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René Queiroz

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segunda-feira, setembro 26, 2011

Uma semana de setembro

É quase certo que a semana que se encerrou ontem, sábado, tenha sido decisiva para a História deste século que se iniciou há dez anos, com os fatos misteriosos de Nova Iorque. A ONU, que não tem sido mais do que um auditório, espécie de ágora mundial, mas sem o poder político de que dispunham as praças de Atenas, ouviu quatro discursos importantes. Dois deles em nome da paz, do futuro, da lucidez e dois outros que ecoaram como serôdios. Dilma e Abbas, em nome dos que não aceitam mais essa divisão geopolítica do mundo; Netanyahu e Obama, constrangidos portavozes de um tempo moralmente morto. A assembléia geral estava separada em dois lados definidos, ainda que assimétricos.


A presidente do Brasil falava em nome das novas realidades, como a da emancipação das mulheres – pela primeira vez, na crônica das Nações Unidas, uma voz feminina abriu os debates anuais – e a impetuosa emersão de povos milenarmente oprimidos como agentes ativos da História. Mahmoud Abbas, embora em nome de uma pequena nação representou todos os povos oprimidos ao longo dos tempos. Por mais lhe neguem esse direito, a Palestina é  tão antiga que entre  suas fronteiras históricas nasceu um homem conhecido como Cristo.


O holocausto judaico, cometido pelos nazistas, e  que nos horroriza até hoje, durou poucos anos; o do povo palestino,  espoliado de direitos com a ocupação paulatina de suas terras, iniciada com o sionismo no fim do século 19, dura há pelo menos 63 anos, desde a criação, ex-abrupto, do Estado de Israel, em 1948. Recorde-se que a criação de um “lar nacional” para os judeus estava condicionada à sobrevivência, em segurança, do povo palestino em um estado independente. A voz de Dilma, mais comedida, posto que representando  nação de quase 200 milhões de pessoas no exercício de sua soberania política, teve a mesma transcendência histórica do apelo dramático de Abbas. A cambaleante comunidade internacional era chamada à sensatez política e à consciência ética. É duvidoso que ela corresponda a essa responsabilidade. Do outro lado, no discurso dissimulado e ameaçador de Netanyahu e na lengalenga constrangida de Obama, ouviram-se  os rugidos dos mísseis tomawaks e o remoto estrondo que destruiu as cidades de Hiroxima e Nagasáqui, em 1945. Enquanto Netanyahu balbuciava, sem nenhuma coerência, as expressões de paz, seus soldados matavam um manifestante palestino na Cisjordânia ocupada.


Os dois arrogantes senhores não falaram em nome dos homens; bradaram em nome das armas e dos grandes banqueiros sem pátria que, desde os Rotschild, mantêm a força contra a razão naquela região do mundo. Como muitos historiadores já apontaram, os judeus ricos, sob a liderança da poderosa família de financistas, decidiram acompanhar o ex-pangermanista Theodor Herzl, na idéia de criar um estado hebraico, a fim de se livrar da presença constrangedora dos judeus pobres na Inglaterra e na Europa Ocidental.


Na origem da sua independência, os Estados Unidos ouviram a constatação sensata de Tom Payne, de que contrariava o senso comum a dependência de um continente, como a América do Norte, a uma ilha, como a Grã Bretanha. O governo norte-americano é hoje refém de um estado diminuto, como Israel, representado em Washington pelos poderosos lobistas, capazes de influir sobre o Capitólio e a Casa Branca, contra as razões históricas da grande nação.


Ao apoiar, vigorosamente, o imediato reconhecimento, pelas Nações Unidas, da soberania do Estado Palestino, Dilma não falou apenas em nome dos países emergentes, solidários com o povo acossado e agredido,  cujas terras e águas são repartidas entre os invasores; falou em nome de princípios imemoriais do humanismo. Ela pôde dar autenticidade ao seu discurso com uma biografia singular, a de uma jovem que, na resistência contra um regime criado e nutrido ideologicamente pelos norte-americanos, foi prisioneira e torturada.


A presidente disse ao mundo que estamos, os brasileiros, trabalhando para que o Estado cumpra a sua razão de ser, ao reduzir as desigualdades sociais e ampliar o mercado interno, a fim de desenvolver, com  justiça, a economia nacional. Embora com a prudência da linguagem, exigida pelas circunstâncias solenes do encontro, o que Dilma disse aos grandes do mundo é que eles, no comando de seus estados, não agem em nome dos cidadãos que os elegeram, mas das grandes corporações econômicas e financeiras multinacionais, controladas por algumas dezenas de famílias do hemisfério norte. O resultado dessa distorção são as crises recorrentes do capitalismo contemporâneo, com o desemprego, o empobrecimento crescente das nações, a insegurança coletiva e o desespero dos mais pobres. E os mais pobres não se encontram hoje apenas nos países do antigo Terceiro Mundo, mas nas maiores e orgulhosas nações. As ruas de Londres e de Nova Iorque, de Nova Delhi e de São Paulo são caudais da mesma miséria. Daí a necessidade de que se mude o projeto de vida em nosso Planeta. Para isso é preciso que as novas nações participem efetivamente da construção do futuro do homem.


Outro ponto axial de seu discurso foi o da necessária e urgente reforma das Organização das  Nações Unidas, para que ela se restaure na credibilidade junto aos povos. Seu sistema decisório, construído na fase crucial da reacomodação do mundo, depois da tragédia da 2ª. Guerra Mundial, correspondeu a uma constelação circunstancial do poder, em que as maiores potências, possuidoras da bomba do juízo final,  assumiam a responsabilidade de garantir hipotética paz,  mediante o Conselho de Segurança. Contestado esse superpoder mundial pela consciência moral dos povos, desde o seu início, há quase duas décadas que se discute a sua ampliação democrática, mas sem qualquer conclusão efetiva. Dilma expressou a urgência de que isso ocorra, a fim de que o organismo possa ter a força da legitimidade política.


A paz, como a guerra, era, durante a Guerra Fria, um negócio a dois, e que só aos dois beneficiava. Sua disputa se fazia na periferia do sistema, a partir do conflito na Coréia, que inaugurou o sistema da divisão entre norte e sul, que se repetiria no Vietnã e em outros países.


Mais uma vez, no pacto Wojtyla-Reagan, a Igreja se somava ao dinheiro, para a aparente vitória do capitalismo, com a queda do muro de Berlim. Isso trouxe aos vitoriosos a ilusão de que a História chegara a seu fim, com a definitiva submissão dos pobres aos nascidos para mandar e usufruir de todos os benefícios da civilização. Como registramos, naqueles anos de Fernando Henrique, quando ele nos fez ajoelhar diante de Washington, os novos mestres do mundo se esqueceram de combinar com os adversários, como recomendou um filósofo mais atilado, o mestre Garrincha. A globalização, planejada para consolidar o condomínio dos países centrais, sob a hegemonia ianque, mediante a recolonização imperial, trouxe o efeito contrário, promoveu a unidade política dos países atingidos,  e se voltou contra seus criadores. Isso explica a emersão dos Brics.


Foi em nome do futuro, das novas e poderosas forças humanas que se organizam, que a presidente falou em Nova Iorque.

por Mauro Santayana

 

sexta-feira, setembro 09, 2011

Deleuze!

domingo, setembro 04, 2011

Porque?


sexta-feira, setembro 02, 2011

A nona cruzada - 10 anos do 11 de Setembro


Em 1917, o general Allemby, comandante do exército britânico que ocupou a Palestina, proclamou ao atravessar os portões de Jerusalém: "Hoje terminaram as cruzadas". Três anos depois, outro general, o francês Gouraud, assim que suas tropas ocuparam Damasco, correu até o Mausoléu de Saladino e pronunciou uma frase que até hoje fere os ouvidos de árabes, sejam eles cristãos, muçulmanos ou judeus: "Voltamos... Saladino".

Os dois generais afogaram seus rastros com sangue, a exemplo de seus antecessores, os cruzados que, não satisfeitos em matar e estuprar, promoviam festins de canibalismo, como está fartamente documentado.

Confesso que reluto em crer que o terrível atentado contra o TWC tenha sido praticado por muçulmanos. Acredito que ele seja mais uma obra de fundamentalistas americanos ligados a Mc Veigh, o acusado de explodir o prédio de Oklahoma, porque um dos preceitos básicos do islamismo diz que, durante uma luta, as mulheres e as crianças são sagradas e devem ser poupadas. E o que não pode ser transportado não deve ser destruído.

O atentado ao TWT é a negação de tudo isso.

Me assusta também saber que as autoridades americanas estão mais preocupadas em produzir provas contra os muçulmanos do que investigar os reais autores do atentado. Sabe-se que a economia dos Estados Unidos vem minguando há algum tempo e que a indústria bélica, depois da Guerra do Golfo, necessita de novos campos de prova, já que o armamento utilizado para matar a população civil do Iraque (cifras independentes mencionam mais de 1 milhão de mortos) está se tornando obsoleto. Atualmente, a indústria bélica fatura cerca de 1 trilhão de dólares. Além de servir como espada de Dâmocles, serve para manter no poder governos títeres e autoritários, que não medem a brutalidade. São governos de todos os credos e sobrevivem graças à vassalagem. Sua irmã gêmea, a indústria do narcotráfico, fatura outro trilhão, que sustenta Wall Street. Ou alguém acha que se pode guardar 1 trilhão de dólares sob o colchão?

É verdade que, além da Inquisição, das duas guerras mundiais e das bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasaki, o Ocidente é responsável pela morte de milhões de pessoas pela fome e pela exclusão. Atualmente, o mundo está polarizado entre os que possuem e os excluídos. E quando os excluídos (que representam 80 por cento da humanidade) resolvem se organizar, como aconteceu durante o Fórum Social Mundial, no Brasil, a imprensa dos Estados Unidos os ignora olimpicamente, dedicando-lhes apenas três linhas, como generosamente fez o New York Times.

Hoje, vivemos sob a ditadura dos veículos de comunicação, cuja representante maior é a mídia dos EUA. É, sem dúvida, a maior empresa de press release do mundo. Ela, mais do que ninguém, é a imagem do Big Brother de Orwell. Se os americanos derrubam um avião civil egípcio, assassinando mais de trezentos passageiros, vale uma nota de duas linhas. Quando aviões americanos destroem um indústria farmacêutica no Sudão, ou atacam a população civil do Iraque durante o mês sagrado do Ramadã, os press releases inundam o mundo com o inexplicável. Se assassinam com bombas a filha de 5 anos de Kadhafi, mencionam-se falhas no ataque "cirúrgico". Quem mais, a não ser um governo arrogante, apoiado por uma imprensa títere, a falar em ataques "cirúrgicos" tentando equiparar assassinos a uma das profissões mais nobres como a dos médicos?

É muito mais do que uma questão de semântica.

É a cultura do dead or alive. Só mesmo quem não conhece a ideologia de um presidente WASP pode estranhar o abandono da conferência sobre o racismo em Durban. Ou o desprezo pelo Protocolo de Kioto ou a transformação do Alaska num enorme poço de petróleo. Isso sem falar no projeto Guerra das Estrelas e na manutenção da OTAN. Se não há mais o Pacto de Varsóvia, para que a OTAN? Só se for para manter os dois terços de excluídos em seus devidos lugares, ou seja, em currais denominados de fronteiras.

Bush e seus assessores entendem que só há uma maneira de recuperar a economia dos Estados Unidos e manter o poder sobre o mundo. Realizar a nona cruzada. Por isso, a paz não lhes interessa, caso contrário não manteriam no poder um terrorista e criminoso como Sharon, o Ariel que lava mais branco.

Quem é bin Laden?

"Nada, eles não sabem nada, nada querem saber.
Vês esses ignorantes, eles dominam o mundo."

Recorro a Omar Khayyam (1050-1122), amigo de Hassan As-Sabáh, inspirador de bin Laden, fundador da Confraria dos Assássin — plural de assás — (Al-Qá’ida), cujo significado é "fundamento". Assássin deu origem à palavra assassino em quase todas as línguas.

As-Sabáh era ismaelita, ramo xiita do islamismo, e vivia em Alamut, na Pérsia (Irã). Seus seguidores eram denominados de mártires, já que não abandonavam o local depois de executar o inimigo. Eram temidos porque não temiam a morte. Quando juravam alguém de morte, não descansavam enquanto não cumprissem a tarefa. Antes de executar a vítima na rua, nas mesquitas ou nos palácios, diziam que estavam ali para cumprir umafátwa. Executaram cruzados e mongóis. Os militantes da Al-Qá’ida, de bin Laden, respondem que estão prontos para se tornar mártires.

Outra semelhança é o local escolhido, as montanhas do Afeganistão, já que Alamut, que abrigava osassássin, era também uma montanha. Alamut significa o ninho da águia.

"Vocês serão iguais se puderem ser diferentes sem estar ameaçados de tratamento desigual."

A luz vem do Oriente, já diziam os sábios. Talvez por se lembrarem do governante muçulmano Jalaluddin Muhamad (1542-1605), um filósofo, que transformou o Industão (seus limites iam do Afeganistão até a baía de Bengala, e do Himalaia até o rio Godâvari) na Andaluzia do Oriente. Isso, para citarmos apenas um exemplo. Jalaluddin, que passaria para a posteridade com o nome de Akbar (o Maior), além de responsável pela tradução doMahabharata, abriu as portas de seu império para os pregadores do zoroastrimo, do jainismo e, num exemplo único de tolerância religiosa, pediu a seus escribas que traduzissem o Novo Testamento, na mesma época em que os cristãos se matavam entre si. Os católicos assassinando os protestantes na França, os protestantes assassinando os católicos na Inglaterra, enquanto Giordano Bruno ardia na fogueira em Roma.

Séculos depois, o Império Britânico invadia a região e apresentava o seu cartão de visita na figura de Warren Hastings (1732-1818), que, graças à indústria bélica da época, iniciou um massacre sem paralelo na história. Mais de 120 milhões de vítimas, maior até do que os massacres levados a cabo por espanhóis, portugueses e norte-americanos contra os naturais da terra, os denominados índios. E dos belgas, franceses e holandeses na África. Não satisfeito, Hastings vendeu o soberano Shah Alam II por 25 milhões de rúpias. Mais tarde, informado de que as princesas muçulmanas da região de Auda, mãe e filha, possuíam um tesouro de 75 milhões de rúpias, prendeu, torturou e estuprou-as. Libertou-as mediante o pagamento de 30 milhões de rúpias.

A "terra maravilhosa cujas riquezas e abundância nem a guerra, nem a peste e nem a opressão poderiam destruir", no dizer de alguns historiadores, a terra da concórdia, da paz e da integração de culturas e religiões tão diversas, como hinduístas, zoroastrianos, jainistas, budistas, fetichistas, cristãos católicos, ortodoxos armênios, se converteu, no reino do terror, da repressão e da colonização cultural sob os britânicos nos séculos 19 e 20.

Além de várias etnias, o Afeganistão possui vários dialetos e sua resistência aos invasores é histórica, a começar por Alexandre, o Grande. Outros povos tentaram invadir o país mas foram rechaçados.

Em 1842, durante a resistência contra os britânicos, mais de 16.000 invasores foram abatidos nas batalhas de Cabul, em 6 de janeiro, e Gandamak, no dia 13. A história registra que houve apenas um sobrevivente entre os britânicos: o cirurgião Brydon, que chegou cego ao forte de Jalalabad.

O mais recente confronto foi contra o poderoso exército soviético, que depois de quase dez anos de luta acabou abandonando o país.

No Alcorão está escrito que quem salva uma vida salva a humanidade e que Deus não mudará a condição dos homens se eles não mudarem o que está neles.

Não creio que o atentado tenha sido praticado por muçulmanos, mas, ao desencadear a nona cruzada,Bush estará cometendo uma agressão que provocará um efeito dominó mais devastador ainda do que o proposto pelo ex-secretário de Estado Henry Kissinger durante a guerra do Vietnã.

E o mundo jamais será o mesmo.
*Artigo escrito em 2001 para a Revista Caros Amigos por Georges Bourdoukan

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