alckmin...

Até o final de 2005, o PSDB tinha a faca e o queijo na mão para retomar o Palácio do Planalto – 25,6 milhões de votos na eleição de 2004, controle de 871 municípios brasileiros e o tucano José Serra, adversário derrotado por Lula, paparicado como novo líder nas pesquisas eleitorais.
O ano de 2006 chegou e tudo mudou.
Lula abriu 10 pontos nas pesquisas, e melhor ainda o presidente Lula que anda fisgando prestígio até do roqueiro Bono Vox, do U2.
O PT comemorou 26 anos e está dando a volta por cima. As pesquisas deixaram de ser tão generosas com os tucanos. Para complicar, a mosca azul picou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a falta de unidade despertou desconfiança até mesmo em parceiros históricos, como o PFL e as elites empresariais.
No fim de semana, uma luz iluminou o muro tucano. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi flagrado em franca articulação com Tasso Jereissati em favor de José Serra e a corda arrebentou do lado mais fraco: Geraldo Alckmin foi reduzido à insignificância de um picolé de chuchu. A oficialidade dada à candidatura Serra abre caminho para uma aliança com o PFL, principalmente pelo dote da Prefeitura de São Paulo ao vice Gilberto Cassab, mas todo mundo sabe que Cláudio Lembo, também pefelista, será governador com a renúncia de Alckmin.
Em miúdos, uma encrenca das boas para o PFL, que pode tomar a faca e o queijo do desunido PSDB – ou seja, a prefeitura e o governo de São Paulo.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Olha Só...

Em palestra a mais de 500 petistas em Florianópolis no fim de semana, José Dirceu aderiu à onda do "já ganhou" que domina o PT com a subida de Lula nas pesquisas.
O ex-deputado desfiou um receituário do que deveria ser o "nosso segundo mandato".
Foi aplaudido de pé.
A estabilidade, disse Dirceu, foi importante no primeiro mandato, mas deve ser substituída no próximo período pelo foco no desenvolvimento.
Sobre se irá ao palanque de Lula, disse que, sim, se convidado, mas que já trabalha por conta própria.
O ex-coordenador da campanha de 2002 aconselhou Lula a usar a integração latino-americana como mote da reeleição.
"Alguém aqui consegue imaginar Alckmin ou Serra dando continuidade a esse processo, ao lado de Evo Moralez e Chávez?"...

PT,PMDB,P-SOL,PSB,etc...

“A política é, por definição, um atividade que interessa a todo cidadão.
O homem político é personagem que voluntariamente assume responsabilidade perante todos.
Qualquer narração objetiva de fatos concernentes à atividade política, ainda que lesiva da reputação, deve ser admitida, porque é um direito dos cidadãos o de estarem informados sobre tudo que possa constituir a base de um juízo político.” (NUVOLONE)

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Tem Mé no Toco...

Entrevista de Forum sobre a Lista de Furnas-

Fórum – Por que Dimas Toledo registraria e assinaria, em papel timbrado de Furnas, todos os detalhes do desvio de verba em 2002?
Correia – O Dimas sempre foi, no governo FHC, um dos principais inimigos do PT e do Lula em Minas Gerais. Quando o Lula ganhou, em 2002, houve uma campanha muito forte da base do PT mineiro para que ele saísse da direção de Furnas. Naquela eleição, ele tinha eleito seu filho deputado estadual, Dimas Fabiano, com uma campanha riquíssima. Sem nenhuma base popular, o filho dele foi o segundo deputado mais votado. Então, já havia indícios de que Furnas estava servindo para financiar campanhas. Mas aí o Lula assumiu e o Itamar Franco demonstrou interesse na estatal. O governador Aécio Neves fez enorme pressão e conseguiu que Dimas ficasse em Furnas. As perguntas que ficaram foram as seguintes: por que Itamar queria tanto controlar a estatal e por que o governo Lula permitiu que o Dimas ficasse no cargo? Mas, voltando à sua pergunta, eu penso que o Dimas fez esse documento e guardou para se proteger. O Roberto Jefferson disse essa semana que metade dos nomes que aparecem na lista do caixa dois pediram para o Dimas não sair de Furnas quando o Lula assumiu. Isso significa que já havia muita gente amedrontada. Na análise que faço, o Dimas fez esse documento para se proteger. Afinal, por que a CPI nunca o chama para depor? Porque os tucanos não têm interesse nenhum.
Fórum – E onde está esse documento original da lista de caixa dois de Furnas?
Correia – Não sei. O Nilton me disse que conseguiu com um ex-advogado do Dimas e que devolveu o documento. E ele disse que esse advogado já morreu. Não tenho mais contato com ele, mas creio que a Polícia Federal já deve ter outras confirmações, pois perguntou sobre o assunto para o Roberto Jefferson. Vamos esperar, agora, que a PF e o Ministério Público investiguem até o fim. Porque não acredito que o Congresso Nacional vá fazer isso.

José Dirceu tinha razão...

O governador Eduardo Braga, do Amazonas, antecipou, hoje, durante reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o destino do partido dele, o PMDB, na próxima eleição presidencial: dividir-se entre vários candidatos.
Antes mesmo de o PMDB decidir se apoiará Garotinho ou Germano Rigotto para presidente, Braga informou que o partido no Amazonas irá de Lula.
"É notória a expectativa do povo do Amazonas em torno da candidatura de Lula", disse.
E forneceu a senha para aqueles que, dentro do PMDB, estão prontos para reforçar as chances de vitória de Lula:
- Acho que o PMDB precisa avaliar muito bem sua posição e sua estratégia para que não aconteça com Rigotto ou Garotinho o que ocorreu no passado com o Ulisses Guimarães e o Quércia, que acabaram sendo candidatos formais, para cumprimento de tabela.
O que Braga não disse: que eleito governador pelo PPS, entrou no PMDB por sugestão de Lula. E para reforçar a ala lulista do partido. Ocorreu o mesmo com Paulo Hartung, governador do Espírito Santo, originalmente eleito pelo PSB.
Lula custou a enxergar a vantagem de ter o PMDB - ou um pedaço dele - ao seu lado. Logo depois de ter sido eleito, autorizou José Dirceu a oferecer quatro ministérios ao PMDB que o apoiara no primeiro e no segundo turno.
O passo seguinte seria tomar de assalto a direção nacional do partido e instalar ali gente de confiança do novo governo. Quando tudo parecia certo, o senador Alozio Mercadante (PT-SP) convenceu Lula de que não deveria ser assim.
O melhor caminho, segundo Mercardante, seria a aliança formal com o PMDB via sua direção. Lula recuou e a aliança jamais saiu. Mais tarde, preferiu comprar no varejo o apoio de deputados e de senadores do PTB, PL, PP e do próprio PMDB.
A operação deu no quê? Deu no mensalão e em tudo o que se viu depois.
Dirceu estava certo antes quando dizia que o PMDB era a chave para Lula governar - e novamente está certo quando diz que o PMDB será a chave da sucessão.
Lula corre atrás do prejuízo

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Vale a Leitura...

Da Folha Online, colunista Gilberto Dimenstein:
"Se não surgir nenhuma nova e bombástica denúncia de corrupção, a tendência de Lula é crescer ainda mais nas pesquisas de opinião pública. Isso apenas mostra que a cúpula do PSDB, até pouco tempo tão segura sobre suas chances eleitorais, errou feio ao imaginar que o PT estava no chão, quase sem chance de levantar. Isso deve explicar o tom grosseiro das últimas declarações de Fernando Henrique Cardoso, parecendo não um ex-presidente, mas um chefe de torcida de time de futebol.
As razões do crescimento de Lula são óbvias. O efeito do aumento do salário mínimo ainda não ocorreu.
Será ampliado o número de beneficiados dos programas de renda mínima. Há indicações de que, em próximos estudos, se registrem a queda na percentagem de pobres no país e a redução da desigualdade social. Não se vê crise internacional no horizonte, o que significa garantia de algum crescimento e redução do nível de desemprego. Estão sendo planejadas medidas para classe média e de intervenção nas regiões metropolitanas.
Tudo isso, claro, vendido pela mídia, numa espécie de horário eleitoral gratuito, bancado, claro, pelo contribuinte. Lula não sai do palanque e todos sabem de seu poder de comunicação.
Some-se a isso que o PSDB não consegue escapar dos respingos dos escândalos do caixa 2, ajudando à tese daqueles que, para se salvar, dizem que todos estão no mesmo barco. Alem disso, o partido, apesar das aparências, está metido numa rede de intrigas internas e não ofereceu um projeto de nação alternativo ao do PT.
Se Lula vai se reeleger é outra discussão, mas que ele tende a ser um candidato fortalecido pelos fatos e factóides, não há dúvida."

Como?

Sabe qual é a nova preocupação do líder tucano no Senado, Arthur Virgílio?
O astronauta brasileiro Marcos César Pontes.
No site do PSDB o senador acusa o presidente de, por motivos eleitorais, colocar em risco a vida do astronauta, candidato a herói espacial do governo Lula.
- "Quero pedir encarecidamente à senhora Pontes, à família Pontes: não deixem o Marcos voar.
Querem matar o astronauta. É tentativa de homicídio espacial" - afirma o senador.
Segundo Virgílio, a viagem foi antecipada em sete meses, por determinação do presidente Lula, para que a viagem espacial ajude sua candidatura a levantar vôo.
O senador só não explica como é que Lula convenceu os russos disso.
Só pode ser droga pesada que este individuo está fumando...

sábado, fevereiro 04, 2006

O Homem Lúcido

O Homem Lúcido sabe
que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que ele nunca se entusiasma com ela
Assim como ele nunca tem memórias

O Homem Lúcido sabe
que o viver e o morrer
são o mesmo em matéria de valor
posto que que a vida contém tantos sofrimentos
que a sua cessação não pode ser considerada um Mal

O Homem Lúcido sabe
que ele é o equilibrista na corda bamba da existência
Ele sabe que por opção ou por acidente
é possível cair no abismo a qualquer momento
interrompendo a sessão do circo

Pode tembém o Homem Lúcido
optar pela vida
Aí então Ele esgotará todas as suas possibilidadades

Ele passeará pelo seu campo aberto
pelas suas vielas floridas
Ele saberá ver a beleza em tudo!

Ele terá amantes, amigos, ideais
urdirá planos e os realizará
Resistirá aos infortúnios
e até mesmo às doenças

E se atingido por um desses emissários
saberá suportá-lo
com coragem e com mansidão

E morrerá, o Homem Lúcido, de causas naturais
e em idade avançada
cercado pelos seus filhos
e pelos seus netos
que seguirão a sua magnífica aventura.

Pairará então sobre a memória do Homem Lúcido
uma aura de bondade
Dir-se a:
-Aquele amou muito. Aquele fez muito bem as pessoas!

A Justa Lei Máxima da Natureza obriga
que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale sempre à quantidade acontecimentos favoráveis

O Homem Lúcido porém
esse que optou pela vida
com o consentimento dos deuses
tem o poder magno de alterar essa lei

Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre maioria...

Porque essa é uma cortesia que a Natureza faz com

Os Homens Lúcidos

*O texto é uma livre tradução, parte de um Tratado sobre a lucidez, que teria sido escrito no séc. VI a.C, na Caldéia – parte sul e mais fértil da Mesopotamia, entre os rios Eufrates e Tigre

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Raio em céu sereno

A vitória do Hamas desorganizou sem piedade a trama urdida pela administração Bush. Ela não foi, porém, em nenhum caso, raio riscando inesperadamente um céu sereno, como proposto pela grande mídia mundial. Nas semanas anteriores às eleições, prevendo a derrota, Abu Abbas procurou se servir das dificuldades impostas pelos israelenses às eleições para retardá-las e obter mais tempo para impor seus candidatos. Dias antes do pleito, assustado com o avanço eleitoral do Hamas, o governo de Israel permitiu que Barghuti, candidato da lista eleitoral do Fatah, fosse entrevistado na prisão, para que desviasse votos do Hamas.
Apesar de todos os sinais, a administração Bush exigiu o cumprimento dos prazos eleitorais, esperando conquistar, na Palestina, alguns dos muitos pontos que perdeu junto à opinião publica mundial e estadunidense, devido ao Iraque. A vitória do Abu Abbas e a repressão da resistência palestina por forças palestinas mostrariam a correção da política de construção, através de eleições de cartas marcadas, de governos enfeudados ao imperialismo, como tem ocorrido, com mais ou menos sucesso, no Afeganistão, no Iraque e ocorrerá, proximamente, no Haiti, com o apoio do governo brasileiro de Lula da Silva.
A população palestina desarmou inexoravelmente a trama ardilosamente tecida deslocando simplesmente grande parte do apoio que concedera ao Fatah, de Yasser Arafat, para o Hamas, de Ismail Haniya. Retirou, assim, sem complacência, o apoio dado à Abu Abbas, há um ano, devido a sua rendição ao imperialismo e ao sionismo. Isolou e enfraqueceu profundamente o presidente palestino e seus aliados, ao colocar no coração do próximo governo organização execrada como terrorista pelo governo estadunidense, ao igual que o IRA, as FARC, o Hesbolah, etc.
É ledo engano definir os resultados eleitorais de 25 de janeiro como um simples deslocamento do apoio eleitoral da população, de uma administração do Fatah, corrupta e incapaz, para um Hamas visto como íntegro e competente. A população palestina é uma das mais politizadas do Oriente Médio. A corrupção, antiga realidade nas filas do Fatah, foi realidade minimizada pela população, enquanto segmentos do Fatah prosseguiam na luta e o velho combatente resistia, aos 75 anos, com as mãos já trêmulas, entrincheirado nos escombros de ex-palácio presidencial de Ramallah, cercado por tropas israelenses, como bandeira viva dos sofrimentos e da firmeza dos palestinos.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

O Furacão Chávez

Ele tinha tudo para ser um presidente isolado e estigmatizado na América Latina. E de fato, tudo foi feito para que isso acontecesse. No entanto, no espaço de um ano, Hugo Chávez tornou-se o mais popular líder político do continente. Como e por que isso se deu?
Hugo Chávez tinha uma série de características que o condenariam, à luz do consenso fabricado pelos monopólios privados da mídia nacional e internacional:
- é militar, em um continente em que o currículo dos militares é muito negativo, tanto em relação à democracia, quanto à defesa dos interesses econômicos e da soberania nacional;
- surgiu para a vida política através de uma sublevação militar, facilmente assimilada a um golpe militar;
- é nacionalista, quando o consenso faz a apologia da “globalização”;
- defende maior participação estatal, quando o Estado é diabolizado pelo consenso liberal e por setores que se pretendem de esquerda – como ONGs e defensores de teses como as de Negri e de Holloway;
- apóia, solidariza-se e tem profundos acordos com Cuba, país em geral execrado pela mídia monopólica;
- é país produtor de petróleo, o que poderia levar a uma antipatia pela facilidade de viver de um recursos energético altamente valorizado no mercado internacional;
- prega o socialismo, na contramão da onda liberal.
Por que então Hugo Chávez, desde o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, há exatamente um ano, tornou-se um furacão por onde quer que vá? Até poucas semanas antes, até antes de ele triunfar inquestionavelmente sobre seus adversários no referendo de confirmação de seu mandato, Hugo Chávez era evitado por seus colegas nas reuniões de mandatários latino-americanos, porém, na posse de Tabaré Vazquez, deu-se inicio a reuniões dos três mais importantes mandatários da região – Lula, Kirchner e ele -, os três reconhecidos como os de mais peso no subcontinente. - em primeiro lugar, porque o esgotamento do modelo neoliberal e o desastre do isolamento da política dos EUA pede lideranças regionais que apontem para as políticas alternativas;
- porque Lula, que teria as melhores condições e também Kirchner, que poderiam desempenhar esse papel, não têm condições e/ou disposição de preencher esse vazio;
- porque Hugo Chávez soube resgatar a prioridade do social – usando recursos do petróleo para isso -, o papel do Estado, da soberania nacional e da integração continental;
- porque ele fala a linguagem popular, com a ideologia do latino-americanismo e do antiimperialismo;
- porque ele aponta claramente para os objetivos e para os inimigos: derrotar o neoliberalismo e o imperialismo;
- porque Hugo Chávez compreendeu e propala que, sem um fortalecimento da capacidade de regulação do Estado, não poderia haver controle sobre a livre circulação do capital financeiro, assim como tampouco recursos para as políticas sociais que universalizam direitos sociais;
- porque o governo venezuelano produz uma grande quantidade de iniciativas de integração continental – da Petrosul à Petrocaribe, da Telesur ao gasoduto continental;
- porque o governo venezuelano utiliza os recursos do petróleo para uma política de solidariedade e de integração continental.
- Hugo Chávez fortalece o Mercosul e ao mesmo tempo trabalha para a integração estratégica representada pela ALBA;- Hugo Chávez convoca uma frente antiimperialista no continente e em escala mundial;
- Hugo Chávez integra as tradições de luta do movimento revolucionário mundial com a releitura de autores clássicos do pensamento anticapitalista, reforçando a necessidade desse resgate e da elaboração teórica para a luta revolucionária;
- Hugo Chávez articula o nacionalismo com o internacionalismo, a revolução democrática com a socialista. Se já não bastasse isso, Hugo Chávez é um dirigente mobilizador, que ataca os inimigos e convoca à mobilização, passa a confiança, sem a qual nenhum movimento popular pode avançar e triunfar.
Daí, o verdadeiro furacão em que se transformou Hugo Chávez, aclamado por manifestações populares que o perseguem por onde vá, que o aclamam por onde passe, que se concentram para vê-lo e ouvi-lo, onde fale.
Se é verdade que os ventos passaram a soprar a favor das forças populares na América Latina e no Caribe, é preciso dizer que essa virada deve-se, em grande parte, à atuação do próprio Hugo Chávez, que confirma que quem sabe faz a hora, não espera acontecer...

Emir Sader

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.