pensante

René Queiroz

Minha foto
Nome:
Local: Sampa, Brazil

marcado

sábado, julho 23, 2011

Ameniza e não muda

O Brasil é um país de alta criatividade em políticas sociais, com saídas para amenizar, não para mudar a realidade. A criatividade começou na escravidão, ao invés de aboli-la recorremos à Lei do Ventre Livre. Os escravos sexagenários, os velhos, eram libertados, um eufemismo para abandonados. Até a Abolição da Escravatura aconteceu sem oferecer educação nem terra para os ex-escravos e seus filhos. A Abolição foi um eufemismo para a expulsão dos escravos das fazendas para as favelas.

Modernamente também temos sido campeões de imaginação para soluções parciais.
Como o salário não era suficiente para pagar o transporte do trabalhador até o local de trabalho, ao invés de aumento salarial, criamos o vale-transporte, como se fosse um grande benefício social, quando, na verdade, foi um serviço à economia: garantir a presença do trabalhador na fábrica. A regra é a mesma para o vale-refeição. O salário não era suficiente para assegurar a alimentação mínima de um trabalhador, então a solução foi garantir a alimentação do trabalhador, mesmo que suas famílias continuassem sem comida.

Quando a inflação ficou endêmica, ao invés de combatê-la (só enfrentada em 1994), criou-se a correção monetária, que garantia moeda estável para quem tivesse acesso às artimanhas do mercado financeiro, enquanto o povo continuava com seus salários cada vez mais desvalorizados.

 Hoje, quando o país vive um apagão de mão de obra qualificada, corremos para fazer escolas técnicas, esquecendo que sem o ensino fundamental os alunos não terão condições de aproveitar os cursos profissionalizantes.   
        
 A Bolsa Escola foi criada para revolucionar a escola. Como isso não foi feito, ela se transformou na Bolsa Família, sendo mais uma das soluções compensatórias agregada ao vale-alimentação e vale-gás.

 As universidades boas e gratuitas são reservadas para os que podem pagar escolas privadas no ensino básico. No lugar de fazer boas escolas para todos, criamos o PROUNI e cotas para negros e índios. O Brasil melhora com essas medidas, mas não enfrenta o problema e acomoda a população, como se agora todos já fossem iguais. Promovem-se benefícios com soluções provisórias, como se elas resolvessem o problema.

A solução adiada seria uma revolução que assegurasse escola de qualidade para todas as crianças, em um programa que se espalharia pelo país, onde todas as escolas fossem federais, como o Colégio Pedro II, as escolas técnicas militares, os colégios de aplicação das universidades.

 Quando a desigualdade social força a separação entre pobres e ricos que se estranham, ao invés de superar a desigualdade constroem-se muros em shoppings e condomínios, separando as classes sociais. Para impedir a convivência de classes, impedimos estações de metro em bairros ricos, o que mostra um total desinteresse desses habitantes pelo transporte público.

Falta professor de Física, retira-se Física do currículo escolar. Os alunos não aprendem, adotamos a progressão automática. O Congresso não funciona, o STF passa a legislar. A população fala Português errado, em vez de ensinar o correto a todos legitimamos a fala errada para a parte da população sem acesso à educação. Adotamos dois idiomas: o Português dos ricos educados e o Português dos pobres sem educação; o Português dos condomínios e o Português das ruas. Ao invés de combater o preconceito e a desigualdade, legalizamos a desigualdade.

Ao invés de fazer as mudanças da estrutura para construir um sistema social eficiente, equilibrado, integrado e justo optamos por simples lubrificantes das engrenagens desencontradas da sociedade. Nossas soluções podem até ser criativas, mas são burras e injustas. É a sociedade acomodando suas deficiências. Ao invés de enfrentar e resolver os problemas, nossa criatividade ajusta a sociedade a conviver com eles. E adia e agrava os problemas porque ilude a mente e acomoda a política.

* Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília

quarta-feira, julho 20, 2011

VIVA ZAPATERO


 Um documentário italiano de uma hora e meia distraidamente captado numa sonolenta sessão das 10 do Telecine Cult se transformou, para minha surpresa, numa verdadeira,avassaladora e magistral aula de ciência política contemporânea que ninguém deveria perder.A história que o filme conta é italiana, mas a sua lição é universal: políticos e liberdade de expressão não são farinhas do mesmo saco.
O filme, “Viva Zapatero”(que pode ser comprado por R$ 29,60 na Livraria Cultura, por exemplo), é de 2005, foi exibido no Festival de Veneza daquele ano, e é dirigido pela comediante italiana Sabina Guzzanti, ironicamente filha de um senador de direita (“Tenho idade para não ter mais que obedecer a meu pai”, responde a outro parlamentar direitista de quem tenta arrancar uma entrevista). A história é simples: durante o segundo governo Berlusconi, em 2004, Sabina estreou um programa satírico na RAI-3, um dos quatro canais públicos que o Estado italiano mantém.O programa ,chamado “RAIot”,onde a própria Sabina,travestida,interpretava Berlusconi,foi ao ar apenas uma vez e suprimido em seguida.No filme,ela vai atrás das razões da proibição e constrói , através de depoimentos à esquerda,à direita e nos meios artísticos e jornalísticos, um retrato assustador do que a prepotência da direita no poder aliada à omissão covarde da oposição de esquerda, são capazes de fazer para sepultar a liberdade de expressão num país teoricamente democrático como a Itália.Nem mesmo quando a Justiça absolve o programa nos processos que lhe foram movidos pelo império Berlusconi,certificando que tudo o que foi dito lá era verdade,Sabina conseguiu que ele fosse recolocado no ar.
Pode parecer simplesmente uma denúncia dos métodos gangsteristicos de Berlusconi (que está em seu terceiro período de governo), mas essa é uma leitura rasa do filme.Na Itália,os quatro canais públicos da RAI são tradicionalmente loteados entre os partidos políticos, e a esquerda tem o seu quinhão- o canal que cabe á esquerda é dirigido por alguém que ela indica, mas que sai de uma lista tríplice enviada ao Parlamento,que aprova o nome final.Ou seja: o diretor do canal que cabe à esquerda,tem que ser apoiado pela maioria (atualmente) de direita. Isso cria uma rede de interesses paralelos e de subterfúgios entrecruzados que fazem com que direita e esquerda acabem enrolando a língua de maneira muito semelhante quando se trata de justificar as agressões à liberdade de expressão.E aí percebemos o quanto a novilingua dos políticos, especialmente elaborada para falar muito sem dizer nada, é semelhante em todos os lugares do mundo, e em quanto a falta de norte ético faz com que as coisas se pareçam quando se trata apenas de manter o poder e seus privilégios.
Um dos grandes depoimentos do filme é de Fúrio Colombo, diretor do jornal do ex-Partido Comunista Italiano,”L’Unitá”, demitido,como tantos outros, na crista da onda da razzia ideológica da direita, com a covarde complacência e conivência da esquerda: “Minha família tinha o hábito de colecionar e encadernar jornais.Eu tinha o hábito de folhear as coleções,e aí estava tudo que era preciso ver,quando o estado fascista foi implantado.A cada edição do jornal ele ia ficando mais fascista.Isso era visível,óbvio, evidente.Bastava ler as matérias e acompanhar a sequência dos dias.O fascismo ia se instalando aos poucos, a liberdade ia sumindo aos poucos ”.
Ah, sim, por que “Viva Zapatero “? Um ex-diretor do “Corriere della Sera”, também expurgado, conta,com um fio de esperança, que assim que assumiu o cargo de primeiro ministro da Espanha, Zapatero apresentou uma lei proibindo o governo de nomear a direção da TV pública da Espanha.Os italianos babaram de inveja.
Além de ser uma aula de ciência política nua e crua, o filme dá também lições de jornalismo àqueles que, como diria Millôr Fernandes, o confundem com um armazém de secos e molhados.
 Sandro Vaia

quinta-feira, julho 14, 2011

Eduardo Galeano e o direito de sonhar

terça-feira, julho 12, 2011

Slavoj Zizek, Filosofia é.

domingo, julho 10, 2011

A farsa como verdadeira tragedia

“Vou interromper o senhor. A pergunta que tenho a lhe fazer é... O senhor tinha uma ideologia. Esta declaração é sua:  ‘Tenho de fato uma ideologia. Minha avaliação é que o livre mercado competitivo é, de longe, uma maneira sem rival de organização das economias. Tentamos as regulamentações, nenhuma funcionou de maneira significativa’. É uma citação sua. O senhor teve autoridade para impedir as práticas irresponsáveis de empréstimos que levaram à crise das hipotecas subprime. O senhor foi aconselhado a agir nesse sentido por muitos outros. E agora toda a nossa economia está pagando por isso. O senhor acha que a sua ideologia o levou a tomar decisões que preferiria não ter tomado?”
Essas foram palavras do deputado norte-americano Henry Waxman pronunciadas para o então presidente do FED [Banco Central estadunidense], Alan Greenspan, quando este foi chamado ao Congresso para explicar sua irresponsabilidade diante da crise financeira de 2008. 
Não deixa de ser impressionante lembrar como os choques econômicos liberais das últimas décadas foram feitos apregoando o fim das ideologias. Contra a “ilusão” de que haveria alternativas possíveis de desenvolvimento e distribuição, ouvimos durante décadas o mantra de que tais alternativas eram meras crenças ideológicas, pois o livre mercado competitivo era, de longe (talvez, só de longe), uma maneira sem rival de organização das economias.
Eis que descobrimos os cabeças pensantes do liberalismo justificarem suas ações equivocadas afirmando, de maneira descomplexa, terem uma ideologia. Bem, mas se esse for realmente o caso, cabe perguntar: como funciona tal ideologia? Esse é o objetivo do mais novo livro de Slavoj Zizek lançado no Brasil: Primeiro Como Tragédia, Depois Como Farça. 
Conhecido como um dos principais nomes da renovação teórica da esquerda mundial, Zizek é responsável por uma articulação inovadora entre psicanálise lacaniana, marxismo e análise de produções culturais do capitalismo contemporâneo.

Radicalidade
Neste livro, dois pontos merecem ser salientados. Primeiro, a compreensão acertada da existência: “da possibilidade real de que a principal vitima da crise em andamento não seja o capitalismo, mas a própria esquerda, na medida em que sua incapacidade de apresentar uma alternativa global viável tornou-se novamente visível a todos”.
Zizek não poderia estar mais correto. A clareza da dificuldade de a esquerda crescer a partir da crise apenas indica como suas figuras eleitorais não têm mais capacidade de ousar em suas pautas. Suas ações não têm a radicalidade necessária para encontrar novas alternativas e mobilizar as largas camadas populares descontentes com os rumos da economia mundial.
Sobra espaço para a extrema direita xenófoba, com suas construções paranóicas e sua maneira patológica de aproveitar-se do ressentimento popular contra a burocracia liberal cosmopolita que vive de costas para a miséria.
Aqui entra o segundo ponto a ser salientado no livro, a saber, a proposta de recuperação da “ideia do comunismo”. Não se trata de alguma defesa do retorno à experiência do socialismo real, tal como o século 20 conheceu. 
No entanto, há aqui uma ideia importante a respeito de como devemos pensar a experiência revolucionária que animou os momentos decisivos do século 20. Que ela tenha fracassado e produzido o contrário do que pregava, eis algo que ninguém nega e que merece uma reflexão demorada. No entanto, é inegável sua força em produzir lutas que mostraram grande capacidade de mover a história, de engajar sujeitos no desejo de viver para além das limitações do presente.
É verdade que, atualmente, vemos um grande esforço de apagar tal desejo, isso quando não se trata de simplesmente criminalizar a história das revoluções, como se a tentativa do passado de escapar das limitações de nossas formas de vida devessem ser compreendidas, em sua integralidade, como simples descrições de processos que necessariamente se realizariam como catástrofe. Como se não fosse mais possível olhar para trás e, levando em conta os fracassos, pensar em maneiras novas de recuperar tais momentos nos quais o tempo para e as possibilidades de metamorfose do humano são múltiplas. Como se não pudéssemos colocar a questão: não é necessário, muitas vezes, que uma ideia fracasse inicialmente para que possa ser recuperada em outro patamar e, enfim, realizar suas potencialidades?
Quantas vezes, por exemplo, o republicanismo precisou fracassar para se impor como horizonte fundamental de nossas formas de vida? A pergunta que Zizek quer colocar é: não seria o mesmo com a “ideia do comunismo”?
Vladimir Safatle
Texto reproduzido da Revista Cult (Editora Bregantini), n° 158 – Junho/2011.

sábado, julho 09, 2011

A internet e a rebelião dos homens

Imagine o leitor que em fevereiro de 1848 já houvesse a rede mundial de computadores. Vamos supor que, em lugar de imprimir os primeiros e poucos exemplares do Manifesto Comunista, Marx e Engels tivessem usado a internet, de forma a que todos os trabalhadores europeus e norte-americanos pudessem ler o texto. Qual teria sido o desenvolvimento do processo? Como sabemos, o ano de 1848 foi de rebeliões operárias na Europa, reprimidas com toda a violência.
O capitalismo selvagem de então, um dos filhos bastardos da Revolução Francesa, sentiu-se animado pela derrota dos trabalhadores. Na França a burguesia tomou conta do poder e, derrotada a monarquia, assumiu-o sem disfarces e sem intermediários, em um período que os historiadores denominam de “A República dos homens de negócios”. Os trabalhadores e intelectuais tentaram, mais tarde, em 1871, logo depois de a França ser derrotada pelos alemães, criar um governo autônomo e igualitário em Paris. Com a ajuda dos invasores, o Exército de Thiers executou 20.000 parisienses nas ruas.
As manifestações populares dos países árabes, que os governos e a imprensa dos Estados Unidos e da Europa saudaram como o fim dos tiranos e o início da democratização do mundo islâmico, entram em nova etapa, ao atingir os países ricos. Os analistas apressados são conduzidos a rever suas conclusões. O mal-estar que levou os povos às ruas não se limita ao norte da África: é fenômeno mundial. 
Uma das contradições do capitalismo, principalmente nessa nova etapa, a do imperialismo desembuçado, no qual os governos nacionais não passam de meros servidores dos donos do dinheiro, é a de sua incapacidade em estabelecer limites. Hoje, nos Estados Unidos – que foram, em um tempo, o espaço para a realização de milhões de pessoas mediante o trabalho – a diferença entre os ricos e os pobres é maior do que durante toda a sua História, incluído o tempo da escravidão. Um por cento da população norte-americana detém 40% de toda a riqueza nacional. A mesma situação se repete em quase todos os paises nórdicos.
Quando redigíamos este texto, milhares de pessoas se encontravam acampadas no centro de Madri, em continuidade ao movimento Democracia Real, Já, que se iniciou em 15 de maio, com protestos em todas as grandes cidades espanholas. A Espanha hoje está dominada pelos grandes banqueiros e companhias multinacionais, que não só exploram o trabalho nacional, como vivem de explorar os paises latino-americanos. Bancos como o Santander – cujos resultados mais expressivos ele os obtém no Brasil – dividem com os dois partidos que se revezam no poder (os socialistas e os conservadores) o resultado do assalto à economia do país. É contra esse sistema odioso que os espanhóis foram às ruas, e nas ruas continuam.
Não são apenas os jovens desempregados que se indignam. São principalmente as mulheres e homens maduros, os que estimulam o movimento. Eles sentem que seus filhos e netos estarão condenados a um futuro a cada dia mais tenebroso e mais violento, se os cidadãos não reagirem imediatamente. Os espanhóis estão promovendo a articulação internacional de movimentos semelhantes, que ocorrem em outros países, como a Islândia, a França, a Inglaterra e mesmo os Estados Unidos. Se o sistema financeiro se articulou, com o Consenso de Washington e os encontros periódicos entre os homens mais ricos do planeta, a fim de dominar e explorar globalmente os povos, é preciso que os cidadãos do mundo inteiro reajam.
Marx queria a união de todos os proletários do mundo. O movimento de hoje é mais amplo e seu lema poderia ser: Seres humanos do mundo inteiro, uni-vos.

Por Mauro Santayana, em seu blog:

Meditando


Vivemos num mundo onde o ser humano é preparado para ser um consumidor voraz e de gosto padronizado.

Vivemos num mundo onde os homens pensam que são livres e independentes não sujeitos a nenhum autoridade, princípio ou consciência, mas prontos para receber ordens.

Vivemos num mundo onde o sistema cria indivíduos que possam ser conduzidos sem força, liderados sem líder, movidos sem objetivo em direção ao matadouro.

Vivemos num mundo onde as forças da humanidade foram transformadas  em coisas.

Vivemos num mundo onde as coisas dominam o homem e governam a humanidade.

O homem precisa adquirir o senso do eu.

A história da  humanidade começou com um ato de desobediência: Eva e Prometeu.

Todo ato de desobediência é um ato revolucionário que traz embutido a obediência.

”Desobedeço a Cesar porque obedeço a Deus”.

“Desobedeço a Deus porque obedeço as leis da humanidade”.

Hoje a humanidade é controlada pela manipulação.

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.